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Viagem é até 60% mais demorada no pico
Mesmo sem acidentes ou imprevistos, percurso de 13 km entre as estações Carrão e Consolação do metrô leva até 46min
Reportagem fez o percurso 4 dias seguidos em 4 horários diferentes; em outro trecho, trajeto leva 1min30s à tarde e até 3min durante o pico
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma viagem de metrô em
São Paulo não precisa de acidentes nem de imprevistos para ser 60% mais demorada do
que deveria -e incalculavelmente mais sofrida.
Essa discrepância de tempo
foi a maior verificada durante a
semana pela Folha no trajeto
entre as estações Carrão (zona
leste) e Consolação (região
central), percorrido durante
quatro dias, em quatro horários diferentes, sendo dois de
pico e dois intermediários.
Na média, a diferença foi de
30%, com as composições levando de 30 a 40 minutos para
percorrer o trajeto de 13 quilômetros, conforme o horário.
A viagem mais demorada foi
do Carrão à Consolação, com
46min15s, começando às 7h da
terça-feira. Com 27min49s, no
mesmo sentido, a viagem mais
rápida ocorreu a partir das 15h
de quinta. Em nenhuma das
viagens na hora do rush a reportagem da Folha conseguiu
lugar nos assentos.
Em um veículo que corre em
pista exclusiva e sem cruzamentos, a variação é determinada principalmente pelo engarrafamento de pessoas que
se forma nas estações de transferência, onde penam para embarcar em trens já lotados. Em
média, são quatro ou cinco
composições para conseguir
entrar e partir do Carrão -às
7h, na ida- e da Sé -na volta,
iniciada às 18h na Consolação.
No Carrão, 11 linhas de ônibus descarregam passageiros
em dois terminais ao lado da
estação e é preciso se amontoar
para entrar em composições
que já vêm lotadas de Itaquera.
Em toda a linha vermelha, a
dificuldade para embarcar causa um efeito dominó que atrasa
a viagem. Como muitos ficam
com parte do corpo para fora,
as portas não fecham e o trem
não parte. O que vem atrás precisa reduzir a velocidade -ou
até parar- para esperar.
O trecho entre Carrão e Tatuapé, feito em um minuto e
meio às 15h, chega a demorar
mais de três minutos às 7h.
Antes de mudar de linha, a
estação do empurra-empurra é
o Brás, onde embarcam passageiros vindos dos trens da
CPTM. Quem fica próximo à
porta se arrisca a ser jogado para fora da composição.
A situação é piorada pela falta de barras de apoio na parte
central dos corredores e junto
às portas, problema específico
da linha vermelha. Quem não
consegue lugar junto aos bancos fica sem ter onde segurar e
tenta se equilibrar, precariamente, forçando o teto.
Quente e abafada
A linha verde costuma ser a
mais vazia. Cheia ou deserta,
porém, é sempre quente e abafada. Enquanto a linha vermelha corre sobre a superfície no
percurso para a zona leste, na
linha azul o ar-condicionado é
reforçado, nas estações, com
aparelhos nas paredes laterais
e, dentro das composições, no
teto, junto às portas.
Já na linha verde, fechada
sob a avenida Paulista, não há o
mesmo reforço nas estações e,
nos trens, ele é muito raro.
Na volta, à tarde, a mudança
para a linha vermelha é mais
complicada, pois, à direita do
corredor de baldeação, há outra
entrada para a plataforma.
Resta tentar um embarque
mais breve pela esquerda, mas
também é difícil.
Quem quase consegue embarcar, mas pára bem na porta,
fica à frente da faixa amarela de
segurança. Com a fila formada,
é impossível retroceder. Resta
ficar imóvel para não correr o
risco de ser atingido pelo trem e
torcer para que ninguém atrás
resolva forçar passagem: o menor empurrão pode jogar o passageiro nos trilhos.
Apesar da lotação, o resto da
viagem pelo menos é mais rápido, pois o movimento é quase
todo de desembarque.
(JOÃO PEQUENO)
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