São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CHUVAS E TROVOADAS

Prefeitura listou ações prioritárias em 2003; de 24 endereços visitados pela reportagem, só um teve obra concluída

Meta para área de risco é descumprida em SP

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Prefeitura de São Paulo não cumpriu o plano de intervenção em áreas de risco que a própria gestão Marta Suplicy (PT) prometeu para este ano. Milhares de famílias que vivem em favelas da capital entrarão no período de chuvas de verão olhando para o céu e correndo o risco de ter seu barraco inundado por córregos ou soterrado por deslizamentos.
É o caso da desempregada Maria Jerusa de Jesus, 54, que mora na rua Vicente José Cabral, na Penha (zona leste). Em documento intitulado "Política Municipal de Gerenciamento de Riscos Ambientais em Áreas de Ocupação Precária", datado de dezembro de 2003, a prefeitura incluiu a tortuosa viela onde ela mora na lista das vias que receberiam intervenções -nesse caso, estruturas de contenção e drenagem.
Faltando pouco mais de dois meses para o final do ano, nada foi feito e a casa de Maria Jerusa está literalmente à beira do abismo. "Isso sem falar no lixo acumulado, que atrai ratos que, de tão grandes, eu poderia montar e ir visitar minha família lá em Araripina", diz a pernambucana que veio tentar a sorte em São Paulo há mais de 20 anos.
Em 2002, houve 32 ações preventivas em áreas de risco da cidade. Em dezembro de 2003, o documento lista para aquele ano, em todas as regiões da capital, 53 intervenções das subprefeituras, departamentos da administração que cuidam de áreas da cidade.
Neste ano, a prefeitura separou R$ 20 milhões do Orçamento para obras em 162 locais. Mas até a semana passada apenas R$ 5,5 milhões (27,5%) haviam sido gastos. A administração promete usar R$ 15 milhões até o final do ano.
Em outra obra de infra-estrutura, a construção de dois túneis nos Jardins, área nobre da capital, a municipalidade gastou neste ano R$ 219,2 milhões -48% a mais do que o orçado. Foi uma despesa 11 vezes maior que o total previsto para as áreas de risco em favelas.
Já em publicidade a prefeitura deve encerrar o ano gastando todos os R$ 39 milhões previstos.
A reportagem escolheu aleatoriamente 24 dos 162 endereços e visitou os locais listados pela prefeitura como prioridade nas quatro regiões da cidade. Em 21 deles nada havia sido feito.
Só em um endereço, a rua Nilton M. Barros, no Campo Limpo (zona sul), a obra de estrutura de contenção estava concluída e não havia mais riscos aos moradores.

Obra parcial
Na rua Gustavo Paiva, no mesmo bairro, duas pontes de concreto livraram dez casas das inundações causadas pelo córrego, mas os vizinhos continuam sob risco neste verão. Já na avenida Massao Watanabe, na Casa Verde (zona norte), o muro de arrimo resolveu o problema de três residências, mas dezenas de casas na vizinhança continuam sob risco de deslizar morro abaixo.
Maria do Carmo Gomes, 59, mora em uma delas. Costureira, se aperta com os dez filhos em um barraco. Ela diz ter "chorado de esperança" quando, no início do ano, um engenheiro da prefeitura fez medições na rua.
"Eu não tenho medo das chuvas. Quem tem é o meu vizinho de baixo. Se a água invadir e o meu barraco cair, vou pra cima dele", conta Maria do Carmo.
Do outro lado da cidade, na rua Brás Corrêa, em Ermelino Matarazzo (zona leste), moradores ainda esperam as "obras de contenção de médio e grande porte" prometidas pela prefeitura.
Do documento da prefeitura consta ainda a realização de um outro projeto que beneficiaria moradores da favela Vila Nova Jaguaré, na zona oeste. É a reurbanização da região, dentro do programa Bairro Legal -que permanece no papel.
A Secretaria Municipal da Habitação diz já ter obtido os recursos necessários, por meio de um convênio com o Ministério das Cidades, para iniciar as obras. Espera, no entanto, o fim do período eleitoral para assinar os contratos.


Texto Anterior: Aviação: Mudança em aeroportos de MG é adiada
Próximo Texto: Outro lado: Obras são apenas parte das ações, diz secretaria
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.