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Para técnicos, método seguro vale o preço
Engenheiro diz que risco menor e ganho de tempo justificam pagar quase US$ 6.000 a mais por metro de túnel com o "tatuzão"
Já professor da USP aponta lobby da indústria contra a escavação com explosivos e vê problemas no método que usa maquinário pesado
DA REPORTAGEM LOCAL
O geólogo Adalberto Aurélio
Azevedo estimou a diferença de
preço dos dois métodos de
abertura de túneis em seu doutorado. O metro linear do túnel
aberto com "tatuzão" custa
US$ 13.875; com o NATM, o
preço cai para US$ 8.000.
O preço mais alto compensa
porque a obra acaba antes, diz o
engenheiro Ricardo Telles, secretário do Comitê Brasileiro
de Túneis. "O "shield" é mais seguro e dez vezes mais rápido do
que o NATM", afirma. Segundo
ele, a superioridade dessa tecnologia pode ser visualizada
pelo seu emprego: há 27 "tatuzões" em uso em Xangai, dez
em Madri e cinco em Caracas.
O autor do doutorado sobre a
região que desmoronou é funcionário do IPT (Instituto de
Pesquisas Tecnológicas) e vai
integrar a comissão que analisará para o governo paulista as
causas do acidente -por isso
não pode se pronunciar sobre o
acidente. A Folha conversou
com o orientador do trabalho,
Fabio Taioli, professor do Instituto de Geociências da USP.
"É uma decisão complexa escolher entre esses dois métodos, mas, em caso de acidente,
o volume de terra que rompe
com o TBM é menor. Em tese,
o acidente com "tatuzão" seria
mais restrito", diz Taioli.
Por ocupar uma área menor,
o "tatuzão" pode provocar acidentes sem causar reflexos na
superfície, como as rachaduras.
Segundo Taioli, a maioria
dos túneis no mundo é construída pelo método NATM (túnel mineiro), mas a escolha é
"sempre política". Para as finanças públicas, o NATM pode
ser vantajoso porque possibilita a abertura de várias frentes
simultâneas de trabalho.
Com o "tatuzão", pode-se
usar duas máquinas no caso da
linha 4, mas a sua montagem,
extremamente complexa, poderia atrasar a obra: "É preciso
analisar quanto custaria para a
cidade o atraso do Metrô em
seis meses", afirma Taioli.
Tarcísio Barreto Celestino,
presidente do Comitê Brasileiro de Túneis e professor da
USP em São Carlos, fez parte
da banca, mas não concorda
com a conclusão da tese.
"O trabalho tem muitos méritos, mas segue uma tendência
internacional de privilegiar o
TBM ["tatuzão'] sem enfatizar
os problemas desse método. O
TBM é uma indústria bilionária e consegue produzir uma literatura internacional que defende essa técnica", pondera
Celestino. O TBM, segundo ele,
teve problemas graves na cidade do Porto e em Cingapura.
Celestino diz que "não faz
sentido" a afirmação de que
não haveria problemas nas rochas se o túnel da linha 4 tivesse sido construído com TBM.
"O túnel da estação em que
ocorreu o acidente teria de ser
feito em NATM por causa do
diâmetro de 20 metros", diz.
Não faria sentido comprar a
máquina de R$ 30 milhões para escavar uma estação.
(ROBERTO PELLIM E MARIO CESAR CARVALHO)
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