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CHUVAS E TROVOADAS
Prefeitura listou ações prioritárias em 2003; de 24 endereços visitados pela reportagem, só um teve obra concluída
Meta para área de risco é descumprida em SP
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Prefeitura de São Paulo não
cumpriu o plano de intervenção
em áreas de risco que a própria
gestão Marta Suplicy (PT) prometeu para este ano. Milhares de famílias que vivem em favelas da
capital entrarão no período de
chuvas de verão olhando para o
céu e correndo o risco de ter seu
barraco inundado por córregos
ou soterrado por deslizamentos.
É o caso da desempregada Maria Jerusa de Jesus, 54, que mora
na rua Vicente José Cabral, na Penha (zona leste). Em documento
intitulado "Política Municipal de
Gerenciamento de Riscos Ambientais em Áreas de Ocupação
Precária", datado de dezembro de
2003, a prefeitura incluiu a tortuosa viela onde ela mora na lista das
vias que receberiam intervenções
-nesse caso, estruturas de contenção e drenagem.
Faltando pouco mais de dois
meses para o final do ano, nada
foi feito e a casa de Maria Jerusa
está literalmente à beira do abismo. "Isso sem falar no lixo acumulado, que atrai ratos que, de
tão grandes, eu poderia montar e
ir visitar minha família lá em Araripina", diz a pernambucana que
veio tentar a sorte em São Paulo
há mais de 20 anos.
Em 2002, houve 32 ações preventivas em áreas de risco da cidade. Em dezembro de 2003, o
documento lista para aquele ano,
em todas as regiões da capital, 53
intervenções das subprefeituras,
departamentos da administração
que cuidam de áreas da cidade.
Neste ano, a prefeitura separou
R$ 20 milhões do Orçamento para obras em 162 locais. Mas até a
semana passada apenas R$ 5,5
milhões (27,5%) haviam sido gastos. A administração promete
usar R$ 15 milhões até o final do
ano.
Em outra obra de infra-estrutura, a construção de dois túneis nos
Jardins, área nobre da capital, a
municipalidade gastou neste ano
R$ 219,2 milhões -48% a mais
do que o orçado. Foi uma despesa
11 vezes maior que o total previsto
para as áreas de risco em favelas.
Já em publicidade a prefeitura
deve encerrar o ano gastando todos os R$ 39 milhões previstos.
A reportagem escolheu aleatoriamente 24 dos 162 endereços e
visitou os locais listados pela prefeitura como prioridade nas quatro regiões da cidade. Em 21 deles
nada havia sido feito.
Só em um endereço, a rua Nilton M. Barros, no Campo Limpo
(zona sul), a obra de estrutura de
contenção estava concluída e não
havia mais riscos aos moradores.
Obra parcial
Na rua Gustavo Paiva, no mesmo bairro, duas pontes de concreto livraram dez casas das inundações causadas pelo córrego,
mas os vizinhos continuam sob
risco neste verão. Já na avenida
Massao Watanabe, na Casa Verde
(zona norte), o muro de arrimo
resolveu o problema de três residências, mas dezenas de casas na
vizinhança continuam sob risco
de deslizar morro abaixo.
Maria do Carmo Gomes, 59,
mora em uma delas. Costureira,
se aperta com os dez filhos em um
barraco. Ela diz ter "chorado de
esperança" quando, no início do
ano, um engenheiro da prefeitura
fez medições na rua.
"Eu não tenho medo das chuvas. Quem tem é o meu vizinho de
baixo. Se a água invadir e o meu
barraco cair, vou pra cima dele",
conta Maria do Carmo.
Do outro lado da cidade, na rua
Brás Corrêa, em Ermelino Matarazzo (zona leste), moradores ainda esperam as "obras de contenção de médio e grande porte" prometidas pela prefeitura.
Do documento da prefeitura
consta ainda a realização de um
outro projeto que beneficiaria
moradores da favela Vila Nova Jaguaré, na zona oeste. É a reurbanização da região, dentro do programa Bairro Legal -que permanece no papel.
A Secretaria Municipal da Habitação diz já ter obtido os recursos
necessários, por meio de um convênio com o Ministério das Cidades, para iniciar as obras. Espera,
no entanto, o fim do período eleitoral para assinar os contratos.
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