São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2004

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Desfile do Rio vai reeditar 4 sucessos do passado

Escolas trazem antigos sambas-enredos

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Reeditar sambas antigos de sucesso ou optar por enredos novos com patrocínios milionários. Essa foi a questão que marcou o Carnaval do Rio deste ano.
A idéia inicial da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) era que todas as 14 agremiações do Grupo Especial trouxessem sambas consagrados. O objetivo era comemorar os 20 anos do Sambódromo do Rio de Janeiro.
O problema é que grandes escolas já haviam negociado patrocínios. Com temas reeditados, seria mais difícil obter os apoios. Com isso, houve uma divisão. Apenas quatro agremiações vão reviver sambas antigos na Sapucaí: Viradouro, Portela, Tradição e Império Serrano.
Quem defende a reedição diz que trazer um samba antigo é garantia de que a música vai "pegar" na avenida, embalando a escola e ajudando na harmonia. As escolas que trazem novos enredos dizem que os sambas dos anos 60 e 70 são mais lentos e difíceis de ser adaptados à batida mais rápida das baterias atuais.
Haveria ainda o risco de "rebaixar" um enredo campeão. "Já pensou a Mangueira refazendo um enredo campeão e ficar em décimo lugar? Seria péssimo", disse o presidente da escola, Álvaro Caetano, o Alvinho.
Com o enredo "Mangueira Redescobre a Estrada Real...E deste Eldorado Faz seu Carnaval", a escola recebeu R$ 1 milhão de empresas de Minas Gerais -Fiat, Usiminas e Açominas, entre outras- para contar a história da antiga estrada que trazia o ouro de Minas a Parati (litoral sul do Rio).
A Mangueira teve ainda o apoio institucional do governo de Minas, que quer promover o Caminho Real como destino turístico. A Mangueira, segundo Alvinho, recebeu ainda R$ 600 mil da Brahma. A agremiação gastou, ao todo, R$ 4 milhões neste ano.
Para Mauro Quintaes, carnavalesco da Viradouro, "entrar na avenida com todo o povo sabendo a letra é uma grande vantagem". A escola recria um enredo da Unidos de São Carlos (hoje, Estácio de Sá, que está no Grupo de Acesso), de 1975, sobre a festa católica do Círio de Nazaré, em Belém do Pará. Mesmo sem patrocínio, a escola teve o mesmo orçamento da Mangueira: R$ 4 milhões. "É um tema encantador", diz Quintaes, que já fez quatro enredos patrocinados quando estava no Salgueiro.
Neide Coimbra, presidente da Império Serrano, reconhece que teve dificuldades para conseguir dinheiro, mas trazer de volta ao Carnaval o samba "Aquarela Brasileira" fez lotar a quadra da escola e vender fantasias como nunca.
Quarto lugar em 1964 e de autoria de Silas de Oliveira, o samba é um dos mais famosos do Rio.
A Portela levará um samba campeão de 1970: "Lendas e Mistérios da Amazônia". A Tradição, uma dissidência da escola, trará também um samba da Portela: "Contos de Areia". Com ele, a Portela foi campeã em 1984.
Outra escola com patrocínio gordo é o Salgueiro. Contando a história do álcool, a escola recebeu R$ 1,2 milhão do grupo J. Pessoa, dono de oito usinas. O Salgueiro desembolsou R$ 4 milhões no desfile deste ano.
Márcia Lávia, carnavalesca do Salgueiro, diz que, a princípio, o tema pareceu estranho. Mas que, depois do trabalho de pesquisa, o enredo permitiu fazer um Carnaval futurista, com muitos efeitos especiais.


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