São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 2005

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ENGENHARIA DO CRIME

Alguns dos acusados do crime embarcaram de Fortaleza para São Paulo com parte dos R$ 164,8 milhões

Dinheiro do BC foi despachado em vôo

Reprodução
Imagem do aeroporto de Fortaleza mostra suspeitos de furto


KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Malas e pacotes foram usados para despachar até São Paulo, em um vôo comercial, parte dos R$ 164,8 milhões furtados do Banco Central em Fortaleza, no início do mês passado.
Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal à Justiça na sexta, o dinheiro foi levado até o aeroporto de Fortaleza em três táxis e uma picape e embarcado como encomenda comum, sem nenhum problema.
Alguns dos acusados de envolvimento no crime também embarcaram em um vôo comercial para a capital paulista, com mulheres e crianças, poucas horas depois de arrombar a caixa-forte.
Seis homens foram denunciados até agora pelo envolvimento no crime. Entre eles, três são considerados foragidos, justamente os que teriam participado da ação: Antônio Jussivan Alves dos Santos, conhecido como Alemão, Tadeu de Souza Matos e Marcos Rogério Machado de Morais.
Esse último é irmão de José Charles Machado de Morais, dono da JE Transporte, preso em Minas Gerais quando transportava até São Paulo, em um caminhão-cegonha, três carros recheados com notas de R$ 50, as mesmas levadas do Banco Central.
Também estão presos os irmãos José Elizomartes Fernandes e Francisco Dermival Fernandes, donos da revenda de carros Brilhe Car, onde a quadrilha comprou dez veículos por R$ 980 mil, à vista e em dinheiro.
Os três empresários presos não foram indiciados por furto qualificado como os demais, por não haver indícios de que tenham participado diretamente do assalto, mas por lavagem de dinheiro.
Até agora, o homem apontado como o possível líder da quadrilha, conhecido pelo nome falso de Paulo Sérgio de Souza, não foi identificado.

Túnel
O furto ao prédio do BC em Fortaleza aconteceu entre os dias 5 e 6 de agosto, durante a madrugada. Para chegar à caixa-forte, a quadrilha escavou um túnel de 80 metros, de uma casa a dois quarteirões do alvo. Segundo as investigações, havia sensores de impacto no cofre, mas que não foram acionados com o arrombamento. Ao contrário do que concluiu a sindicância interna do BC no último dia 8, para o Ministério Público houve sim a participação de algum funcionário da instituição para viabilizar o furto.
"O sucesso da ambiciosa empreitada deveu-se ao arguto planejamento, envolvendo (...) um braço de apoio dentro da instituição, a fornecer a planta ou indicativos sobre a base física da caixa-forte, especialmente a não existência de sensores no piso", diz a denúncia.
Imagens do circuito interno do aeroporto de Fortaleza e o testemunho de 22 pessoas foram usados para identificar os suspeitos.
Nas imagens do aeroporto, captadas no sábado, dia 6 de agosto, poucas horas após o término do furto, aparecem um homem moreno e careca, possivelmente Paulo Sérgio de Souza, e um outro de camisa amarela, apontado como Alemão.
Até agora, apenas pouco mais de 3% do dinheiro furtado, R$ 6 milhões, foram recuperados pela PF. As notas levadas, todas de R$ 50, eram antigas e não tinham numeração seqüencial nem qualquer controle do banco, o que dificulta o rastreamento.
Amanhã, os três empresários que estão presos serão ouvidos pelo juiz da 11ª Vara Federal, Danilo Fontenelle.


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