São Paulo, terça-feira, 22 de janeiro de 2008

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Em dez anos, total de motoboys mais que quadruplicou; são 140 mil

CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em dez anos, a frota de carros na cidade de São Paulo cresceu 25,5%, a de motos, 117,6%, e o número de motoboys, 366,6% (de 30 mil para 140 mil).
Os motivos da explosão são o baixo custo da moto, a facilidade de conseguir trabalho informal, a falta de regras que obriguem motociclistas a andar nas faixas e um fenômeno cada vez mais comum: o delivery.
Segundo a DRT-SP (Delegacia Regional do Trabalho), dos 140 mil motoboys, só 18 mil têm registro. Há ainda cerca de 40 mil autônomos, que trabalham com clientes próprios.
De acordo com o Sindimotosp (Sindicato dos Mensageiros Motociclistas) e a AMM (Associação dos Motociclistas e Mensageiros do Estado de São Paulo), a maioria dos motoboys trabalha como esporádico e ganha, em média, R$ 6 por hora.
Nessa condição, eles só ganham quando são chamados a sair. Por isso, correm para chegar cedo à empresa e pegar um bom lugar na fila. "A gente tem duas ou três entregas para fazer em uma saída de uma hora. É combinado antes, não interessa se [a entrega] levar uma hora e meia. Recebe por uma hora", conta Márcio Barbosa, 32.
Com a facilidade de comprar uma moto em prestações de pouco mais de R$ 100, a "fila" dos esporádicos é cada vez maior. Daí a pressa de voltar e pegar outro serviço.
Segundo empresas ouvidas pela Folha que registram seus funcionários, eles trabalham oito horas por dia e recebem, em média, R$ 1.200 mensais, além de benefícios trabalhistas. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) criou em 2007 o Selo Trânsito Seguro, para certificar as empresas que seguem regras de segurança e trabalhistas. De um total de 2.500 empresas na capital, só 41 têm a certificação.

Internet
Professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Poli-USP, Claudio Barbieri acha que o maior número de motoboys pode estar associado ao crescimento das compras pela internet. "Alguém tem de fazer a entrega do produto que se compra pela internet."
Ele lembra que, em países mais ricos, o fenômeno não é comum. Nos Estados Unidos e na Europa, além de não haver tanta mão-de-obra barata disponível, as motos têm de seguir as mesmas regras de trânsito dos carros -o que inclui andar na faixa, e não entre as filas de veículos, como ocorre no Brasil. "Isso torna menos atrativa a contratação de motoboys. O Código de Trânsito Brasileiro omitiu a punição para motos que andassem fora da faixa, o erro começou aí", afirma.
O professor cita como exemplo uma locadora americana de DVDs chamada Netflix, que cobra do cliente uma taxa mensal que permite alugar vários filmes, desde que os anteriores sejam entregues primeiro. A escolha é feita pela internet, e as fitas são entregues e retiradas por correspondência. "Lá, o carteiro que faz a entrega também retira produtos. Agora, a rede virá para o Brasil. Adivinha quem vai fazer retiradas e entregas?", indaga Barbieri.
Em São Paulo, os motoboys entregam de comida, documentos de bancos e de cartórios -que precisam ser assinados- até bolsas de sangue. Além de seis carros, a Fundação Pró-Sangue, no Hospital das Clínicas, tem uma moto de plantão para casos urgentes.
De 80% a 90% das farmácias usam motoboys, diz Geraldo Monteiro, assessor do Sincofarma-SP (sindicato do comércio varejista de produtos farmacêuticos). "A maioria é terceirizada, e poucas têm funcionários próprios." Os sites Submarino e das Lojas Americanas não comentam como fazem as entregas. A livraria Saraiva usa Sedex ou transportadora.


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