São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2008

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Governo autoriza ecoturismo em parque nacional no Rio

Área preservada é liberada para visitação, mesmo com fiscalização precária

Parque Nacional de Jurubatiba soma 14 mil hectares e tem praias, canais e 18 lagoas ainda não atingidos pela poluição


SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A QUISSAMÃ (RJ)

Sem funcionários suficientes e mecanismos de vigilância nos 12 acessos, o Ministério do Meio Ambiente inaugurou na sexta-feira um centro de visitantes e abriu para o ecoturismo o Parque Nacional de Jurubatiba, no litoral norte do Estado do Rio de Janeiro.
Criado em 1998 pelo presidente à época, Fernando Henrique Cardoso, o parque tinha acesso proibido desde então por falta de plano de manejo, que foi finalmente concluído em agosto. Agora, em parceria com a Prefeitura de Quissamã (cidade a cerca de 250 km do Rio), o governo federal decidiu permitir passeios de jipe e barco e caminhadas em trilhas.
Jurubatiba é uma das áreas menos povoadas do Estado, embora se localize a cerca de 200 km da capital. O parque se estende por 44 km da costa, em áreas dos municípios de Macaé, Carapebus e Quissamã.
Por causa da violência do mar e da ausência de enseadas, a região ficou esquecida no decorrer da ocupação litorânea do Estado do Rio. Hoje, a pressão urbana já a ameaça, apesar das ondas que, nas ressacas, chegam a 4 metros de altura. O limite sul do parque faz divisa com a favela Lagomar, onde, estima a Prefeitura de Macaé, moram cerca de 40 mil pessoas. Uma rua estreita separa a comunidade do parque.
Jurubatiba soma 14 mil hectares. São seqüências de praias, canais e 18 lagoas ainda não atingidas pela poluição.
Vivem em Jurubatiba espécies endêmicas -só encontradas lá-, como um crustáceo azulado, semelhante ao camarão, o diaptomus azureus. Há também animais extintos em outros locais, como o papagaio chauá. A vegetação é típica de restinga, só que preservada, diferentemente do que ocorre em outras áreas no Estado. Por tudo isso, pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) chamam o local de "santuário ecológico",
Para tomar conta dele, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade -autarquia federal responsável pelas unidades de conservação da natureza-, mantém quatro funcionários, dos quais apenas um é fiscal. O plano de manejo estipula em 12 a quantidade ideal de servidores.
Na prática, o acesso ao parque é livre. A chance de um invasor esbarrar na fiscalização praticamente inexiste, como reconhecem os próprios funcionários. Não há pórticos, cancelas e guaritas. É possível entrar no parque sem perceber, por falta de sinalização.
A abertura para o ecoturismo seria uma forma de controle, imaginam o governo e a administração de Quissamã, cidade que detém 65% das terras do parque. O centro de visitantes foi construído pela prefeitura na praia João Francisco. Nele trabalharão funcionários municipais e do Chico Mendes.
O biólogo Francisco Esteves, professor titular da UFRJ que freqüenta a área desde antes da criação do parque, diz que o sucesso da abertura para o ecoturismo "vai depender das políticas públicas" implementadas.
Diretor do Nupem (Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Sócio-Ambiental de Macaé), da UFRJ, Esteves defende parcerias entre as universidades e os governos federal, estadual e municipal para manter Jurubatiba em bom estado de conservação.


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