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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/HOMENAGEM
Em silêncio, 200 pessoas aplaudem vítimas
Protesto no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, foi convocado pela internet; manifestantes deitaram no chão
Em SP, perto do local do acidente, 50 pessoas participaram de ato ecumênico; ramalhetes no chão lembravam os mortos
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Houve silêncio nas filas de
check-in das companhias aéreas. Foi quando um grupo de
cerca de 200 pessoas tomou
um pedaço do saguão do aeroporto Salgado Filho e aplaudiu
por um minuto as vítimas do
vôo JJ 3054 da TAM. O primeiro protesto contra o acidente
ocorreu em Porto Alegre, um
pouco depois das 13h de ontem.
Não durou mais que meia hora
e foi pautado por silêncio.
A convocação foi via internet.
O publicitário Daniel Martins,
32, disparou mensagens para
200 endereços de seu mailing,
anteontem. Disse que tomou a
decisão numa conversa com
dois amigos, na mesa de bar, no
dia do acidente. "Estávamos lá,
tristes, e bateu a vontade de
lançar um grito contra essas
mortes anunciadas."
Martins mandou imprimir
os nomes de 130 das vítimas e
distribuiu a estudantes, aposentados (três deles da Varig),
familiares de uma das vítimas e
pessoas comuns que quiseram
homenagear as vítimas.
Por cinco minutos, todos se
deitaram no chão, com os nomes sobre o peito. Por outros
cinco minutos, permaneceram
de costas. De pé, em seguida,
puxaram as palmas de um minuto. O público acompanhou.
Gislaine Dornelles, 28, chorava ao final. Vestia uma camiseta com a foto da irmã Eliane,
33, estampada numa camiseta.
Ao lado da foto, a frase "as pessoas entram em nossas vidas
por acaso, mas não é por acaso
que elas permanecem". "Ela
gostava desse pensamento."
Elaine, uma autônoma que
fazia o serviço de levar encomendas de avião para empresas
(uma espécie de motogirl aérea), embarcou no avião da
TAM para uma viagem bate-volta a São Paulo. Lá se reuniria
ao pai, e os dois voltariam a
Porto Alegre no próximo vôo.
Das autoridades e da companhia dona do avião "só espero
justiça", disse a mãe de Eliane,
Ana Claudete Soares Dornelles.
Ela se atrasou para o protesto.
Trazia pelas mãos o casal de filhos de Eliane, Vinícius, 7, e
Eduarda, 5. A menina sorria,
sem entender o motivo da aglomeração. O menino escondia o
rosto no corpo da avó.
Congonhas
Em São Paulo, nos arredores
do acidente com o Airbus-A320, ramalhetes deixados no
chão lembravam os mortos.
Duas mulheres traziam mais
flores e uma senhora carregava
a imagem de Nossa Senhora.
"A partir dessa tragédia, que
todos possamos ficar mais alerta", disse D. Pedro Luiz Stringhini, bispo auxiliar da Diocese
de São Paulo, minutos antes de
participar de um ato ecumênico em solidariedade às vítimas.
D. Odilo Scherer, arcebispo de
São Paulo, afirmou que o sofrimento das famílias atingia toda
a sociedade.
O ato teve a presença de
aproximadamente 50 pessoas,
além de quase 20 jornalistas.
No saguão do aeroporto de
Congonhas, a reação das pessoas era tímida. A psicóloga
Paula Bastos, 26, e sua mãe, Lucia Garcia, 53, advogada, protestavam solitárias. Bordaram
camisetas com a frase "Temos
direito a vida", vestiram cachecóis iguais e abriram uma faixa.
Quem estava no aeroporto nem
parou para olhar.
Ana, 68, costureira que não
quis dizer o sobrenome, vizinha do aeroporto, pretende
passar de casa em casa recolhendo adesões para um abaixo-assinado para restringir o
movimento das aeronaves. "Há
38 anos ouço os aviões na minha cabeça, mas não eram tão
grandes assim."
(MARI TORTATO, SIMONE IGLESIAS, FLÁVIO ILHA, JOÃO CARLOS MAGALHÃES e VERENA FORNETTI)
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