São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

A religião, sozinha, não sustenta as estruturas sociais

Cada vez mais as pessoas vêm de famílias desfeitas, o que deixa marcas no inconsciente desde a infância


A CONSCIÊNCIA DA CAPACIDADE E AUTONOMIA NAS DECISÕES CRESCEU COM A MODERNIDADE

J. B. LIBANIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

As estatísticas parecem dizer que a crença religiosa não influencia na separação dos casais. O que pensar disso?
A crença religiosa situa-se no interior de uma cultura.
Enquanto a cultura ocidental mantinha o matrimônio por força da tradição, a religião, sobretudo a católica, reforçava o vínculo matrimonial.
Não se distingue facilmente se a estabilidade conjugal advém da força da religião ou do peso da tradição. Sozinha, a religião não sustenta nenhuma estrutura social.
Com a modernidade, elementos importantes interferiram. A consciência da própria capacidade e autonomia nas decisões cresceu, sobretudo no referente ao campo moral, livre da influência da família e da religião. O avanço do feminismo reforçou essa autonomia.
Tal consciência vem se acentuando. Os dados do IBGE não causam surpresa, mas confirmam o movimento de várias décadas.
As decisões das pessoas se constroem a partir de vários fatores. Quatro merecem atenção: biográfico, psicanalítico, sociológico e religioso.
As pessoas vêm cada vez mais de famílias desfeitas. Entram na sua biografia normal ver, viver e introjetar divórcios de pais, parentes e conhecidos, sejam religiosamente praticantes ou não.
A separação dos pais na infância deixa marcas no inconsciente das crianças que mais tarde se casarão e, mais facilmente, se separarão. E aqui pesa enormemente a influência da mídia, que projeta, em forma de novelas, filmes e programas, a facilidade gigantesca da separação.
Quanto ao fator religioso, várias igrejas cristãs aceitam o divórcio. As igrejas Católica e Ortodoxa são as mais estritas. Diante desse cenário, fica quase impensável que essas igrejas resistam a tal maré.
As águas correm na direção da separação e remar contra a maré é para minoria.
E essa não se encontra nas estatísticas.


J.B. LIBANIO é padre jesuíta e teólogo.


Texto Anterior: Religião não evita fim do casamento
Próximo Texto: "Meu dever é casar de novo", diz evangélica
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.