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20ª SÃO PAULO FASHION WEEK
Rapazes de barba malfeita, atitude desencanada e romântica ocupam os corredores do Pavilhão da Bienal durante evento
Novos gays desbancam os velhos na SPFW
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
Chegou ao fim a era dos gays
bombados, depilados, narcisistas
e que adoram fazer carão em clubes. Agora é a vez dos new gays,
que invadiram a São Paulo Fa-
shion Week, mas também já podem ser vistos nas ruas mais badaladas e nos clubes undergrounds.
Nos corredores do Pavilhão da
Bienal, onde se realiza a semana
de moda, esse novo tipo de garoto
passeia com a barba por fazer, ar
despreocupado, byroniano e se
opõe à imagem do homossexual
dos anos 90, aqueles que não
saem de academias, vivem numa
eterna egotrip e optaram pelo
pragmatismo sexual.
Os new gays estão na faixa entre
os 20 e os 30 anos, preferem o rock
à música eletrônica e se consideram "meninos que gostam de meninos". Não querem saber de um
corpo musculoso e não têm medo
de encarar uma paixão.
Eles não se identificam em nada
com a estética old gay nem com
sua variação atual, o "gay playboy", aquele que passa a noite na
boate encalacrado em óculos escuros italianos. "O gay convencional copiou tanto o estereótipo
do machão que virou um playboy
cafona", diz o cabeleireiro Paulo
Taidone, 25, jogado com visual
desencanado, em um pufe da Fa-
shion Week.
"Eu me acho mais parecido com
um fã de rock do que com os caras
que freqüentam clubes onde só
vão gays. Isso porque não gosto
de me sentir como uma pessoa
uniformizada. Prezo meu estilo
próprio", diz o jornalista Marcelo
Cia, 28, que andava pela Bienal de
bermuda larga. Bom new gay, ele
não veio assistir a nenhum desfile,
mas ver a exposição da revista inglesa "i-D".
Com a barba não aparada, o
corpo muito magro e uma camiseta antiga de banda, o stylist carioca Antonio Frajado, 23, declara
ser um new gay de carteirinha e
tênis surrado.
"Eu não tenho nada a ver com
essa coisa de anabolizante e creme
esfoliante", afirma Frajado.
Em vez de de gastar seu dinheiro com cremes, prefere comprar
computadores de última geração
e iPod, onde ouve Strokes e Radiohead, algumas das bandas preferidas dos new gays, que assumem um gosto pela melancolia. E
não aquela alegria histérica de festa, como nos anos 90.
É o caso de Fernando Martins,
23, um melancólico assumido. Ele
tomava champanhe em um lounge do evento usando uma camiseta velha que deixava à mostra as
tatuagens estilo "do rock" e o corpo nada musculoso.
"Não faço amigos por causa da
opção sexual deles, mas sim porque eles têm a ver comigo e são
boas pessoas", diz ele. "Não saio
atrás de sexo casual, saio atrás de
amigos."
O fotógrafo Felipe Morozine,
30, teoriza sobre os new gays.
"Acho que a geração que veio antes da minha precisou freqüentar
guetos e se vestir de maneiras próprias para se impor. Hoje, o homossexual está na novela, temos
mais liberdade para sermos quem
somos." Marcelo Cia concorda.
"Não é por eu ser gay que precisou ter uma atitude que foi criada
por uma geração que veio antes
da minha. Prefiro ir a um boteco
com meus amigos a ficar em clube
caçando." "Quando vou a clubes
gays, me sinto em um açougue.
Não estou interessado em um pedaço de carne. Me interessa mais
alguém com quem eu possa conversar", diz Marcelo, um romântico assumido, como, de resto, os
outros new gays.
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