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GUERRA URBANA / CRIME ORGANIZADO
Unidas por parcerias pontuais, facções têm objetivos distintos, diz Marina Maggessi
Politizado, PCC representa uma ameaça nacional pela força com que amealha os seguidores; CV, passional, enfrenta racha no comando
PCC e CV não se aliarão jamais, afirma policial
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Com base em investigações
sobre facções criminosas desenvolvidas nas últimas duas
décadas, a inspetora Marina
Maggessi, da DRE (Delegacia
de Repressão a Entorpecentes), afirma que jamais ocorrerá uma união institucional entre as facções paulista PCC
(Primeiro Comando da Capital) e carioca CV (Comando
Vermelho). Isso porque "o CV
nunca vai ser massa de manobra do PCC", acredita.
"Eles têm uma facção histórica, uma coisa bastante emblemática. São aliados até a página
2, como a gente diz na polícia",
disse a inspetora à Folha.
Até a página 2 significa que a
aproximação esboçada no
princípio da década limitou-se
a parcerias comerciais localizadas, como a venda ou a troca de
armas e drogas. Tudo acertado
entre criminosos das facções,
não por líderes.
Maggessi considera que, na
essência, PCC e CV "são muito
diferentes". "O objetivo do CV
é vender droga. Já o PCC é voltado para assalto a banco, seqüestro. O discurso do PCC é
politizado, rebuscado, de igualdade social. O Comando, não. O
Comando quer saber de ganhar
dinheiro com tóxico."
Na análise de Maggessi, no
estágio atual o CV guarda apenas, de suas características iniciais, uma espécie de orgulho.
A facção está desmantelada,
com os principais líderes na cadeia ou no cemitério. Do lado
de fora, jovens já não aceitam o
comando de veteranos presos.
"As facções do Rio são varejistas baratas, bregas. Eles [os
chefes locais] se perderam no
consumo, passaram a cheirar
cocaína. O crack entra agora no
Rio porque a maioria das favelas não têm mais grana nem para bancar cocaína. Os chefões
estão presos ou mortos. Quase
não têm mais ingerência sobre
essa garotada. A garotada não
quer saber de ordem."
O orgulho identificado pela
inspetora seria o mesmo que
um torcedor sente por seu time. "A instituição a que pertencem é a facção. Eles matam
e morrem por causa disso, mais
do que qualquer xiita."
Para ela, diferentemente do
CV, o "PCC pode ameaçar o
Brasil todo". "O PCC tem discurso para a massa carcerária,
é politizado, tem candidato a
deputado federal. O PCC é
questão de soberania nacional.
O Brasil não pode deixar São
Paulo sozinha. A penetração do
PCC na massa carcerária é assustadora. Mas no Rio não
acontecerá nunca, por causa do
CV e das outras facções. Elas
têm orgulho de ser o que são."
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