São Paulo, sábado, 21 de julho de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/HOMENAGEM

Em silêncio, 200 pessoas aplaudem vítimas

Protesto no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, foi convocado pela internet; manifestantes deitaram no chão

Em SP, perto do local do acidente, 50 pessoas participaram de ato ecumênico; ramalhetes no chão lembravam os mortos

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Houve silêncio nas filas de check-in das companhias aéreas. Foi quando um grupo de cerca de 200 pessoas tomou um pedaço do saguão do aeroporto Salgado Filho e aplaudiu por um minuto as vítimas do vôo JJ 3054 da TAM. O primeiro protesto contra o acidente ocorreu em Porto Alegre, um pouco depois das 13h de ontem. Não durou mais que meia hora e foi pautado por silêncio.
A convocação foi via internet. O publicitário Daniel Martins, 32, disparou mensagens para 200 endereços de seu mailing, anteontem. Disse que tomou a decisão numa conversa com dois amigos, na mesa de bar, no dia do acidente. "Estávamos lá, tristes, e bateu a vontade de lançar um grito contra essas mortes anunciadas."
Martins mandou imprimir os nomes de 130 das vítimas e distribuiu a estudantes, aposentados (três deles da Varig), familiares de uma das vítimas e pessoas comuns que quiseram homenagear as vítimas.
Por cinco minutos, todos se deitaram no chão, com os nomes sobre o peito. Por outros cinco minutos, permaneceram de costas. De pé, em seguida, puxaram as palmas de um minuto. O público acompanhou.
Gislaine Dornelles, 28, chorava ao final. Vestia uma camiseta com a foto da irmã Eliane, 33, estampada numa camiseta. Ao lado da foto, a frase "as pessoas entram em nossas vidas por acaso, mas não é por acaso que elas permanecem". "Ela gostava desse pensamento."
Elaine, uma autônoma que fazia o serviço de levar encomendas de avião para empresas (uma espécie de motogirl aérea), embarcou no avião da TAM para uma viagem bate-volta a São Paulo. Lá se reuniria ao pai, e os dois voltariam a Porto Alegre no próximo vôo.
Das autoridades e da companhia dona do avião "só espero justiça", disse a mãe de Eliane, Ana Claudete Soares Dornelles. Ela se atrasou para o protesto. Trazia pelas mãos o casal de filhos de Eliane, Vinícius, 7, e Eduarda, 5. A menina sorria, sem entender o motivo da aglomeração. O menino escondia o rosto no corpo da avó.

Congonhas
Em São Paulo, nos arredores do acidente com o Airbus-A320, ramalhetes deixados no chão lembravam os mortos. Duas mulheres traziam mais flores e uma senhora carregava a imagem de Nossa Senhora.
"A partir dessa tragédia, que todos possamos ficar mais alerta", disse D. Pedro Luiz Stringhini, bispo auxiliar da Diocese de São Paulo, minutos antes de participar de um ato ecumênico em solidariedade às vítimas. D. Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, afirmou que o sofrimento das famílias atingia toda a sociedade.
O ato teve a presença de aproximadamente 50 pessoas, além de quase 20 jornalistas.
No saguão do aeroporto de Congonhas, a reação das pessoas era tímida. A psicóloga Paula Bastos, 26, e sua mãe, Lucia Garcia, 53, advogada, protestavam solitárias. Bordaram camisetas com a frase "Temos direito a vida", vestiram cachecóis iguais e abriram uma faixa. Quem estava no aeroporto nem parou para olhar.
Ana, 68, costureira que não quis dizer o sobrenome, vizinha do aeroporto, pretende passar de casa em casa recolhendo adesões para um abaixo-assinado para restringir o movimento das aeronaves. "Há 38 anos ouço os aviões na minha cabeça, mas não eram tão grandes assim." (MARI TORTATO, SIMONE IGLESIAS, FLÁVIO ILHA, JOÃO CARLOS MAGALHÃES e VERENA FORNETTI)


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