São Paulo, domingo, 21 de maio de 2006

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GUERRA URBANA/VÍTIMA DO PCC

Wilson de Jesus Santos, que chegou a receber um prêmio por bravura, já fora alvo de um ataque havia 2 anos

Policial não sobrevive ao segundo atentado

DIEGO ZANCHETTA
DO "AGORA"

Em 2004, dentro de um bar em Parelheiros, na zona sul da capital, o cabo da Polícia Militar Wilson de Jesus Santos, conhecido na comunidade como "Salgadinho", devido à semelhança com o pagodeiro homônimo, estava no banheiro. Era o seu dia de folga.
Mesmo sem farda, Santos, duas décadas de corporação, acabou reconhecido como policial por três assaltantes que estavam no local. Foi alvejado por dois disparos, mas ainda conseguiu acertar um dos bandidos, que morreu. O policial ficou internado por quase um mês, escapou da morte e recebeu o Prêmio Takaoka de melhor policial do ano da zona sul por "ato de bravura", em votação feita por mais de 2.000 PMs.
No último dia 13, Santos vestia farda enquanto atendia a uma suposta ocorrência e não escapou de uma nova investida criminosa. Foi o oitavo dos 23 PMs mortos nos atentados atribuídos ao PCC.
Na emboscada na avenida Engenheiro Marsilac, o cabo de 37 anos foi metralhado por oito homens que saíram de um matagal encapuzados. Kátia Justino, 29, a PM que acompanhava o cabo, e uma menina de 12 anos que estava na calçada, também foram atingidas -a policial, após passar por cirurgia na quarta-feira, segue internada em observação; a criança passa bem.
Entre amigos, familiares e conhecidos, Santos é descrito, em tom unânime, como um "apaixonado pela PM", um homem que estava sempre sorrindo. "O mundo podia estar acabando que o "Negão" estava bem-humorado. Era disparado o melhor PM de toda a zona sul, só não gostavam dele os bandidos", relatou Irivaldo Alves, 45, escrivão do DP de Parelheiros e amigo de Santos desde 1988.
No Jardim São Bernardo (zona sul), onde morava, os vizinhos falam emocionados sobre o cabo. "Era daquelas pessoas que se você batesse na casa dele às 3h, pedindo para levar alguém ao hospital, ele colocava todo mundo no seu carro", relatou um vizinho.
Na base da 2ª Companhia da PM onde Santos trabalhava, o mural das equipes já não tem mais a sua foto. "Está muito dolorido, o cabo Wilson era uma pessoa querida, talvez um dos poucos profissionais que ninguém tem um argumento contrário à conduta", afirmou o sargento João Assis Dias, 46.
Criado na periferia da zona sul, Santos foi a referência para os outros dois irmãos, que também viraram policiais. "O maior orgulho do meu pai [os filhos policiais] virou preocupação e drama para toda a família", contou um dos irmãos, que pediu sigilo de identidade.
Além de ser considerado o melhor policial da zona sul em 2004, Santos, no mesmo ano, recebeu a medalha PM Zito de 1º grau, uma das principais condecorações da corporação concedida a policiais que se destacam na comunidade dos bairros onde atuam -apenas 200 PMs entre 170 mil de todo o Estado têm o mérito com o grau mais alto da condecoração.
Separado, o policial militar era pai de uma filha de 11 anos e esperava a aposentadoria, segundo o irmão, para voltar à sua terra natal.


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