São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002

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RETRATO DO BRASIL

Dados mostram que diferenças se mantêm em questões como analfabetismo e inserção no mercado de trabalho

Desigualdade entre preto e branco continua

DA SUCURSAL DO RIO

No Brasil revelado pelas cores do Censo 2000, é como se pretos e brancos vivessem em países diferentes. A taxa de analfabetismo entre pretos é o triplo da verificada entre brancos, mostrando que, apesar do avanço nas políticas educacionais, a desigualdade entre os dois grupos se manteve praticamente inalterada.
Em 1991, a taxa de analfabetismo na população de 15 anos ou mais era de 11,9% entre brancos e 31,5% entre os negros e 27,8% entre pardos. A média nacional era 19,4%. Em 2000, as taxas caíram em todos os grupos, chegando a 8,3% entre brancos e 21,5% entre pretos (1,5 vez maior). A taxa nacional foi de 12,9%.
Ou seja: quando os grupos são analisados isoladamente, vê-se que a queda do analfabetismo foi maior entre pretos (31,7%) que entre brancos (30,2%), mas a diferença entre os dois grupos continuou existindo.
O abismo na educação entre brancos e pretos é verificado também entre as faixas mais jovens, o que indica que ainda não há perspectiva, no futuro, de fim da desigualdade: no grupo que tem de 10 a 14 anos, a taxa de analfabetismo foi de 3% entre brancos e 9,9% entre pretos. A média nacional era 5,9%.
Na média de anos de estudo, a situação se repete: em 1991, os pretos tinham, em média, 3,4 anos de estudo, e os brancos, 5,6. Em 2000, os brancos chegaram a 6,6 anos, e os pretos, a 4,6.
"Os dados mostram que, apesar dos avanços fundamentais alcançados, como a redução do analfabetismo, a desigualdade se mantém", diz Dolores Kappel, técnica do IBGE responsável pela análise dos resultados de educação.
Para o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, a persistência da desigualdade não significa que não houve avanços.
"Há uma diminuição da desigualdade, mas alguns níveis de desigualdade ainda permanecem. Por isso, é preciso continuar o esforço para que a escola garanta a igualdade de oportunidades. Em 1995, tínhamos uma de cada cinco crianças negras fora da escola, enquanto quase todas as brancas já estudavam. Hoje, a diferença entre os dois grupos caiu para três ou quatro pontos percentuais."
Os dados mostram também a dificuldade de inserção do preto no mercado de trabalho: 79,84% dos empregadores se identificaram como brancos, enquanto só 1,67% desse grupo se disse preto.
O que se vê é que há, no grupo de empregadores, mais brancos, mais amarelos e menos pretos que o previsto em relação ao total da população brasileira -com 53,74% de brancos, 6,21% de pretos, 38,45% de pardos, 0,45% de amarelos e 0,43% de indígenas.
Em compensação, os pretos estão sobre-representados entre os empregados: são 7,21% do total.
Para Giovanni Harvey, consultor do Ceap (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas) para a área de programas de microcrédito, os dados do IBGE são importantes, mas não captam a totalidade do problema.
De acordo com Harvey, o preto já tem problemas para ascender formalmente como empregado e muito mais ainda para chegar a empregador -o que depende de renda e obtenção de crédito. Por isso, muitos pretos acabam migrando para uma atividade informal. (ANTÔNIO GOIS E FERNANDA DA ESCÓSSIA)


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