São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Modelos se dizem vítimas de patrulha contra a anorexia

Tops afirmam que preconceito contra a profissão aumentou depois da morte de jovem de 21 anos anoréxica, em novembro

"Eu estava no shopping e começaram a apontar para mim e gritar: "você vai morrer, você vai morrer'", conta Eliana Wirch, 19


Alexandre Schneider/Folha Imagem
Michelli Provensi, 21, que se queixa do preconceito contra modelos, desfila no Fashion Rio


NINA LEMOS
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

"Antes modelo era chamada de burra. Agora acham que a gente é burra e anoréxica." O desabafo de Bárbara Fialho, 21, nos corredores do Fashion Rio não é o único protesto saído da boca de tops no evento.
Depois da morte de Ana Carolina Reston, de 21 anos, em novembro do ano passado, em decorrência da anorexia, as moças que desfilam nas passarelas reclamam dos olhares de patrulha dirigidos aos seus pratos de comida e se consideram vítimas de preconceito. "Acham que somos um vírus da anorexia", reclama a modelo Michelli Provensi, também de 21 anos.

Revolta
A top já teve que sair às pressas de um restaurante japonês onde jantava com outras colegas modelos.
"Estávamos em um grupo comendo um monte e uns playboys da mesa ao lado começaram a falar alto: "ah, depois elas vão para o banheiro vomitar'", afirma Michelli, que diz estar revoltada com a maneira como tem sido tratada por desconhecidos na rua.
"Antes as pessoas falavam: "ah, você é modelo, então teve que parar de estudar cedo". Hoje falam: "você é modelo, então não come e é doente, não é?" Já teve uma mulher que me perguntou como era viver sem comer", diz Michelli.

Quase agressão
"As pessoas só chegam perto da gente para saber se somos anoréxicas ou o que comemos naquele dia", faz coro Eliana Wirch, 19, que também já se sentiu agredida por populares. "Eu estava no shopping e começaram a apontar para mim e gritar: "você vai morrer, você vai morrer". Uma coisa apavorante", conta.
De acordo com ela e outras modelos ouvidas pela Folha, esse tipo de coisa não acontecia antes da notícia da morte de Ana Carolina Reston. "As pessoas me olham de jeito esquisito", diz Eliana.

IMC e ACM
Nos camarins, as modelos, além de se revoltarem, fazem piada sobre o tema.
"Perguntam qual é o nosso IMC, e a gente responde: "não, a gente nunca votou no ACM'", ri Michelli, que também brinca de entrevistar amigas com perguntas como: "Você conhece a anorexia? Acha que ela é top?", conta Eliana.
A pergunta: "e aí, minha filha, você comeu direito?", também aumentou entre familiares de modelos, para a chateação das últimas.
"É só você comer pouco um dia para todo mundo achar que você tem alguma coisa", afirma Juliana Arroyo, 19, que sentiu os olhares para seus pratos de comida quando viajou para passar o final do ano com a família na cidade de Monte Azul Paulista, no interior de São Paulo.
Carol Francischini, modelo que deixou de fazer um desfile por não ter levado a documentação exigida (entre eles um atestado de saúde, que foi conseguido depois, de acordo com ela, no posto médico da Fashion Rio) também sente olhares de patrulha: "Aumentou muito o número de pessoas que perguntam se eu comi direito, mas quem me conhece sabe que eu me cuido".

Doença?
Já quem não conhece direito as moças... "Viajei para Santa Catarina, e umas tias ficavam olhando para o meu prato para ver se eu comia", afirma a modelo.
"O meu pai é professor e as alunas começaram a perguntar para ele se eu estava doente e ia morrer", conta Michelli Provensi, antes de olhar para a reportagem da Folha e pedir: "explica que a gente está revoltada e não é anoréxica?"


Texto Anterior: Depoimento: "Disseram que a casa está escorregando"
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.