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Represa tem roça, marina e condomínio
DA REPORTAGEM LOCAL
Nas margens da represa Jaguari-Jacareí, há de tudo: roças, chácaras, condomínios de luxo, marinas e eucalipto. O cenário bate
com a avaliação que o ISA faz dos
impactos do Cantareira para a região e com as dificuldades que os
órgãos responsáveis relatam ter
para controlar os usos. A história
do agricultor Durval Furtado Almeida, 56, é um exemplo.
"Vivo aqui há 40 anos. No lugar
da represa, corria um riacho e tinha muita mata, mas o pessoal já
plantava principalmente arroz.
Para fazer as roças, a gente queimava as árvores. Depois que alagaram a represa, a maioria do
pessoal foi embora, mas ficaram
umas 30, 40 pessoas", conta.
Hoje quase não há mais floresta;
a cada ano, a vertente de onde ele
tira água fica mais fraca, mas Almeida diz não querer ir embora.
"Quem saiu foi trabalhar em fábricas ou virou pedreiro, ajudante
geral, mas eu só sei plantar."
Do outro lado do reservatório,
placas na estrada indicam os tipos
de uso: condomínios e marinas.
Na maior dessas marinas, a
Confiança, o dono, Sidney José
Trindade, diz lutar contra a Sabesp num processo porque a empresa não quer embarcações a
motor na água e pede a retirada
da lanchonete e do restaurante erguidos na área que pertence a ela.
"Os comodatos nessa região
venceram e está todo mundo irregular, mas ninguém consegue novas autorizações por causa da burocracia da Sabesp." O problema
é admitido pela empresa, que diz
estar tentando resolvê-lo.
Enquanto isso, Trindade busca
autorização para plantar quase
800 árvores, a maioria espécies
nativas, na beira da represa. Quer
também tratar todo o esgoto da
marina, que hoje vai para fossas.
Não muito longe dali, condomínios onde casas são vendidas a
mais de R$ 1,5 milhão trocaram as
matas ciliares por jardins, palmeiras e rampas de acesso à represa.
Tudo com autorização da prefeitura e sem controle da Sabesp.
Num passeio pelo reservatório,
é possível, por causa do seu baixo
nível (o Cantareira tinha, sexta-feira, 17,5% da capacidade), ver o
resultado mais evidente de tudo
isso: o assoreamento. Bancos de
areia de mais de dois metros, que
apareceram com a seca, hoje estão
cobertos por mato.
(MV)
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