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Utilização não é consenso porque prática não é reconhecida
DA AGÊNCIA FOLHA
O uso de medicamentos à base
de plantas na rede pública não é
consenso entre profissionais da
área, sobretudo porque a prática
não é reconhecida pelo CFM.
Em São Paulo, a aprovação em
fevereiro de uma lei que permite o
uso da fitoterapia em um posto de
saúde a ser criado foi alvo de críticas do CRM (Conselho Regional
de Medicina) local. O presidente
do órgão, Clóvis Francisco Constantino, ameaçou questionar a lei
na Justiça, mas desistiu. Para ele, o
fato de o poder público adotar a
prática pode levar ao retardamento do diagnóstico. "É querer baratear os custos na rede pública."
O preço mais baixo é um dos argumentos dos coordenadores de
programas que envolvem a fitoterapia. No Distrito Federal, segundo o órgão responsável, o xarope
de guaco custa cerca de R$ 0,80
(unidade) se produzido no laboratório do programa e cerca de R$
5 nas farmácias de manipulação.
O preço é questão central para Terezinha de Jesus, do Farmácia da
Terra, no Amapá, em funcionamento em cinco cidades. "Os médicos são itinerantes, a maioria
das pessoas desses municípios
não tem acesso a medicamentos."
Para Eduardo Pagani, um dos
diretores da Sobrafito (Sociedade
Brasileira de Fitomedicina), o uso
exclusivo de fitoterápicos ou
plantas medicinais não é recomendado, "mas se é a única opção, o tratamento é válido".
Para o professor de farmacologia da Unifesp Antônio José Lapa,
é "difícil" receitar fitoterápicos
como medicamentos. Lapa disse
que, se não houver eficácia demonstrada clinicamente, eles podem ter apenas efeito psicológico
ou causar intoxicações.
Há cerca de quatro anos, a Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP abriga um laboratório
de fitoterápicos, o Fitofar. Segundo a diretora do órgão, Elfriede
Bacchi, a incorporação da fitoterapia pela rede de saúde pública é
"complicada" não só por questões da cadeia produtiva e da ausência de estrutura, mas também
por falta de pesquisa. Segundo
ela, na lista de fitoterápicos registrados pela Anvisa, há poucas
plantas brasileiras. Por isso é necessário investir em pesquisa.
Dosagens incorretas e problemas de identificação de espécies
são comuns, segundo a Fundação
Oswaldo Cruz. Nesse ponto, os
coordenadores de programas
afirmam que as políticas de uso
da fitoterapia ajudam a convencer
a população de que plantas podem ser remédios e que cuidados
devem ser tomados.
Segundo médicos ouvidos pela
Agência Folha, algumas práticas
tradicionais, como o chá de confrei usado como antiinflamatório,
podem causar danos que levam
ao câncer de fígado. Um outro
exemplo é o uso da erva buchinha
sem a devida diluição para desentupir o nariz. Há possibilidade de
queimaduras sérias. A mesma
planta também é abortiva. Em
2002, a Fundação Oswaldo Cruz
registrou 14 internações devido
ao uso da erva com esse fim.
De acordo com o diretor-adjunto para área de medicamentos da
Anvisa, Davi Rumel, não há funcionários suficientes para o órgão
fazer cumprir uma legislação que
proíba ou limite a venda desse tipo de planta em locais como casas
de umbanda. A Anvisa fiscaliza
apenas fitoterápicos processados,
não se estendendo a folhas, cascas
de árvore ou raízes.
Uma das ressalvas à fitoterapia é
feita pelo presidente do Conselho
Regional de Farmácia de São Paulo, Francisco Caravanti Júnior,
que teme a ausência de farmacêuticos nos laboratórios públicos
que produzam fitoterápicos. A
preocupação com a qualidade
também foi levantada pelo presidente do Sindicato da Indústria
de Produtos Farmacêuticos no
Estado de São Paulo, Lauro Mattos. "Talvez seja muito cedo para
aplicar no poder público."
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