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Brasileira acusada de fazer sexo é absolvida
Jovem de 15 anos fora condenada nos Emirados Árabes a 6 meses de prisão
Corte de apelação anulou sentença inicial; a adolescente tinha sido julgada como adulta com base na lei islâmica
Fotos Marcelo Ninio/Folhapress
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Tribunal de Abu Dhabi, país onde a brasileira de 15 anos havia sido condenada a prisão por manter relações sexuais
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ABU DHABI
A Justiça de Abu Dhabi
(Emirados Árabes) absolveu
ontem a brasileira de 15 anos
que havia sido condenada à
prisão por manter com um
paquistanês relações sexuais
extraconjugais, prática vetada pelas leis do islã.
Uma corte de apelação decidiu anular a sentença que
condenou a jovem a seis meses de prisão, seguida de deportação. Na prática, aceitou
o argumento da defesa de
que a garota não deveria ter
sido julgada como adulta.
A Promotoria ainda poderá recorrer da decisão na Suprema Corte do país, mas a
possibilidade é considerada
remota tanto pelos advogados da menina quanto pela
Embaixada do Brasil.
"Há interesse de todos os
lados de colocar um ponto final nessa história", disse o
diplomata Arthur Nogueira,
que acompanhou o caso. "A
menina e a mãe estão extremamente felizes e aliviadas."
Procurada seguidamente
pela Folha, a mãe da adolescente preferiu não falar.
O veredicto praticamente
encerra o drama vivido nas
últimas semanas pela adolescente carioca, que vive em
Abu Dhabi com a mãe brasileira e o padrasto alemão.
Um caso que pulou das páginas dos jornais locais para
a imprensa internacional no
último dia 10 de agosto,
quando um tribunal condenou a menina com base na
sharia (lei islâmica).
INTERPRETAÇÃO RÍGIDA
Mesmo para os padrões locais, a raríssima condenação
de uma menor por "relações
ilícitas" com base na sharia
provocou choque.
A brasileira fora julgada
como adulta devido a uma
interpretação rígida da sharia, que considera a primeira
menstruação como prova de
maturidade legal.
Com o apoio da Promotoria, que também viu exagero
na condenação, a defesa recorreu do veredicto e o caso
foi para uma corte de apelação, que ontem anulou a sentença da brasileira.
O veredicto do paquistanês, que continua preso, ainda não foi anunciado. Ele foi
condenado inicialmente a
um ano de prisão, seguido de
expulsão do país.
Na corte de apelação, ambos os réus mudaram suas
versões iniciais, afirmando
que jamais tiveram relações
sexuais. A defesa ainda alegou que a confissão da menina foi obtida sob pressão.
Na audiência que precedeu o veredicto de ontem, o
paquistanês, um motorista,
chegou com pés e mãos algemados. A brasileira, que apesar da condenação ficara em
liberdade após o pagamento
de fiança, ficou frente a frente com ele, mas ambos evitaram trocar olhares.
SAIA LONGA
Vestida com uma saia longa, jeito e corpo de menina, a
menor parecia assustada.
Das poucas alunas negras
de uma cara e elitista escola
internacional em Abu Dhabi,
virou centro das atenções da
mídia local e motivo de constrangimento para a família.
Por ironia, o caso só foi parar na Justiça por iniciativa
da família, que denunciou o
motorista depois que a menina o acusou de estupro.
O drama veio à tona após a
adolescente ter sido vista em
seu quarto com o paquistanês pela empregada da família, uma imigrante do Sri
Lanka.
"Ela [a empregada] testemunha que no dia do crime,
em 31 abril de 2010, os pais
estavam fora de casa, no emirado de Dubai. Ela foi bater
na porta do quarto da ré para
chamá-la para jantar. Mas a
menina proibiu a testemunha de entrar no quarto",
descreve o processo.
"Ela saiu do quarto e fechou a porta atrás dela em estado de perturbação. A testemunha percebeu que algo estava errado e ficou observando o quarto por 45 minutos,
até ver o réu saindo. Na hora,
ligou para a mãe da ré e contou o que acontecera."
CERVEJA E SEXO CASUAL
O processo narra em detalhes um enredo de sedução e
sexo casual, incluindo o momento em que a menina leva
uma lata de cerveja para o
paquistanês, o que adicionou ao processo o crime de
ingestão de bebida alcoólica,
prática também proibida pela lei islâmica.
Para May Al Dabbagh, diretora do Programa de Gênero da Dubai School of Government, a discriminação
de mulheres é uma realidade
inegável nas cortes dos Emirados Árabes.
"Se a aplicação da sharia
fosse justa, não teríamos dois
veredictos diferentes sobre o
mesmo caso", afirma.
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