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São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2003

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RELIGIÃO

Evento na Câmara debaterá aborto e homossexualismo

"Católicas dissidentes" completam dez anos de atividades no Brasil

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Elas são católicas, feministas e não pretendem deixar a igreja. Com a mesma decisão, também não pretendem respeitar posições do Vaticano que "humilham" as mulheres nem seguir "dogmas que contrariam a dignidade de homens e mulheres".
Elas são as Católicas pelo Direito de Decidir, ONG que está completando dez anos no Brasil e 30 nos EUA e que atualmente tem grupos em dezenas de países.
"Somos milhões, porque todas as católicas que agem segundo sua consciência, mesmo contrariando o Vaticano, são católicas pelo direito de decidir", diz Maria José Rosado, 58, socióloga e presidente da ONG no Brasil.
Elas reivindicam o direito de serem ordenadas, defendem um segundo casamento na igreja, são contrárias ao celibato obrigatório para os padres, atribuem à mulher o direito de decidir sobre o aborto e a contracepção e defendem os direitos civis de casais homossexuais, união condenada na última carta do Vaticano.
A ex-freira Frances Kissling, presidente da ONG nos EUA, diz que "as decisões da igreja são tomadas por homens que não levam uma vida sexual normal, por isso nada sabem de sexualidade".
Kissling diz que, ao autorizar o casamento dos padres, a igreja terá de permitir o controle da natalidade, e os sacerdotes terão de ouvir suas mulheres.
Estima-se que ocorram 6.000 mortes por ano na América Latina em decorrência de abortos clandestinos.

Novo concílio
As integrantes da ONG são favoráveis a um movimento mundial que vem crescendo pela realização de um Concílio Vaticano 3º, onde a questão da mulher estará no centro dos debates.
Elas não acreditam que algo possa mudar na igreja enquanto o papa João Paulo estiver à frente do Vaticano.
Mas por que ficar numa igreja "que não as dignifica" e as vê como "cidadãs de segunda categoria"? "Há um conservadorismo muito forte na igreja, mas abandoná-la não é a melhor política", diz a teóloga Ivone Gebara. "O primeiro passo é valorizar a mulher, sua auto-estima, para então promover mudanças."
Segundo Rosado, o objetivo "é recolher da igreja aquilo que na sua tradição pode confortar as mulheres e dar poder a elas". A religião, na sua tradição bíblica, dá muita força à mulher, apesar de seu lado "perverso".
Essas questões serão debatidas às 19h30 de hoje, na Câmara Municipal de São Paulo, com a participação de Maria Rosado, Ivone Gebara, a teóloga lésbica americana Mary Hunt, Frances Kissling e Fátima Pacheco Jordão.
Procurada, a Cúria Metropolitana disse não ter informações sobre essas mulheres.


Debate público na Câmara Municipal de SP; tel. 0/xx/11/3107-9038, site www.catolicasonline.org.br


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