São Paulo, domingo, 21 de março de 1999

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Faculdade em SP vai formar especialistas em flora medicinal

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

Cerca de 50 alunos fazem hoje o exame vestibular para a primeira faculdade de biologia com especialização em plantas medicinais. Para um país que tem uma das mais importantes floras medicinais do mundo, a iniciativa chega com bastante atraso.
"Será mais um esforço para proteger o que é nosso", diz a bióloga Célia Senna, coordenadora do curso de ciências biológicas.
A escola está sendo apresentada como a primeira faculdade a formar biólogos especializados na pesquisa genética de plantas medicinais. Trata-se da Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo, Facis, ligada ao Instituto Brasileiro de Estudos Homeopáticos. Depois de quatro anos na fila, seu funcionamento foi autorizado pelo MEC em agosto do ano passado.
Grande parte dos medicamentos alopatas são feitos a partir de princípios ativos de plantas ou sintetizados a partir deles. Segundo os professores da nova escola, existem cerca de 600 plantas comercializadas hoje para uso fitoterápico. Fitoterapia é o tratamento de doenças por meio de plantas.
Os futuros biólogos "vão estar preparados para melhorar a capacidade fitoterápica das plantas, do plantio ao cultivo", diz a diretora Maria de Lourdes Gomes Brunini. Entre os candidatos estão profissionais de saúde e pessoas que já lidavam com plantas medicinais. O curso tem 40 vagas e duração de quatro anos.
Várias universidades em todo o país já têm há anos disciplinas e cursos de especialização voltados para plantas medicinais. O avanço nas pesquisas, no entanto, não impediu que grupos estrangeiros patenteassem o princípio ativo de plantas brasileiras ou que só se desenvolvem aqui. Por exemplo, as propriedades ativas da espinheira-santa e do ipê-roxo, utilizadas no combate a alguns tipos de câncer, já pertencem ao Japão.
Parte das plantas utilizadas na fitoterapia européia são originárias das matas brasileiras.
Em outra frente, o serviço público de saúde vem procurando incentivar o uso da fitoterapia como forma eficiente e barata de tratamento. Em Goiânia, o Hospital de Medicina Alternativa, mantido pelo SUS, cultiva e prepara as plantas medicinais que já receitou aos cerca de 100 mil pacientes atendidos nos últimos 12 anos.
Na semana passada, o Laboratório Flora Medicinal, considerado o primeiro laboratório fitoterápico do país, editou o livro "Memento Terapêutico". A publicação é endereçada aos médicos e trata da fitoquímica, farmacologia e controle de qualidade em drogas vegetais. Os especialistas também estão preocupados com a preservação das plantas medicinais no país. "Estão destruindo indiscriminadamente nossas ervas daninhas, e muitas delas são medicinais", diz Tsugui Tomioka Nilsson, bióloga especializada no cultivo de plantas medicinais.


Faculdade de Ciências da Saúde, tel. (011) 5084-3141; Memento Terapêutico, tel. 0800-240282



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