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RETRATO DO BRASIL
Dados mostram que diferenças se mantêm em questões como analfabetismo e inserção no mercado de trabalho
Desigualdade entre preto e branco continua
DA SUCURSAL DO RIO
No Brasil revelado pelas cores
do Censo 2000, é como se pretos e
brancos vivessem em países diferentes. A taxa de analfabetismo
entre pretos é o triplo da verificada entre brancos, mostrando que,
apesar do avanço nas políticas
educacionais, a desigualdade entre os dois grupos se manteve praticamente inalterada.
Em 1991, a taxa de analfabetismo na população de 15 anos ou
mais era de 11,9% entre brancos e
31,5% entre os negros e 27,8% entre pardos. A média nacional era
19,4%. Em 2000, as taxas caíram
em todos os grupos, chegando a
8,3% entre brancos e 21,5% entre
pretos (1,5 vez maior). A taxa nacional foi de 12,9%.
Ou seja: quando os grupos são
analisados isoladamente, vê-se
que a queda do analfabetismo foi
maior entre pretos (31,7%) que
entre brancos (30,2%), mas a diferença entre os dois grupos continuou existindo.
O abismo na educação entre
brancos e pretos é verificado também entre as faixas mais jovens, o
que indica que ainda não há perspectiva, no futuro, de fim da desigualdade: no grupo que tem de 10
a 14 anos, a taxa de analfabetismo
foi de 3% entre brancos e 9,9% entre pretos. A média nacional era
5,9%.
Na média de anos de estudo, a
situação se repete: em 1991, os
pretos tinham, em média, 3,4
anos de estudo, e os brancos, 5,6.
Em 2000, os brancos chegaram a
6,6 anos, e os pretos, a 4,6.
"Os dados mostram que, apesar
dos avanços fundamentais alcançados, como a redução do analfabetismo, a desigualdade se mantém", diz Dolores Kappel, técnica
do IBGE responsável pela análise
dos resultados de educação.
Para o ministro da Educação,
Paulo Renato Souza, a persistência da desigualdade não significa
que não houve avanços.
"Há uma diminuição da desigualdade, mas alguns níveis de
desigualdade ainda permanecem.
Por isso, é preciso continuar o esforço para que a escola garanta a
igualdade de oportunidades. Em
1995, tínhamos uma de cada cinco
crianças negras fora da escola, enquanto quase todas as brancas já
estudavam. Hoje, a diferença entre os dois grupos caiu para três
ou quatro pontos percentuais."
Os dados mostram também a
dificuldade de inserção do preto
no mercado de trabalho: 79,84%
dos empregadores se identificaram como brancos, enquanto só
1,67% desse grupo se disse preto.
O que se vê é que há, no grupo
de empregadores, mais brancos,
mais amarelos e menos pretos
que o previsto em relação ao total
da população brasileira -com
53,74% de brancos, 6,21% de pretos, 38,45% de pardos, 0,45% de
amarelos e 0,43% de indígenas.
Em compensação, os pretos estão sobre-representados entre os
empregados: são 7,21% do total.
Para Giovanni Harvey, consultor do Ceap (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas) para a área de programas de
microcrédito, os dados do IBGE
são importantes, mas não captam
a totalidade do problema.
De acordo com Harvey, o preto
já tem problemas para ascender
formalmente como empregado e
muito mais ainda para chegar a
empregador -o que depende de
renda e obtenção de crédito. Por
isso, muitos pretos acabam migrando para uma atividade informal.
(ANTÔNIO GOIS E FERNANDA DA ESCÓSSIA)
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