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São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2003

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ABASTECIMENTO

Substituição de 240 mil modelos antigos por novos, que usam 1/5 de água, pouparia 1.067 litros por segundo

Troca de vaso é arma contra racionamento

MARIANA VIVEIROS
SIMONE IWASSO

DA REPORTAGEM LOCAL

Se a Grande São Paulo trocasse só 240 mil vasos sanitários antigos por modelos novos, que gastam 1/5 da água consumida tradicionalmente para escoar os resíduos, economizaria praticamente o que é tirado por segundo do sistema Alto Cotia (1.100 litros), que entra hoje em racionamento e tinha ontem 5,3% de sua capacidade -a mais baixa de todos os tempos.
A conta é simples. Um vaso fabricado antes de 2001 gasta em torno de 30 litros de água por descarga. Numa casa com quatro ocupantes, cada um deles usa o vaso, em média, quatro vezes ao dia -logo o consumo num dia normal é de 480 litros. Multiplicado por 240 mil vasos, o gasto vai a 115,2 milhões de litros diários, ou 1.333 litros por segundo. Um vaso que usa seis litros de água por descarga gasta 266 l/s. A economia é de 1.067 litros por segundo.
As estimativas numéricas são de estudo feito pelo deputado federal e ex-secretário de Estado dos Recursos Hídricos, Antonio Carlos de Mendes Thame (PSDB-SP), autor de um projeto de lei federal que estabelece a instalação de equipamentos hidráulicos menos consumistas como diretriz para todas as cidades brasileiras.
O ex-secretário, que enfrentou dois racionamentos em sua gestão, dá o alerta: é preciso começar já a trocar as bacias na região metropolitana, dando prioridade às áreas abastecidas pelos sistemas Alto Cotia, Cantareira e Alto Tietê -que estão em pior situação.
"Não se deve esperar que a Sabesp faça isso. É preciso uma atitude de governo, como ocorreu em Nova York, Los Angeles e na Cidade do México", sustenta. Nessas cidades, foram implementadas leis e políticas de isenção tributária e incentivos financeiros para trocar os equipamentos.
Os resultados da conta com 240 mil vasos é só uma amostra do potencial de economia da medida. A estimativa é que a maioria dos cerca de 50 milhões de privadas instaladas na Grande São Paulo ainda sejam do modelo antigo, que deixou definitivamente de ser produzido em 2000, por determinação da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
Desde o início deste ano, os fabricantes só podem colocar no mercado o vaso que gasta 6,8 litros. O preço médio é de R$ 50, diz Thame. A diferença desses equipamentos é que eles têm um sifão mais estreito, o que facilita a sucção dos resíduos e exige, portanto, menos água para empurrá-los.
Em dez dias, o governo do Estado planeja anunciar um projeto de financiamento para a troca de vasos sanitários em empresas e condomínios. O secretário dos Recursos Hídricos, Mauro Arce, afirma, porém, que a Prefeitura de São Paulo tem de fazer a sua parte, como o fez a de Curitiba.
A capital paranaense tem uma lei que obriga os novos prédios a preverem hidrômetros individuais e a instalação de equipamentos hidráulicos mais eficientes. Cidades como Aracaju (SE), Campo Grande (MS), Brasília e Florianópolis (SC) também têm leis que vão no mesmo sentido.
Embora o Executivo paulistano não tenha projeto para incentivar ou forçar a troca de vasos sanitários, há duas leis municipais recentes que podem incrementar o uso racional da água. Elas obrigam prédios novos a terem reservatórios para captar chuva e a prever a instalação de medidores de consumo individuais.
Segundo Guilherme Ribeiro, da vice-presidência de condomínios do Secovi-SP (sindicato de imobiliárias e construtoras), ainda são muito poucos os prédios que têm os medidores, mas a simples instalação dos equipamentos já reduz o consumo de água em 15%.
"Os hidrômetros gerais em prédios tornam mais difícil convencer as pessoas a economizarem porque elas ficam sem noção do que efetivamente gastam", diz. Ele afirma, porém, que fazer a troca em prédios antigos não compensaria porque a obra seria cara.
Já trocar os vasos e instalar aparelhos como arejadores (nas pias, para regular a saída de água) e limitadores de vazão nos chuveiros são bons investimentos. Ribeiro afirma que, fazendo isso, é possível reduzir em até 70% o consumo de água -segundo maior gasto de condomínios, atrás apenas da folha de pagamentos.
O Secovi-SP tem um fórum permanente para discutir o uso racional da água e formas de implementá-lo. Um dos objetivos é convencer construtoras e incorporadoras a projetar empreendimentos ambientalmente corretos e, assim, ganhar no diferencial.


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