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Favela cresce perto do Pão de Açúcar
Ministério Público abriu inquérito para investigar a favelização da encosta do Morro da Babilônia, na Urca
Coordenadoria de Orientação e Regularização Urbanística, afirma que faz inspeções periódicas no local e que o crescimento está controlado
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
Denúncias de moradores levaram o Ministério Público do
Estado do Rio de Janeiro a instaurar um inquérito para investigar a favelização da encosta
do Morro da Babilônia, na Urca, onde fica a Vila Benjamin
Constant. Até há alguns anos
encoberta pelo instituto que
lhe deu o nome, a comunidade
cresce verticalmente e hoje já
pode ser vista por quem passa
pelo Aterro do Flamengo, alterando a paisagem do bairro,
marcada pelo Pão de Açúcar.
Segundo dados da Secretaria
Municipal de Urbanismo, existem hoje no local 122 domicílios -unidades que muitas vezes ocupam diferentes andares
de uma mesma casa. Na década
de 40, quando a vila foi erguida
para abrigar funcionários do
instituto de educação para deficientes visuais que funciona
em frente, não passavam de 30.
A vila conta com infra-estrutura básica e difere da imagem
tradicional das favelas pelo
bom estado das casas, em sua
maioria rebocadas e pintadas.
"Há dez anos isso aqui era um
verdadeiro paraíso. Mas os antigos moradores foram morrendo e os parentes começaram a erguer novos andares para alugar. Aí vieram várias pessoas de fora, inclusive moradores do Chapéu Mangueira [favela no Leme]. O nível cultural
caiu muito. Nossa preocupação
é que comece a vir cada vez
mais gente", disse um morador
da comunidade que pediu para
não ser identificado.
Outra moradora conta que,
com a chegada dos novos habitantes, teve início também o
consumo e a venda de drogas
no local, que, apesar de incipiente, já a preocupa. "Até já
pensei em sair daqui. Isso aqui
perdeu a característica de vila
de funcionários", disse.
O promotor Carlos Frederico
Saturnino, da Promotoria de
Meio Ambiente, informou que
o órgão enviará peritos ao local
para checar a existência de irregularidades na expansão da favela. As denúncias dão conta de
obras sem licença e em desacordo com os padrões urbanísticos do local. Há relatos de
construções que estariam invadindo a APA (Área de Preservação Ambiental) da Babilônia.
Ele diz que, se confirmadas
as denúncias, o MP poderá firmar um termo de ajustamento
de conduta com a prefeitura,
que teria que assumir uma série de obrigações sob pena de
multa. "Neste caso, me parece
que seriam implantar fiscalização, promover demolições
sempre que possível e instalar
marcos com limites que protejam a área da Babilônia", disse.
No caso das moradias irregulares já habitadas, porém, o
acordo teria de ser feito com o
próprio dono. Em caso de fracasso, a saída seria recorrer à
Justiça.
Procurada pela Folha, a
coordenadora de Orientação e
Regularização Urbanística da
Secretaria Municipal de Urbanismo, Tânia Castro, afirmou
que o órgão realiza inspeções
periódicas no local e que o crescimento está controlado. Segundo ela, a comunidade passa
por um processo de regularização fundiária e 80% das casas já
receberam o habite-se, certidão que atesta que o imóvel
cumpre as exigências legais da
prefeitura.
"A Vila Benjamin Constant é
uma comunidade cujos moradores têm muita vontade de ter
sua situação regularizada. Tanto que eles se dispuseram a pagar os arquitetos que fizeram
os projetos de legalização das
casas", disse.
Ela disse, porém, que a regularização não impede que os
moradores façam obras, desde
que com licença da prefeitura e
em acordo com o plano de ocupação e uso do solo. Pela legislação, são permitidos até três
pavimentos para as casas.
"Nem sempre o morador da
área formal entende isso com
muita facilidade", disse.
Segundo Castro, hoje são
poucos os casos de desrespeito
a esses critérios. "Existem apenas 11 processos de fiscalização
[em andamento]", disse. Ela
negou, porém, que existam casas fora dos ecolimites estabelecidos para a comunidade.
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