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ABASTECIMENTO
Substituição de 240 mil modelos antigos por novos, que usam 1/5 de água, pouparia 1.067 litros por segundo
Troca de vaso é arma contra racionamento
MARIANA VIVEIROS
SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Se a Grande São Paulo trocasse
só 240 mil vasos sanitários antigos
por modelos novos, que gastam
1/5 da água consumida tradicionalmente para escoar os resíduos,
economizaria praticamente o que
é tirado por segundo do sistema
Alto Cotia (1.100 litros), que entra
hoje em racionamento e tinha ontem 5,3% de sua capacidade -a
mais baixa de todos os tempos.
A conta é simples. Um vaso fabricado antes de 2001 gasta em
torno de 30 litros de água por descarga. Numa casa com quatro
ocupantes, cada um deles usa o
vaso, em média, quatro vezes ao
dia -logo o consumo num dia
normal é de 480 litros. Multiplicado por 240 mil vasos, o gasto vai a
115,2 milhões de litros diários, ou
1.333 litros por segundo. Um vaso
que usa seis litros de água por descarga gasta 266 l/s. A economia é
de 1.067 litros por segundo.
As estimativas numéricas são de
estudo feito pelo deputado federal
e ex-secretário de Estado dos Recursos Hídricos, Antonio Carlos
de Mendes Thame (PSDB-SP),
autor de um projeto de lei federal
que estabelece a instalação de
equipamentos hidráulicos menos
consumistas como diretriz para
todas as cidades brasileiras.
O ex-secretário, que enfrentou
dois racionamentos em sua gestão, dá o alerta: é preciso começar
já a trocar as bacias na região metropolitana, dando prioridade às
áreas abastecidas pelos sistemas
Alto Cotia, Cantareira e Alto Tietê
-que estão em pior situação.
"Não se deve esperar que a Sabesp faça isso. É preciso uma atitude de governo, como ocorreu
em Nova York, Los Angeles e na
Cidade do México", sustenta.
Nessas cidades, foram implementadas leis e políticas de isenção tributária e incentivos financeiros
para trocar os equipamentos.
Os resultados da conta com 240
mil vasos é só uma amostra do
potencial de economia da medida. A estimativa é que a maioria
dos cerca de 50 milhões de privadas instaladas na Grande São
Paulo ainda sejam do modelo antigo, que deixou definitivamente
de ser produzido em 2000, por determinação da ABNT (Associação
Brasileira de Normas Técnicas).
Desde o início deste ano, os fabricantes só podem colocar no
mercado o vaso que gasta 6,8 litros. O preço médio é de R$ 50, diz
Thame. A diferença desses equipamentos é que eles têm um sifão
mais estreito, o que facilita a sucção dos resíduos e exige, portanto, menos água para empurrá-los.
Em dez dias, o governo do Estado planeja anunciar um projeto
de financiamento para a troca de
vasos sanitários em empresas e
condomínios. O secretário dos
Recursos Hídricos, Mauro Arce,
afirma, porém, que a Prefeitura de
São Paulo tem de fazer a sua parte,
como o fez a de Curitiba.
A capital paranaense tem uma
lei que obriga os novos prédios a
preverem hidrômetros individuais e a instalação de equipamentos hidráulicos mais eficientes. Cidades como Aracaju (SE),
Campo Grande (MS), Brasília e
Florianópolis (SC) também têm
leis que vão no mesmo sentido.
Embora o Executivo paulistano
não tenha projeto para incentivar
ou forçar a troca de vasos sanitários, há duas leis municipais recentes que podem incrementar o
uso racional da água. Elas obrigam prédios novos a terem reservatórios para captar chuva e a
prever a instalação de medidores
de consumo individuais.
Segundo Guilherme Ribeiro, da
vice-presidência de condomínios
do Secovi-SP (sindicato de imobiliárias e construtoras), ainda são
muito poucos os prédios que têm
os medidores, mas a simples instalação dos equipamentos já reduz o consumo de água em 15%.
"Os hidrômetros gerais em prédios tornam mais difícil convencer as pessoas a economizarem
porque elas ficam sem noção do
que efetivamente gastam", diz.
Ele afirma, porém, que fazer a troca em prédios antigos não compensaria porque a obra seria cara.
Já trocar os vasos e instalar aparelhos como arejadores (nas pias,
para regular a saída de água) e limitadores de vazão nos chuveiros
são bons investimentos. Ribeiro
afirma que, fazendo isso, é possível reduzir em até 70% o consumo de água -segundo maior
gasto de condomínios, atrás apenas da folha de pagamentos.
O Secovi-SP tem um fórum permanente para discutir o uso racional da água e formas de implementá-lo. Um dos objetivos é
convencer construtoras e incorporadoras a projetar empreendimentos ambientalmente corretos
e, assim, ganhar no diferencial.
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