São Paulo, domingo, 21 de maio de 2006

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GUERRA URBANA / CRIME ORGANIZADO

Unidas por parcerias pontuais, facções têm objetivos distintos, diz Marina Maggessi

Politizado, PCC representa uma ameaça nacional pela força com que amealha os seguidores; CV, passional, enfrenta racha no comando

PCC e CV não se aliarão jamais, afirma policial

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Com base em investigações sobre facções criminosas desenvolvidas nas últimas duas décadas, a inspetora Marina Maggessi, da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes), afirma que jamais ocorrerá uma união institucional entre as facções paulista PCC (Primeiro Comando da Capital) e carioca CV (Comando Vermelho). Isso porque "o CV nunca vai ser massa de manobra do PCC", acredita.
"Eles têm uma facção histórica, uma coisa bastante emblemática. São aliados até a página 2, como a gente diz na polícia", disse a inspetora à Folha.
Até a página 2 significa que a aproximação esboçada no princípio da década limitou-se a parcerias comerciais localizadas, como a venda ou a troca de armas e drogas. Tudo acertado entre criminosos das facções, não por líderes.
Maggessi considera que, na essência, PCC e CV "são muito diferentes". "O objetivo do CV é vender droga. Já o PCC é voltado para assalto a banco, seqüestro. O discurso do PCC é politizado, rebuscado, de igualdade social. O Comando, não. O Comando quer saber de ganhar dinheiro com tóxico."
Na análise de Maggessi, no estágio atual o CV guarda apenas, de suas características iniciais, uma espécie de orgulho. A facção está desmantelada, com os principais líderes na cadeia ou no cemitério. Do lado de fora, jovens já não aceitam o comando de veteranos presos.
"As facções do Rio são varejistas baratas, bregas. Eles [os chefes locais] se perderam no consumo, passaram a cheirar cocaína. O crack entra agora no Rio porque a maioria das favelas não têm mais grana nem para bancar cocaína. Os chefões estão presos ou mortos. Quase não têm mais ingerência sobre essa garotada. A garotada não quer saber de ordem."
O orgulho identificado pela inspetora seria o mesmo que um torcedor sente por seu time. "A instituição a que pertencem é a facção. Eles matam e morrem por causa disso, mais do que qualquer xiita."
Para ela, diferentemente do CV, o "PCC pode ameaçar o Brasil todo". "O PCC tem discurso para a massa carcerária, é politizado, tem candidato a deputado federal. O PCC é questão de soberania nacional. O Brasil não pode deixar São Paulo sozinha. A penetração do PCC na massa carcerária é assustadora. Mas no Rio não acontecerá nunca, por causa do CV e das outras facções. Elas têm orgulho de ser o que são."


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