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"Até hoje ninguém da TAM me ligou", afirma pai de vítima
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mariana, 22, estava começando a seguir os passos do pai,
o médico intensivista Mauricio
Pereira, 50. Desde o começo do
ano, fazia medicina em Porto
Alegre e estava feliz. Era querida pelos colegas de faculdade,
que adoravam os seus bolos, e
vinha passar férias na casa da
mãe, em São Paulo.
Por causa de uma prova, atrasou seu vôo e se tornou uma das
187 pessoas que estavam no
Airbus-A320. Agora, seu pai
quer a punição dos culpados e
disse que irá até o fim em busca
de indenização, para que o caso
sirva de exemplo. " Vou processar a TAM, o governo federal,
quem for responsável pela
morte da minha filha. Será minha missão", diz. O dinheiro arrecadado, afirma, irá para uma
fundação, como sonhava a filha. Leia abaixo:
FOLHA - Qual foi a última vez que o
senhor falou com sua filha?
MAURICIO PEREIRA - Foi na segunda-feira à noite. Ela sempre ligava para mim e dizia: "Oi, gatão". Como eu queria ter gravado a voz dela... Falei que ia
mandá-la de volta para Porto
Alegre de ônibus porque o
avião estava muito caro...
FOLHA - Como o senhor ficou sabendo do acidente?
MAURICIO - Vi na internet. Primeiro, divulgaram que era o
vôo 3060. Fiquei aliviado. Mas
logo disseram que era o 3054.
Daí, tive certeza de que tinha
perdido minha filha. Pelas imagens, era impossível haver sobreviventes. Mesmo assim,
passei duas horas tentando falar no celular dela.
FOLHA - A TAM ligou para o senhor
para confirmar a morte?
MAURICIO - Até hoje, ninguém
me ligou. Passamos a madrugada tentando ligar no 0800, que
só dava ocupado. Quando conseguimos, disse ao atendente
que era pai de uma vítima e dei
o nome dela. O moço perguntou: "O senhor é o Mauricio?".
Respondi: "Então você está
confirmando a morte da minha
filha". E ele: "Não, veja bem,
não foi isso que eu quis dizer".
Foi patético.
FOLHA - Vocês ficarão no hotel até
a identificação do corpo?
MAURICIO - Não sairemos daqui
sem ela. Já entregamos material, como exames médicos e
odontológicos, para os legistas.
FOLHA - A TAM já conversou sobre
indenização com vocês?
MAURICIO - Não, mas vou até o
fim nesta história. Estamos organizando um site de parentes
das vítimas. É importante que
ninguém feche acordo agora.
Estamos orientando as famílias
que perderam seus chefes a pedirem tutela antecipada. Assim, podem se manter com um
adiantamento e não precisam
de acordos. Vou processar a
TAM, o governo, quem for responsável pela morte da minha
filha. Será minha missão. Não é
pelo dinheiro, é pelo exemplo.
A indenização vai para a fundação que abriremos em homenagem à Mari. Ela queria ajudar
doentes carentes.
FOLHA - Como o senhor viu a imagem do Marco Aurélio Garcia?
MAURICIO - Nem consigo explicar o que senti na hora. Perdi o
chão. É um nojo, é tão absurdo
que nem demissão adiantaria.
Essa turma está destruindo
nosso país.
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