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SAÚDE
País é um dos três que têm mais de um terço da população feminina esterilizada; no mundo, método é usado por 20% das mulheres
Brasil está entre "campeões" de laqueadura
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Índia, o Brasil e a China lideram o ranking mundial de mulheres esterilizadas, segundo levantamento divulgado pela Divisão Populacional da ONU (Organização
das Nações Unidas) na semana
passada. Nesses países, um terço
(33,3%) ou mais das mulheres casadas são laqueadas. Em todo o
mundo, a ligação das trompas é o
método contraceptivo usado por
20% do público feminino.
A Índia é a líder absoluta no uso
da laqueadura, adotada por 80%
das mulheres casadas.
O relatório da ONU não cita o
percentual exato de mulheres
brasileiras nessa situação. A última PNDS (Pesquisa Nacional de
Demografia em Saúde), feita pelo
Ministério da Saúde em 1996,
mostra que 44% das mulheres
brasileiras em união estável são
laqueadas. Um quinto delas optou pelo método com menos de
25 anos, o que passou a ser proibido no país a partir de 1999.
A situação é mais grave no Norte e no Nordeste, onde metade das
mulheres em idade reprodutiva
opta pela esterilização definitiva.
Motivos
Segundo Tânia Lago, coordenadora do Programa da Saúde da
Mulher do Ministério da Saúde,
há razões distintas para explicar a
a alta incidência da laqueadura
nesses países.
Para ela, enquanto na Índia e na
China há programas governamentais que incentivam e subsidiam a cirurgia, no Brasil a opção
pode ser atribuída às dificuldades
de acesso a outros métodos anticoncepcionais até a década de 80.
Somente a partir de 1984 é que a
pílula anticoncepcional começou
a ser distribuída gratuitamente na
rede pública de saúde.
Hoje, além de receber anticoncepcionais orais e preservativos,
os municípios acima de 50 mil habitantes têm direito a receber DIU
(Dispositivo Intra-Uterino) e anticoncepcional hormonal injetável, segundo Lago.
A coordenadora acredita que
ainda vai demorar para a laqueadura deixar de ser o método contraceptivo mais utilizado no país.
"É uma questão cultural. Muitas
mulheres, por desconhecerem os
outros métodos reversíveis, querem se livrar dos efeitos colaterais
indesejáveis da pílula e da obrigação de tomá-la diariamente."
Lago diz que, em Estados como
o Rio Grande do Sul e São Paulo,
vem ocorrendo uma diminuição
das operações de laqueadura, embora não haja números atuais que
demonstrem a tendência.
Para o médico Luiz Eduardo Diniz, 51, coordenador do serviço de
reprodução humana do Hospital
Pérola Bygnton, é necessário que
o governo se empenhe em orientar a população sobre os meios reversíveis de esterilização.
Segundo Diniz, muitos casais
arrependidos procuram serviços
de reprodução assistida na tentativa de reverter a laqueadura ou a
vasectomia (leia texto nesta pág.).
O estudo da ONU mostra que,
embora a esterilização masculina
(vasectomia) seja mais segura,
mais rápida e mais barata, só é
adotada por 4% dos casais. Apenas em poucos países, como a Nova Zelândia, o Reino Unido e a
Holanda, há mais homens esterilizados do que mulheres.
A Nova Zelândia é o país campeão em número de homens vasectomizados: um em cada cinco
são esterilizados.
Pesquisadores de Blangadesh, o
oitavo país mais populoso do
mundo, já procuram se inspirar
na política de planejamento familiar da Nova Zelândia para difundir o mesmo método entre a população. No Brasil, o número de
vasectomizados não chega a 10%.
Planejamento
Outro dado do estudo que impressiona: em um universo de 1
bilhão de casais, 350 milhões não
têm acesso a serviços de planejamento familiar ou não se interessam em planejar suas famílias. No
Brasil, a PNDS mostra que cerca
de 50% das mulheres que foram
mães entre 1990 e 1995 tiveram
uma gravidez não planejada.
Depois da laqueadura, o método contraceptivo mais popular
entre as mulheres do mundo é o
DIU (dispositivo intra-uterino),
adotado por 15% delas, seguido
da pílula, com 8%.
Outros métodos, como injeções
e tabelinhas, são os preferidos de
10% da população feminina.
Nos EUA, menos de 1% das mulheres escolhe o DIU como forma
de evitar a gravidez. É o país com
o menor índice de adesão a essa
forma de contracepção.
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