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TRANSPORTE
Petista que dirige viações nega fraude, rejeita retomar linhas e diz que intervenção da SPTrans deve causar falência
Grupo de ônibus buscará indenização da prefeitura
DA REPORTAGEM LOCAL
O petista William Ali Chaim,
38, presidente do grupo de ônibus
Romero Niquini, segundo maior
de São Paulo, é acusado pela administração Marta Suplicy de
fraudar a prestação de contas da
arrecadação do sistema de transporte -irregularidade que levou
a prefeitura a romper os contratos, no início de setembro, com as
empresas que ele administra.
Em entrevista, Chaim, que é ligado ao alto escalão do PT, admite que as viações sob sua direção
cometeram "erro administrativo", mas nega ter havido desvios.
Desde que os contratos foram
rompidos pela prefeitura, os 900
veículos e as garagens das empresas do grupo Niquini passaram ao
controle da SPTrans (São Paulo
Transporte). Ele diz que não quer
mais receber de volta as linhas,
mas resolver a situação na Justiça.
Chaim considera "temerária" a
administração que a SPTrans faz
de suas viações, a qual, para ele,
pode levá-las à falência e a uma
perda superior a R$ 200 milhões.
O grupo que Chaim passou a dirigir em julho passado comprou
neste ano a Cliba, empresa do setor de limpeza urbana que foi
uma das doadoras da campanha
de Marta à prefeitura. Conforme
noticiou a Folha ontem, Chaim
diz ter sido indicado ao cargo pelo
secretário dos Transportes, Carlos Zarattini.
(ALENCAR IZIDORO)
Folha - A prefeitura, ao romper os
contratos de Niquini, disse que
houve fraude na prestação de contas. O que o sr. diz sobre a acusação?
William Ali Chaim - A acusação é
inconsistente. Digo isso com base
no relatório da própria SPTrans,
que diz que não houve prejuízo ao
sistema de remuneração.
Folha - Mas como é explicada a diferença na prestação de contas?
Chaim - Não é uma coisa estranha ao sistema. O que está em jogo é ele [Zarattini" afirmar que
houve desvio, quando, na verdade, houve uma informação diferenciada. Mas nós informamos a
diferença, que foi descontada.
Folha - Vocês informaram a diferença quanto tempo depois?
Chaim - No dia seguinte. Eles sabiam da diferença, mas não sabemos explicar por que a medida foi
tomada quase 30 dias depois.
Se houve um problema administrativo, e nós não estamos
questionando isso, que se diga a
verdade. Mas, se fosse má-fé, nós
poderíamos ter burlado e maquiado os relatórios.
Folha - O sr. acha que há alguma
perseguição da prefeitura?
Chaim - Eu quero me ater exclusivamente à secretaria dos Transportes, porque foi de lá que saiu a
medida precipitada, sem considerar as consequências. Mas não
houve perseguição. Nós inclusive
notificamos a SPTrans da administração temerária que estão fazendo nas nossas empresas, sem
pagar os fornecedores, podendo
comprometer nosso patrimônio.
Folha - O sr. teria interesse hoje
em receber as linhas de volta?
Chaim - Nosso maior interesse é
provar nossa inocência, provar o
exagero cometido pelo secretário.
Folha - E se eles falassem que
querem devolver...
Chaim - Quando eles foram fazer
a intervenção, ninguém nos chamou para negociar. Agora não dá
para falar que querem devolver.
Queremos discutir na Justiça.
Folha - O grupo já pensou quanto
pode pedir de indenização?
Chaim - Os advogados já estão
vendo os prejuízos. Já levamos ao
âmbito judicial e de lá não sairemos mais. Há uma ameaça extremamente pertinente de as empresas virem a falir. Nosso patrimônio supera R$ 200 milhões.
Folha - Como o sr. se sente ao ser
acusado por um governo do PT?
Chaim - Não estou em uma situação desconfortável. Primeiro
que eu não acho que é o PT, que é
o governo que fez a acusação. Foi
um membro do governo, que está
na condição de secretário.
Folha - O grupo Niquini financiou
alguma campanha neste ano?
Chaim - O grupo não financiou
nenhuma campanha, de nenhum
nível, de nenhum partido.
Folha - Esse fato pode ter levado
a alguma represália?
Chaim - Em absoluto. O grupo
não tinha recursos, estava tentando se manter no sistema.
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