São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 2007

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"A maioria de meus amigos de infância morreu"

DA SUCURSAL DO RIO

O pintor de carros Jaaziel Marinho da Silva, 24, conta que de 12 a 15 amigos com quem cresceu na favela do Caju (zona norte do Rio) foram assassinados porque se envolveram com o tráfico de drogas.
"Eu poderia ter ido [trabalhar com traficantes]", admitiu Silva, durante entrevista à Folha, na oficina da concessionária onde faz um estágio.
Antes de se matricular no curso na escola Recofia, Silva vivia de biscates esporádicos de pintor, geralmente com o pai, que trabalha em obra e com quem ele ainda mora.
Silva estava desempregado havia anos. Ele estudou só até a 8ª série do ensino fundamental e não tinha nenhuma perspectiva de trabalho.
Agora, Silva acha que encontrou um caminho. Pretende se especializar na nova profissão, fazer cursos e, quem sabe mais adiante, completar os estudos e chegar a uma faculdade.
"A maioria dos meus colegas da época de criança morreu. De 12 a 15 morreram porque viraram traficantes. A vida na comunidade não é fácil", afirmou.
A seguir, os principais trechos da entrevista:

 

FOLHA - Você tem 24 anos e só agora surge uma chance real de ingresso no mercado de trabalho em uma profissão reconhecida e de permanência no serviço. Por que demorou tanto?
JAAZIEL MARINHO DA SILVA -
Eu cheguei a trabalhar como auxiliar de serviços gerais, mas eu fui mandado embora.

FOLHA - Como você conseguiu sobreviver?
SILVA -
De vez em quando eu trabalhava com obra, fazia pintura. Às vezes aparecia serviço.

FOLHA - E quando não aparecia?
SILVA -
Olha, eu moro com meus pais. Acho que isso me ajudou muito. Meu pai também é pintor, às vezes me chamava.

FOLHA - Você mora em uma favela bastante pobre no Caju. Não pensou alguma vez em, diante da falta de oportunidades, trabalhar no tráfico?
SILVA -
A maioria dos meus colegas da época de criança morreu. De 12 a 15 morreram porque viraram traficantes. A vida na comunidade não é fácil.

FOLHA - Mas por que você não seguiu os passos deles?
SILVA -
Vou ser sincero, poderia ter ido. Cheguei a pensar, mas não tive esse envolvimento. Vai ver é porque eu sou evangélico.


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