São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 2008

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Mídia exagerou e fez com que criminoso se visse como um herói, afirma professor

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Passado o cárcere privado, uma pergunta se volta aos próprios meios de comunicação: até que ponto a veiculação de entrevistas ao vivo com o criminoso contribuiu para o desfecho trágico do caso? Para o professor da pós-graduação da PUC-SP Norval Baitello Jr, doutor em distúrbios da imagem e estudioso do assunto há 20 anos, a mídia "exacerbou a psicopatia que estava em jogo" e fez com que o captor se visse como herói. Leia abaixo trechos da entrevista.

FOLHA - Como o senhor analisa o papel desempenhado pela mídia no cárcere privado de Santo André?
NORVAL BAITELLO JR
- Acho que foi bastante equivocado, desde o começo. Mas isso talvez se deva a um equívoco básico, que é o de que a mídia tem de informar a qualquer custo. E esse fetiche da informação coloca qualquer notícia no mesmo patamar.

FOLHA - Até que ponto a veiculação de entrevistas ao vivo e declarações do seqüestrador contribuíram para o desfecho trágico do caso?
BAITELLO JR
- Acredito que esse fetiche da informação a qualquer custo não passa de espetacularização. Se confunde espetacularização com informação porque a espetacularização vende mais do que a notícia.

FOLHA - A mídia realçou os traços emocionais da tragédia?
BAITELLO JR
- A mídia exacerbou a megalomania, a psicopatia e a loucura que estava ali em jogo.

FOLHA - Os repórteres e apresentadores não saíram do seu papel, que é informar, ao negociar e falar diretamente com o criminoso?
BAITELLO JR
- Todo mundo colocou os pés pelas mãos.

FOLHA - Qual o limite para a cobertura dos meios de comunicação?
BAITELLO JR
- Não existe um limite. Os meios de comunicação têm de cuidar também da sua própria imagem. Esse caso foi péssimo para a sustentabilidade dos próprios veículos.

FOLHA - As TVs e os jornais não fizeram uma glamourização da atividade criminosa?
BAITELLO JR
- Uma vez que ele aparece na televisão, passa a se ver como um herói.

FOLHA - A mídia não aprende com seus próprios erros?
BAITELLO JR
- Falta um acordo tácito da própria mídia. À medida em que há uma escalada, em que o concorrente mostra cenas fortes, o jornal é coagido. É preciso estabelecer limites.

FOLHA - Isso parece ser o modelo americano de cobertura.
BAITELLO JR
- O modelo europeu tem sido muito mais cuidadoso. Isso é totalmente americano. Por isso se vê lá uma escalada da violência.


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