São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2010

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Tinta descaracteriza prédios paulistanos em estilo art déco

Mais barata que o restauro, pintura vira principal opção nas reformas dos edifícios antigos do centro

Para arquitetos, pintar o revestimento original, feito em massa de pó de pedra, prejudica o patrimônio da cidade

VANESSA CORREA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os prédios em art déco, um dos estilos arquitetônicos mais representativos do centro de São Paulo, estão sendo descaracterizados pela pintura de suas fachadas.
O revestimento desses edifícios, em massa de pó de pedra, fazia parte do projeto original. Em alguns casos, adicionava-se ao preparo pó de mica, para conferir aspecto cintilante ao prédio. Pintá-los descaracteriza sua concepção arquitetônica.
Com o atual "boom" de reformas de edifícios antigos da cidade, no processo de revitalização do centro, a pintura vira opção, por ser mais barata que o restauro.
Segundo Maria Lucia Bressan Pinheiro, professora de história de arquitetura da FAU/USP, é possível notar uma aumento do fenômeno nos últimos três anos.
O art déco tem como características o desenho mais geometrizado, tanto no projeto como nos detalhes decorativos -apliques de flores estilizadas, por exemplo.
O estilo substituiu a arquitetura eclética, batizada de "bolo de noiva", que predominava até então. Alguns estudiosos também chamam o estilo de protomoderno.
Em São Paulo, foi adotado entre os anos 1920 e 1940, especialmente na região da avenida São João. Alguns deles têm a assinatura de arquitetos renomados, como Rino Levi e Elisiário Bahiana.
Do último (que também projetou o viaduto do Chá) há o edifício Saldanha Marinho, no largo São Francisco, no centro. Foi tombado em 1986 e pintado em 1989.
Outro edifício emblemático é o estádio do Pacaembu, pintado em 1988, após proteção do patrimônio histórico.
Conservam, entre outros, o revestimento original o prédio do antigo Mappin, no centro, e o do Instituto Biológico, na Vila Mariana.
"O Saldanha Marinho é chocante. Era revestido com uma massa cinza, com mica. Pintaram", afirma a professora Maria Lucia.
O professor Vitor José Baptista Campos, arquiteto com doutorado pela USP e especialista em art déco, lembra que, em uma das reformas do edifício, a orientação técnica era que o revestimento original fosse refeito.
Para Campos, também técnico do Condephaat (órgão estadual do patrimônio histórico), a pintura "descaracteriza muito o resultado e a preservação da arquitetura".
Segundo ele, a recente pintura de branco e marinho do edifício Santa Elisa, no largo do Arouche, por exemplo, "é um horror e prejuízo para a ambiência do largo".

DURABILIDADE
Além de prejudicar o patrimônio arquitetônico, a pintura desses prédios com tintas sintéticas impermeabiliza o revestimento e causa acúmulo de umidade internamente, resultando no destacamento de placas de argamassa, diz Maria Lúcia.
Na empresa de recuperação de fachadas consultada pela Folha, a Fachadex, o custo varia de R$ 13 a R$ 25 por m2 e pode durar até 30 anos, caso a estrutura do prédio esteja em ordem. Mas é preciso fazer uma manutenção com jato d'água a cada três anos, a R$ 1,60 por m2.
Se a opção é pela pintura com tinta acrílica, gasta-se menos: cerca de R$ 8 por m2.


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