São Paulo, domingo, 21 de março de 2004

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Lara, 15, cobrava dívida no lugar do namorado

DA REPORTAGEM LOCAL

Lara (nome fictício), 15, não teve dúvida quando percebeu que poderia tomar um calote. Sozinha, colocou o revólver calibre 38 na cintura e foi cobrar a dívida. Segundo ela, o caloteiro poderia comprometer a credibilidade dos "negócios".
O namorado, de 22 anos, com quem dividia as tarefas em uma boca-de-fumo em Caçapava (112 km de SP), costumava se ausentar. As saídas eram para buscar droga e abastecer o local.
Nessas ocasiões, Lara assumia o controle. Repassava drogas para traficantes da região e arrecadava o dinheiro. Se atrasassem o pagamento na sua "gestão", ela mesmo cobrava sozinha a dívida, apesar dos protestos do namorado, que temia uma reação do devedor.
"Eu sempre fui de correr atrás e a gente precisava do dinheiro", afirma Lara. Nas cobranças que fez sozinha -seis ou sete-, a garota não precisou usar seu revólver 38. Os devedores eram homens. Em todas às vezes, voltou com o dinheiro ou com objetos dos devedores -geralmente televisores e aparelhos de som roubados.
Decidida, Lara diz que entrou para a criminalidade aos 13 anos. "Fiz tudo por dinheiro." Primeiro, ela deixou a casa dos pais -eram usuários de droga, segundo ela- e depois a casa dos avós. Com o namorado, vendia principalmente crack, mas não usava. Preferia cocaína, para ficar acordada de madrugada para vender a droga.
Lara e o namorado estavam em casa quando policiais invadiram o local. Ela está na Febem há três meses. Mas, segundo a garota, o namorado não foi preso -ela acha que pode ter havido um acerto com os policiais, no qual ela não foi beneficiada.
O abandono do namorado também pesa na avaliação de Lara sobre os últimos anos de sua vida. "Não quero mais saber dele [do namorado]. Só quero voltar para a casa dos meus avós e deixar essa vida", diz a garota.


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