São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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Camelô sai da rua e reprova ex-parceiros

DA REPORTAGEM LOCAL

"É um absurdo o que os camelôs fazem com os comerciantes", diz Walter Figueiroa, 38, proprietário de uma loja que vende jeans na Galeria Presidente, na rua 24 de Maio, centro de São Paulo, dominada pelos ambulantes.
A declaração seria um desabafo comum não fosse o fato de Figueiroa ser camelô, proprietário de uma barraca localizada na mesma rua da qual reclama. O aluguel da loja foi fechado há um ano.
"Foi uma luta, mas hoje percebo que é melhor. O cliente não compra porque você está na rua, compra pelo preço", considera. "Logo eu encerro a venda na barraca, que atualmente só serve para atrair clientes para a loja", diz.
O depoimento desse quase ex-camelô endossa a tese do sociólogo Francisco José Ramirez, 27, defendida em abril na Universidade de São Paulo. "A maioria veio da economia formal e sonha em retornar para ela", afirma Ramirez.
Segundo ele, o passado dos ambulantes é feito de "idas e vindas". Figueiroa, por exemplo, é formado técnico em informática e trabalhou como encarregado da metalúrgica Paranapanema. "É um grupo muito heterogêneo, de pobres e ricos, de maioria migrante, mas que, em comum, tem o fato de não apreciar a informalidade promovida por eles próprios."

"Proto-capitalistas"
Para o economista Marcio Pochmann, secretário municipal de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade, a feirinha da madrugada reúne os três setores da economia informal analisados por ele em estudo da CUT e da Unicamp, publicado há dois anos.
Os setores são os "totalmente informais", como as mulheres que vendem café e chá em tabuleiros, os "proto-capitalistas", que são as fábricas de fundo de quintal, e os "capitalistas", que usam os camelôs para driblar o fisco.
O erro do poder público, avalia Pochmann, é tratar os três grupos como um só. "É preciso, claro, impedir que ambulantes concorram em desigualdade com o comércio formal. Mas uma aliança com universidades poderia tornar possível aproveitar a capacidade empreendedora desses fabricantes informais com transferência de tecnologia desconhecidas por eles", afirma o secretário.




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