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Colonização gera cidade 100% branca
DA AGÊNCIA FOLHA
No Sul, uma cidade 100% branca. No Nordeste, um município
com 61,7% da população negra.
Montauri (RS) e Riacho Frio (PI)
são exemplos da diversidade e
dos contrastes encontrados na
formação do povo brasileiro por
causa do processo de colonização.
No município gaúcho de Montauri (223 km de Porto Alegre),
ocorre um fenômeno típico de
países nórdicos, onde há apenas
habitantes de cor branca: quando
algum negro aparece em meio à
população, sua presença é temporária, em razão da prestação de algum serviço específico.
A formação étnica do município é, predominantemente, de
descendentes de italianos e de alemães. Não há negros nem índios
entre os seus 1.684 habitantes.
O secretário municipal da Administração, Antônio Meneguzzi,
47, aponta para sua própria casa
ao falar nos raríssimos casos de
origem africana e índia existentes
no município. Sua mulher, Maria
Salete, 47, é descendente de africanos, alemães e índios.
Segundo ele, não há discriminação quando surge alguém com a
tez um pouco mais escura que o
comum da cidade. "Somos uma
cidade calma e estamos acostumados com os vizinhos, onde há
negros. Ninguém vê qualquer
anormalidade nisso."
A colonização também teve
efeitos em Riacho Frio. Segundo o
professor Stânio de Sousa Vieira,
do Núcleo de Pesquisas em Africanidades e Afrodescendências
da UFPI (Universidade Federal
do Piauí), a alta concentração de
negros na cidade, no extremo sul
do Estado, se deve à grande quantidade de escravos que foram trabalhar nas fazendas da região. "O
sul do Piauí foi a base do processo
de colonização do Estado."
Os escravos, na grande maioria
vindos de Angola ou do Congo,
entravam no Piauí pela Bahia ou
por Pernambuco. Há ainda na região muitas comunidades remanescentes de quilombos.
Emancipada há seis anos, a cidade tem 4.321 habitantes, vive da
agricultura e da pecuária e é uma
das 196 do Piauí em situação de
emergência por causa da seca. Segundo o prefeito Joaquim Mascarenhas Lustosa (PTB), não existe
preconceito na cidade: "Aqui é todo mundo moreno".
(ALESSANDRA KORMANN E LÉO GERCHMANN)
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