|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRAGÉDIA EM CONGONHAS/CAUSAS
Para especialistas, só falha mecânica não explica acidente
Na opinião de técnicos ouvidos pela reportagem, acidente deve ter sido provocado por um conjunto de problemas
Outras falhas técnicas, falta de aderência na pista de Congonhas e eventuais erros do piloto são apontados como possíveis causas
DA REPORTAGEM LOCAL
O problema no reversor direito do Airbus-A320 da TAM
não seria suficiente, sozinho,
para provocar o acidente de
terça-feira, conforme especialistas ouvidos pela reportagem.
Só uma conjunção de fatores
pode explicar o acidente, incluindo ainda a possibilidade
de outros problemas técnicos,
de falta de aderência da pista de
Congonhas e de eventuais erros do piloto -que vão da decisão de pousar sob condição de
risco ao momento incorreto de
arremeter (subir novamente).
Técnicos apontam ainda que
a pista do aeroporto, além de
escorregadia sob chuva, é curta
e sem área de escape, algo que
potencializa as dificuldades.
A aeronave não depende dos
reversores para frear nas situações normais. Isso porque, embora usado praticamente em
todos os pousos do tipo, ele é só
um instrumento extra para ajudar a frenagem do avião, que é
projetado para parar com freios
das rodas e aerodinâmico.
Pedro Goldenstein, piloto há
26 anos, prefere não fazer comentários a respeito do acidente, mas dá a explicação técnica.
"Há sistema de freio de rodas, aerodinâmico e reversor,
que é só auxiliar. O avião tem
que ser capaz de parar mesmo
sem reversor. Todo mundo
aciona, até porque economiza
freio das rodas, mas não é computado no cálculo da performance do avião", afirma ele.
Há, porém, situações que poderiam potencializar as conseqüências de uma falha mecânica como essa. "Por exemplo, se
os problemas no reverso foram
somados à aquaplanagem", diz
Jorge Eduardo Leal Medeiros,
professor da Escola Politécnica
da USP (Poli/USP).
O piloto e engenheiro aeronáutico James Waterhouse,
professor da USP de São Carlos,
diz que, em Congonhas, se a
pista estiver úmida -chovia no
momento do acidente de terça-feira-, é difícil pousar sem uso
do reversor. Há diversos relatos
no dia do acidente apontando
que ela estava escorregadia.
"O acidente é uma reunião de
fatores contribuintes. Aquela
pista não oferece as condições
ideais, mas sozinha não é um
fator decisivo", diz Raul Francé
Monteiro, ex-piloto da TAM e
coordenador do curso de ciências aeronáuticas da Universidade Católica de Goiás.
"A pista com certeza tinha
problemas de aderência", diz
Apostole Lack Chryssatidis, diretor-presidente da Abetar
(Associação Brasileira de Empresas de Transporte Aéreo Regional), reforçando a avaliação
de que a causa do acidente não
resulta de um único fator.
(EVANDRO SPINELLI E ALENCAR IZIDORO)
Texto Anterior: Empresa diz que manual autoriza vôo sem o reversor Próximo Texto: Avião começou a virar para a esquerda logo após pousar, afirma órgão da FAB Índice
|