São Paulo, domingo, 21 de março de 2004

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Ana, 14, pediu ao "patrão" para matar rival

DA REPORTAGEM LOCAL

A ordem de morte já estava dada e o executor, definido. Mas, para Ana (nome fictício), 14, aquilo era uma questão de honra e ela não deixaria que ninguém fizesse por ela. Pediu, chorou até que o "patrão" -chefe do tráfico na região- permitiu.
Ela mesma mataria a garota, outra traficante também menor de idade, que tinha furtado dois quilos de maconha mais uma quantia em dinheiro de sua casa.
Ana circulou de braços dados com a garota pelo centro de Monte Mor (120 km de SP), com outros traficantes, até uma área deserta. Ali, matou a rival com golpes de facão. Os amigos ajudaram Ana a enterrar o corpo.
Dias depois, denunciada por outra traficante, foi presa. Policiais invadiram sua casa e acharam drogas e armas. O "patrão" não estava em casa e escapou. Na Febem há quatro meses, ela diz que é responsável pelo crime, apesar de ter desculpas para minimizar sua situação. Ana era a namorada do "patrão".
"Estava nervosa com o que tinha acontecido, com muita raiva. Fui eu quem quis matar", diz a interna, que estudou até a 7ª série do ensino fundamental.
Ana já decidia os rumos de sua vida desde os 12 anos, quando passou a vender maconha e cocaína em uma praça da cidade. Chegava a lucrar R$ 200 por dia. Gastava tudo em roupas e festas. "Eu queria vida fácil, viver nas baladas", diz a garota.
Na praça onde vendia drogas conheceu o "patrão", que tinha 27 anos. Ganhou confiança e, nas saídas dele, chegou a assumir os negócios. Dava ordens por telefone, cobrava outros traficantes. Passou a andar na rua com um revólver calibre 38.
Aos domingos, fazia o almoço na casa da mãe e dos quatro irmãos mais novos. Na saída, deixava R$ 100. Segundo ela, a mãe não fazia nenhuma pergunta.
"Tudo [o que aconteceu] na minha foi decisão minha. Mas se fosse hoje, eu pensaria duas vezes antes de fazer", diz.


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