São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 2002

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TRANSPORTE

Petista que dirige viações nega fraude, rejeita retomar linhas e diz que intervenção da SPTrans deve causar falência

Grupo de ônibus buscará indenização da prefeitura

DA REPORTAGEM LOCAL

O petista William Ali Chaim, 38, presidente do grupo de ônibus Romero Niquini, segundo maior de São Paulo, é acusado pela administração Marta Suplicy de fraudar a prestação de contas da arrecadação do sistema de transporte -irregularidade que levou a prefeitura a romper os contratos, no início de setembro, com as empresas que ele administra.
Em entrevista, Chaim, que é ligado ao alto escalão do PT, admite que as viações sob sua direção cometeram "erro administrativo", mas nega ter havido desvios.
Desde que os contratos foram rompidos pela prefeitura, os 900 veículos e as garagens das empresas do grupo Niquini passaram ao controle da SPTrans (São Paulo Transporte). Ele diz que não quer mais receber de volta as linhas, mas resolver a situação na Justiça.
Chaim considera "temerária" a administração que a SPTrans faz de suas viações, a qual, para ele, pode levá-las à falência e a uma perda superior a R$ 200 milhões.
O grupo que Chaim passou a dirigir em julho passado comprou neste ano a Cliba, empresa do setor de limpeza urbana que foi uma das doadoras da campanha de Marta à prefeitura. Conforme noticiou a Folha ontem, Chaim diz ter sido indicado ao cargo pelo secretário dos Transportes, Carlos Zarattini. (ALENCAR IZIDORO)

Folha - A prefeitura, ao romper os contratos de Niquini, disse que houve fraude na prestação de contas. O que o sr. diz sobre a acusação?
William Ali Chaim -
A acusação é inconsistente. Digo isso com base no relatório da própria SPTrans, que diz que não houve prejuízo ao sistema de remuneração.

Folha - Mas como é explicada a diferença na prestação de contas?
Chaim -
Não é uma coisa estranha ao sistema. O que está em jogo é ele [Zarattini" afirmar que houve desvio, quando, na verdade, houve uma informação diferenciada. Mas nós informamos a diferença, que foi descontada.

Folha - Vocês informaram a diferença quanto tempo depois?
Chaim -
No dia seguinte. Eles sabiam da diferença, mas não sabemos explicar por que a medida foi tomada quase 30 dias depois.
Se houve um problema administrativo, e nós não estamos questionando isso, que se diga a verdade. Mas, se fosse má-fé, nós poderíamos ter burlado e maquiado os relatórios.

Folha - O sr. acha que há alguma perseguição da prefeitura?
Chaim -
Eu quero me ater exclusivamente à secretaria dos Transportes, porque foi de lá que saiu a medida precipitada, sem considerar as consequências. Mas não houve perseguição. Nós inclusive notificamos a SPTrans da administração temerária que estão fazendo nas nossas empresas, sem pagar os fornecedores, podendo comprometer nosso patrimônio.

Folha - O sr. teria interesse hoje em receber as linhas de volta?
Chaim -
Nosso maior interesse é provar nossa inocência, provar o exagero cometido pelo secretário.

Folha - E se eles falassem que querem devolver...
Chaim -
Quando eles foram fazer a intervenção, ninguém nos chamou para negociar. Agora não dá para falar que querem devolver. Queremos discutir na Justiça.

Folha - O grupo já pensou quanto pode pedir de indenização?
Chaim -
Os advogados já estão vendo os prejuízos. Já levamos ao âmbito judicial e de lá não sairemos mais. Há uma ameaça extremamente pertinente de as empresas virem a falir. Nosso patrimônio supera R$ 200 milhões.

Folha - Como o sr. se sente ao ser acusado por um governo do PT?
Chaim -
Não estou em uma situação desconfortável. Primeiro que eu não acho que é o PT, que é o governo que fez a acusação. Foi um membro do governo, que está na condição de secretário.

Folha - O grupo Niquini financiou alguma campanha neste ano?
Chaim -
O grupo não financiou nenhuma campanha, de nenhum nível, de nenhum partido.

Folha - Esse fato pode ter levado a alguma represália?
Chaim -
Em absoluto. O grupo não tinha recursos, estava tentando se manter no sistema.


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