São Paulo, sábado, 21 de julho de 2007

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"Até hoje ninguém da TAM me ligou", afirma pai de vítima

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Mariana, 22, estava começando a seguir os passos do pai, o médico intensivista Mauricio Pereira, 50. Desde o começo do ano, fazia medicina em Porto Alegre e estava feliz. Era querida pelos colegas de faculdade, que adoravam os seus bolos, e vinha passar férias na casa da mãe, em São Paulo. Por causa de uma prova, atrasou seu vôo e se tornou uma das 187 pessoas que estavam no Airbus-A320. Agora, seu pai quer a punição dos culpados e disse que irá até o fim em busca de indenização, para que o caso sirva de exemplo. " Vou processar a TAM, o governo federal, quem for responsável pela morte da minha filha. Será minha missão", diz. O dinheiro arrecadado, afirma, irá para uma fundação, como sonhava a filha. Leia abaixo:

 

FOLHA - Qual foi a última vez que o senhor falou com sua filha?
MAURICIO PEREIRA -
Foi na segunda-feira à noite. Ela sempre ligava para mim e dizia: "Oi, gatão". Como eu queria ter gravado a voz dela... Falei que ia mandá-la de volta para Porto Alegre de ônibus porque o avião estava muito caro...

FOLHA - Como o senhor ficou sabendo do acidente?
MAURICIO -
Vi na internet. Primeiro, divulgaram que era o vôo 3060. Fiquei aliviado. Mas logo disseram que era o 3054. Daí, tive certeza de que tinha perdido minha filha. Pelas imagens, era impossível haver sobreviventes. Mesmo assim, passei duas horas tentando falar no celular dela.

FOLHA - A TAM ligou para o senhor para confirmar a morte?
MAURICIO -
Até hoje, ninguém me ligou. Passamos a madrugada tentando ligar no 0800, que só dava ocupado. Quando conseguimos, disse ao atendente que era pai de uma vítima e dei o nome dela. O moço perguntou: "O senhor é o Mauricio?". Respondi: "Então você está confirmando a morte da minha filha". E ele: "Não, veja bem, não foi isso que eu quis dizer". Foi patético.

FOLHA - Vocês ficarão no hotel até a identificação do corpo?
MAURICIO -
Não sairemos daqui sem ela. Já entregamos material, como exames médicos e odontológicos, para os legistas.

FOLHA - A TAM já conversou sobre indenização com vocês?
MAURICIO -
Não, mas vou até o fim nesta história. Estamos organizando um site de parentes das vítimas. É importante que ninguém feche acordo agora. Estamos orientando as famílias que perderam seus chefes a pedirem tutela antecipada. Assim, podem se manter com um adiantamento e não precisam de acordos. Vou processar a TAM, o governo, quem for responsável pela morte da minha filha. Será minha missão. Não é pelo dinheiro, é pelo exemplo. A indenização vai para a fundação que abriremos em homenagem à Mari. Ela queria ajudar doentes carentes.

FOLHA - Como o senhor viu a imagem do Marco Aurélio Garcia?
MAURICIO -
Nem consigo explicar o que senti na hora. Perdi o chão. É um nojo, é tão absurdo que nem demissão adiantaria. Essa turma está destruindo nosso país.


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