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Migração foi prejudicada, diz ex-diretor
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-diretor-presidente da ANS
(Agência Nacional de Saúde Suplementar), Januário Montone,
49, diz que um conjunto de fatores prejudicou o processo de migração de planos antigos e em desequilíbrio para a atual legislação
do setor.
Montone reconheceu a necessidade de aperfeiçoar o processo,
elaborado em sua gestão, concluída no ano passado.
Regra da ANS expedida em sua
gestão permitiu que, para os planos em desequilíbrio -em que os
gastos em assistência consomem
a maior parte das receitas em
mensalidades-, as empresas pudessem ofertar apenas a possibilidade de migração. Migrar significa abandonar o contrato antigo
por um novo, cujo preço inicial
não é controlado pelo governo.
Segundo Montone, nomeado
no governo Fernando Henrique
Cardoso, "houve falta de bom
senso pelas operadoras" ao calcular os preços da migração.
A maior parte dos beneficiários
não aceitou a migração, com preços até cinco vezes mais altos, e ficou nos contratos antigos, reajustados em até 82% -aumento baseado em decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de que os
contratos antigos não precisam
seguir os reajustes anuais determinados pelo governo.
"Houve uma quebra de expectativa em relação à maneira que
trataram os usuários", afirmou
ainda o ex-diretor, hoje consultor
do setor de saúde suplementar.
Ainda segundo o consultor, não
foi correto as empresas ofertarem
a migração ao consumidor separada da informação de que quem
não adequasse o plano à lei atual
teria reajuste no contrato antigo.
"O fundamental é que eles recebessem comparativamente."
As empresas como Bradesco
Saúde e SulAmérica têm argumentado que foram fornecidas
todas as explicações aos consumidores por meio de cartas e de suas
centrais telefônicas.
"É impossível prever tudo", disse Montone ao ser questionado se
não previa que as operadoras poderiam aplicar grandes aumentos. Segundo ele, se houve abuso,
é preciso que a migração seja revista. "Fundamentalmente é preciso interromper o processo de
insensatez."
O ex-diretor diz que, ao estimular a adequação, a idéia era tornar
o "ambiente competitivo" para
que houvesse disputa por usuários com contratos antigos.
A Justiça de Pernambuco suspendeu recentemente o processo
por considerar que não levou em
conta que a adequação pode não
ser boa para todos os consumidores e que o Código de Defesa do
Consumidor pode proteger quem
ficar no contrato antigo. "O programa é opcional. Não tem sentido barrar."
Defendendo sua gestão, Montone disse que expediu norma que
vedava os reajustes não previstos
nos contratos antigos. E que também criou um cadastro desses
contratos para que se conhecesse
a realidade do setor.
(FL)
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