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DANUZA LEÃO
O medo
Quem mora no Rio ou em São Paulo pode ir para onde for, mas não se sentirá seguro em lugar nenhum do mundo
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DIZEM QUE O oposto da vida
não é a morte, mas o medo.
Então estamos praticamente mortos, pois temos convivido
com medo, muito medo, há dias.
Não que isso seja novidade; já nos
acostumamos a sair de casa o menos possível, só mesmo para o necessário, sem bolsa, sem brinco,
sem anel, sem relógio, nada, para
não correr o risco de um garoto de
dez anos nos abordar, com a mão
debaixo da camisa, fingindo estar
armado, e levar tudo. Fingindo?
Mas e se não for fingimento e ele
estiver mesmo com um revólver?
Ouve-se dizer que existem cidades onde ainda se pode andar nas
ruas tranqüilamente, sem ficar
olhando em volta para ver se alguém com ar suspeito está nos seguindo. Mas quem mora no Rio ou
em São Paulo pode ir para onde for,
mas não se sentirá seguro em lugar
nenhum do mundo. O medo já está
entranhado dentro de nós, e não vamos nos libertar dele tão cedo. Talvez nunca mais.
De quem é a culpa? Lula diz que é
dos governos passados; a oposição
diz que o PT cortou as verbas pró
segurança; o Congresso se une e assina um projeto de lei contra a violência, como se isso resolvesse o
problema, e a responsabilidade do
bloqueio dos sinais de celulares nos
presídios passa a ser das operadoras
de telefonia. E por que não fizeram
isso antes de morrerem mais de
cem? E se houver falha no sistema,
com mais rebeliões, será culpa das
operadoras ou das autoridades?
Aliás, as mesmas autoridades que
jamais conseguiram impedir que os
celulares circulassem livremente
nos presídios.
Dar educação aos jovens é necessário, mas é preciso, também, dar o
exemplo. Um garoto que toma conhecimento do que se passa nos
mais altos escalões do poder vai
querer ser honesto, ter um emprego de 8h às 6h da tarde para ganhar
R$ 500 reais por mês? Muito melhor cair no tráfico, viver uma vida
de aventuras, ter um certo poder e
descolar uma grana com uns poucos papelotes de cocaína no bolso.
Quando esse jovem vê um homem
matar sua ex-namorada com um tiro nas costas, seguido de outro tiro
na cabeça, com ela já caída, é condenado a 19 anos de prisão e tem direito a recorrer em liberdade, vai
achar o que da vida e da Justiça?
O medo de uma punição severa
pode impedir que muitos crimes
sejam cometidos, mas no Brasil
ninguém é castigado por nada; pode
sair roubando e matando e continuar a viver como se nada fosse. E
os 12 mil presos que tiveram sete
dias de indulto para comemorar o
Dia das Mães em casa? Isso fora
Natal, Ano Novo e Semana Santa?
Dá para acreditar? Não, este não é
um país sério.
Há uma coisa que eu invejo nos
criminosos que fazem com que vivamos num terror permanente:
eles, ao contrário de nós, não têm
medo de nada; nas autoridades, eles
praticamente mandam, e ainda exigem usar camisas amarelas nos
presídios e ter TVs para verem a
Copa. Mesmo trancados dentro de
casa o medo é permanente e, não
sei bem por que, estou sentindo
muita falta de Boris Casoy.
@ - danuza.leao uol.com.br
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