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São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2003

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ACIDENTE

Amiga, que desistiu de fazer passeio de barco porque não tinha maiô, contou à família sobre morte de pedagoga

Parentes souberam de naufrágio pela TV

DO "AGORA"
DA FOLHA VALE

"Vimos [o acidente] pela TV, mas não acreditávamos que ela estivesse em um passeio desses." Foi assim que o médico Pedro Awada, 39, resumiu o clima de consternação que marcou o enterro da pedagoga Célia Ludovici, 49, uma das 12 vítimas do naufrágio em Cabo Frio.
Segundo Awada, cunhado da vítima, a pedagoga havia viajado ao Rio de Janeiro com a amiga Maria Cristina Bonuci, 48, na noite de quinta. "Ficamos sabendo da morte [de Célia] por volta das 20h de ontem [anteontem], por meio da amiga, que ligou após ter reconhecido o corpo."
Sua cunhada não sabia nadar, disse o médico. Já a amiga desistiu de fazer o passeio de barco- que passava pelo canal do Itajuru e ia até a ilha do Papagaio- porque não tinha maiô. A pedagoga era solteira e não tinha filhos.
"A família está chocada. Nunca imaginávamos passar por uma catástrofe dessas", lamentou o médico. O corpo dela foi enterrado por volta das 17h de ontem, no cemitério Vila Assunção, em Santo André, no ABC paulista.
Quase que simultaneamente à cerimônia em que Célia Ludovici foi sepultada em Santo André, o corpo da recreadora Juliana Franjoso, 19, era enterrado no cemitério da Lapa, bairro da zona oeste da capital paulista.
Os pais de Franjoso, que também estavam na embarcação e sofreram ferimentos leves, foram ao velório da filha, que cursava o primeiro ano de pedagogia. De acordo com um colega de Franjoso que não quis se identificar, a estudante sabia nadar. Uma tia afirmou que ela bateu a cabeça no barco quando a onda o virou.
Juliana Franjoso trabalhava havia seis meses em um hipermercado na Freguesia do Ó (zona norte) e ganhava R$ 400 como recreadora de crianças.

"Muito rápido"
Depois do enterro da mãe, Maria Eugênia Grand Champ, 56, no cemitério municipal de Taubaté (SP), Régis Eduardo, 25, um dos sobreviventes do acidente com o Tona Galea, afirmou aos jornalistas que "foi tudo muito rápido".
"Só me lembro que estava sentado ao lado da minha mãe quando o barco virou. Na hora, consegui ficar em pé e me agarrar ao barco. Quando olhei para o lado, não vi mais minha mãe", disse.
Segundo ele, logo depois o barco afundou e ele conseguiu pegar um colete salva-vidas que apareceu boiando. "Não demorou até aparecer uma lancha que me levou para a praia. Após uns minutos, chegou outro barco com duas pessoas e dois corpos, com os rostos cobertos. Reconheci que um dos corpos era o de minha mãe só pelas roupas. Foi horrível."
Segundo o analista de sistemas da Embraer, a viagem era um sonho de sua mãe. "Ela era viúva e sempre falou em conhecer o Rio de Janeiro. Como sou filho único, fui com ela. Pagamos R$ 17, cada um, pelo passeio de barco, que não estava incluído no pacote. Foi o preço da vida da minha mãe."
Ele disse que recebeu toda a atenção da agência que organizou a viagem, a CVC Turismo. "Como perdi toda a minha bagagem no mar, foi complicado até a liberação do corpo, porque estava sem documento algum. Mas a agência se encarregou e resolveu tudo."
A família de Helena Campelo de Souza, de São José dos Campos (SP), não quis comentar o ocorrido. Uma sobrinha da vítima, Tânia Campelo, disse apenas que a tia tinha viajado, a passeio, com uma irmã e o cunhado. A irmã sobreviveu, mas o cunhado, Alexandre Boueres, está desaparecido.
"Ainda não paramos para pensar em nada. Só estamos aguardando a chegada do corpo", disse.
A previsão era que o velório começasse às 22h de ontem. Souza era casada e tinha duas filhas.
Outras duas vítimas eram de São Paulo: Rita Leão Costa, 55, e Maria Casseti, 62. Outras cinco eram mineiras: Magda Dutra, 38, a filha Joyce Dutra, 5, Marilande de Souza, 26, Joanita Duarte, 44, e Raimunda da Silva, 43. Maria da Conceição Vieira, 58, era do Rio.


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