|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Tinta descaracteriza prédios paulistanos em estilo art déco
Mais barata que o restauro, pintura vira principal opção nas reformas dos edifícios antigos do centro
Para arquitetos, pintar o revestimento original, feito em massa de pó
de pedra, prejudica o patrimônio da cidade
VANESSA CORREA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os prédios em art déco, um
dos estilos arquitetônicos
mais representativos do centro de São Paulo, estão sendo
descaracterizados pela pintura de suas fachadas.
O revestimento desses edifícios, em massa de pó de pedra, fazia parte do projeto original. Em alguns casos, adicionava-se ao preparo pó de
mica, para conferir aspecto
cintilante ao prédio. Pintá-los descaracteriza sua concepção arquitetônica.
Com o atual "boom" de reformas de edifícios antigos
da cidade, no processo de revitalização do centro, a pintura vira opção, por ser mais
barata que o restauro.
Segundo Maria Lucia Bressan Pinheiro, professora de
história de arquitetura da
FAU/USP, é possível notar
uma aumento do fenômeno
nos últimos três anos.
O art déco tem como características o desenho mais
geometrizado, tanto no projeto como nos detalhes decorativos -apliques de flores
estilizadas, por exemplo.
O estilo substituiu a arquitetura eclética, batizada de
"bolo de noiva", que predominava até então. Alguns estudiosos também chamam o
estilo de protomoderno.
Em São Paulo, foi adotado
entre os anos 1920 e 1940, especialmente na região da
avenida São João. Alguns deles têm a assinatura de arquitetos renomados, como Rino
Levi e Elisiário Bahiana.
Do último (que também
projetou o viaduto do Chá)
há o edifício Saldanha Marinho, no largo São Francisco,
no centro. Foi tombado em
1986 e pintado em 1989.
Outro edifício emblemático é o estádio do Pacaembu,
pintado em 1988, após proteção do patrimônio histórico.
Conservam, entre outros,
o revestimento original o prédio do antigo Mappin, no
centro, e o do Instituto Biológico, na Vila Mariana.
"O Saldanha Marinho é
chocante. Era revestido com
uma massa cinza, com mica.
Pintaram", afirma a professora Maria Lucia.
O professor Vitor José Baptista Campos, arquiteto com
doutorado pela USP e especialista em art déco, lembra
que, em uma das reformas do
edifício, a orientação técnica
era que o revestimento original fosse refeito.
Para Campos, também técnico do Condephaat (órgão
estadual do patrimônio histórico), a pintura "descaracteriza muito o resultado e a
preservação da arquitetura".
Segundo ele, a recente
pintura de branco e marinho
do edifício Santa Elisa, no
largo do Arouche, por exemplo, "é um horror e prejuízo
para a ambiência do largo".
DURABILIDADE
Além de prejudicar o patrimônio arquitetônico, a pintura desses prédios com tintas sintéticas impermeabiliza
o revestimento e causa acúmulo de umidade internamente, resultando no destacamento de placas de argamassa, diz Maria Lúcia.
Na empresa de recuperação de fachadas consultada
pela Folha, a Fachadex, o
custo varia de R$ 13 a R$ 25
por m2 e pode durar até 30
anos, caso a estrutura do prédio esteja em ordem. Mas é
preciso fazer uma manutenção com jato d'água a cada
três anos, a R$ 1,60 por m2.
Se a opção é pela pintura
com tinta acrílica, gasta-se
menos: cerca de R$ 8 por m2.
Texto Anterior: Mulheres do crack Próximo Texto: São Paulo tem só 35 táxis acessíveis para cadeirantes Índice | Comunicar Erros
|