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Médico poderá fazer pós e residência ao mesmo tempo
Primeira instituição a oferecer o modelo será o Hospital do Câncer, de São Paulo
Para especialistas, há risco de sobrecarga; vantagem apontada é agilizar formação e manter o profissional em contato com a pesquisa
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Capes (fundação do Ministério da Educação que regulamenta a pós-graduação no
país) decidiu autorizar os médicos que fazem residência a cursarem ao mesmo tempo o mestrado ou o doutorado.
As principais vantagens
apontadas são a economia de
tempo para a formação e a possibilidade de manter os profissionais em atividades de pesquisa. Por outro lado, especialistas alertam para o risco de
uma sobrecarga dos residentes.
Isso porque a residência médica exige, obrigatoriamente,
60 horas semanais. Um curso
de doutorado costuma ocupar
mais de 12 horas semanais do
aluno (varia conforme a instituição ou o aluno).
A primeira instituição autorizada a oferecer o modelo de
residência com pós simultânea
é o Hospital do Câncer A.C. Camargo (Fundação Antônio Prudente), de São Paulo.
O anúncio oficial ocorrerá
nesta segunda-feira. Os residentes do hospital poderão
cursar, simultaneamente, o
doutorado em oncologia.
Dessa forma, o médico terá
completado a residência e o
doutorado em cinco anos (a
pós-graduação começa no segundo ano de residência). No
modelo tradicional, o médico
levaria sete anos (três de residência e quatro do doutorado).
A partir do pedido do Hospital do Câncer, a Capes resolveu
fazer um edital para conceder
bolsas a residentes de outras
instituições que se interessarem pelo programa. Segundo o
presidente da fundação, Jorge
Guimarães, o projeto será lançado em no máximo dez dias.
O valor da bolsa será equivalente ao pago para os demais
alunos de doutorado (R$ 1.916).
"A novidade com esse edital é
a Capes dizer que reconhece essa possibilidade", afirmou Guimarães. Só serão aceitos cursos
de pós-graduação avaliados pela Capes com conceitos 5, 6 ou 7
(os mais altos). Estão nesse patamar 83 dos 180 programas de
medicina do país.
Segundo o presidente da Associação Nacional de Médicos
Residentes, Daniel Silva Pereira, alguns residentes fazem a
pós-graduação simultaneamente hoje em dia, "mas as atividades não são articuladas, o
que torna quase impossível a
conclusão de ambas".
No caso do Hospital do Câncer, os alunos no doutoramento
dedicarão 12 horas semanais ao
curso, além das 60 horas obrigatórias da residência.
"A decisão da Capes, a princípio, é positiva. Mas as instituições precisarão ter cuidado para distribuir a carga horária,
porque pode haver sobrecarga", afirmou Pereira.
O secretário-executivo da
Comissão Nacional de Residência Médica (vinculada ao
MEC), Antônio Carlos Lopes,
se mostrou surpreso. "Essa autorização não foi discutida na
comissão. A minha impressão é
que o residente dificilmente
conseguirá cumprir as 60 horas
e mais a carga da pós."
A Capes afirmou que a consulta não era necessária porque
a medida não altera a residência, apenas flexibiliza a pós.
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