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Em dez anos, total de motoboys mais que quadruplicou; são 140 mil
CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em dez anos, a frota de carros na cidade de São Paulo cresceu 25,5%, a de motos, 117,6%, e
o número de motoboys, 366,6%
(de 30 mil para 140 mil).
Os motivos da explosão são o
baixo custo da moto, a facilidade de conseguir trabalho informal, a falta de regras que obriguem motociclistas a andar nas
faixas e um fenômeno cada vez
mais comum: o delivery.
Segundo a DRT-SP (Delegacia Regional do Trabalho), dos
140 mil motoboys, só 18 mil
têm registro. Há ainda cerca de
40 mil autônomos, que trabalham com clientes próprios.
De acordo com o Sindimotosp (Sindicato dos Mensageiros Motociclistas) e a AMM
(Associação dos Motociclistas e
Mensageiros do Estado de São
Paulo), a maioria dos motoboys
trabalha como esporádico e ganha, em média, R$ 6 por hora.
Nessa condição, eles só ganham quando são chamados a
sair. Por isso, correm para chegar cedo à empresa e pegar um
bom lugar na fila. "A gente tem
duas ou três entregas para fazer
em uma saída de uma hora. É
combinado antes, não interessa
se [a entrega] levar uma hora e
meia. Recebe por uma hora",
conta Márcio Barbosa, 32.
Com a facilidade de comprar
uma moto em prestações de
pouco mais de R$ 100, a "fila"
dos esporádicos é cada vez
maior. Daí a pressa de voltar e
pegar outro serviço.
Segundo empresas ouvidas
pela Folha que registram seus
funcionários, eles trabalham
oito horas por dia e recebem,
em média, R$ 1.200 mensais,
além de benefícios trabalhistas. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) criou em
2007 o Selo Trânsito Seguro,
para certificar as empresas que
seguem regras de segurança e
trabalhistas. De um total de
2.500 empresas na capital, só
41 têm a certificação.
Internet
Professor do Departamento
de Engenharia de Transportes
da Poli-USP, Claudio Barbieri
acha que o maior número de
motoboys pode estar associado
ao crescimento das compras
pela internet. "Alguém tem de
fazer a entrega do produto que
se compra pela internet."
Ele lembra que, em países
mais ricos, o fenômeno não é
comum. Nos Estados Unidos e
na Europa, além de não haver
tanta mão-de-obra barata disponível, as motos têm de seguir
as mesmas regras de trânsito
dos carros -o que inclui andar
na faixa, e não entre as filas de
veículos, como ocorre no Brasil. "Isso torna menos atrativa a
contratação de motoboys. O
Código de Trânsito Brasileiro
omitiu a punição para motos
que andassem fora da faixa, o
erro começou aí", afirma.
O professor cita como exemplo uma locadora americana de
DVDs chamada Netflix, que cobra do cliente uma taxa mensal
que permite alugar vários filmes, desde que os anteriores
sejam entregues primeiro. A
escolha é feita pela internet, e
as fitas são entregues e retiradas por correspondência. "Lá, o
carteiro que faz a entrega também retira produtos. Agora, a
rede virá para o Brasil. Adivinha quem vai fazer retiradas e
entregas?", indaga Barbieri.
Em São Paulo, os motoboys
entregam de comida, documentos de bancos e de cartórios -que precisam ser assinados- até bolsas de sangue. Além de seis carros, a Fundação Pró-Sangue, no Hospital
das Clínicas, tem uma moto de
plantão para casos urgentes.
De 80% a 90% das farmácias
usam motoboys, diz Geraldo
Monteiro, assessor do Sincofarma-SP (sindicato do comércio varejista de produtos farmacêuticos). "A maioria é terceirizada, e poucas têm funcionários próprios." Os sites Submarino e das Lojas Americanas
não comentam como fazem as
entregas. A livraria Saraiva usa
Sedex ou transportadora.
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