UOL


São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CEARÁ

Substituídos por motos e bicicletas, animais teriam se tornado obsoletos e, abandonados, estariam causando acidentes

OAB denuncia massacre de jumentos

Jarbas Oliveira/Folha Imagem
Jumentos abandonados presos em um dos currais do Departamento de Edificações, Rodovias e Transportes, em Quixeramobim


ALESSANDRA KORMANN
DA AGÊNCIA FOLHA

Centenas de jumentos estariam sendo enterrados vivos em Quixeramobim (município a 200 km de Fortaleza). O motivo: como se tornaram obsoletos e estão sendo substituídos por motos e bicicletas, os animais são abandonados e têm causado muitos acidentes nas estradas da região.
Esse é o teor da representação criminal que a Comissão do Meio Ambiente da OAB do Ceará, em parceria com a Uipa (União Internacional Protetora dos Animais), pretende encaminhar ao Ministério Público Estadual, pedindo a responsabilização criminal de funcionários do Dert (Departamento de Edificações, Rodovias e Transportes), acusados do crime.
"O jumento é de uma docilidade incomensurável, de uma mansidão que não dá para descrever. É totalmente inofensivo, a única função dele é ajudar os nordestinos", disse o advogado Arimá Rocha, presidente da Comissão do Meio Ambiente da OAB-CE.
O superintendente-adjunto do Dert, Guaraci Diniz de Aguiar, nega que isso tenha ocorrido, mas afirma que abriu um procedimento para investigar o caso (leia texto nesta pág.).
A denúncia foi feita à Uipa há 15 dias, por moradores. Segundo os relatos, os animais seriam recolhidos das estradas por funcionários do Dert e depois levados para um cercado, onde ficariam sem comer por uma semana.
Depois, seriam levados para um local, com covas previamente cavadas, e receberiam apenas uma pancada na cabeça, sendo empurrados para dentro do buraco ainda vivos. A seguir, os funcionários cobririam os animais com terra.
De acordo com a denúncia, seriam cerca de 150 por semana. "Uma pessoa disse que isso vinha acontecendo toda sexta-feira, e às vezes mais de uma vez por semana", afirmou a advogada Gelsa Leitão, da Uipa.
A entidade enviou um funcionário a Quixeramobim para apurar a história. Ele passou oito dias na cidade e afirma ter testemunhado a mortandade a uma distância de cerca de 50 metros.
"Eles batiam com uma espécie de machado na cabeça dos animais. Os jumentos ficavam agonizando, os outros que viam a cena queriam fugir. Aí empurravam os animais vivos para dentro do buraco. Sou capaz de jurar pela alma de minha mãe", disse o funcionário da Uipa, que não quis se identificar.
"Os animais iam caindo um em cima do outro. Fui embora porque não consegui ficar até o final", afirmou o funcionário.
Segundo o funcionário, as mortes ocorreram em uma fazenda entre Quixeramobim e Senador Pompeu. Teriam começado por volta das 19h de sexta-feira e teriam ocorrido até cerca da meia-noite, de acordo com outros moradores ouvidos por ele.
De acordo com Marcos, havia cinco covas fundas, do tamanho aproximado de um caminhão. Os funcionários do Dert teriam trazido os jumentos em três caminhões, em várias viagens.
"O jumento é um símbolo do Nordeste. É um animal muito bom, silencioso, que sofre calado e muitas vezes carrega um peso superior a suas forças", disse a advogada da Uipa.
Também chamado de jegue, o jumento é mais usado como reprodutor do que como meio de transporte: ao cruzar com a égua, produz filhos mais resistentes e maiores, os burros e as mulas, que são estéreis.
Como os jumentos se reproduzem em grande quantidade, acabaram sendo desvalorizados.

Colaborou KAMILA FERNANDES, da Agência Folha, em Fortaleza


Texto Anterior: Segurança: União estuda taxa para criar polícia de elite
Próximo Texto: Outro lado: Departamento nega que tenha havido matança
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.