São Paulo, sábado, 22 de outubro de 2005

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O DUELO DO REFERENDO

Maioria dos entrevistados da região (53%) mostrou-se favorável à proibição da venda de armas

"República" do Nordeste daria vitória ao "sim"

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma hipotética República Nordestina baniria o comércio de armas de fogo. Única dentre as macrorregiões do país em que a maioria dos entrevistados manifestou-se favorável ao "sim" (53% a 47% dos votos válidos), o Nordeste é dono de alguns dos piores indicadores sociais.
Exemplos: Segundo o IBGE, em 2002, os trabalhadores do Nordeste recebiam, por hora, 53% do rendimento auferido no Sudeste. Em 2003, esse percentual ficou ainda pior. Passou para 50%. No mesmo ano, registravam-se na região 700 mil crianças de 5 a 13 anos trabalhando para ajudar a manter suas famílias.
O "sim" aparece com mais freqüência onde são piores os indicadores sociais. Assim, a proibição da venda de armas de fogo e munição logrou seus melhores resultados (o que não significa vitória) entre mulheres, negros, cidadãos com escolaridade fundamental e mais baixo padrão de renda familiar.

Rendimento
Segundo o IBGE, o rendimento médio mensal para trabalhadores do sexo masculino é de R$ 719,90, enquanto que o de mulheres trabalhadoras é de R$ 505,90.
Na pesquisa, 47% das mulheres declararam voto no "sim", contra apenas 39% de "sim" entre os homens. Uma diferença de 8 pontos percentuais.
Quando se faz o cruzamento segundo a cor de pele autoatribuída pelos entrevistados, o padrão se repete, o "sim" aparecendo mais freqüentemente na parcela mais vulnerável da população.
Segundo o Censo 2000, a população negra e parda é a mais pobre, a que tem menos acesso à educação, ao trabalho e aos serviços públicos básicos.
Os negros desempregados têm, em média, mais tempo de estudo que os negros empregados -o que não acontece entre os brancos, aponta o IBGE. Os negros ocupados estudaram 7,7 anos e os desempregados, 8,0 anos. Os trabalhadores brancos têm mais tempo de estudo, estejam eles empregados (9,8 anos) ou procurando emprego (9,5 anos).
A cada mil nascimentos, morrem 37,3 crianças brancas e 62,3 negras e pardas. A mortalidade entre menores de 5 anos é de 45,7 crianças brancas e de 76,1 negras e pardas. Do percentual de 27,3% domicílios brasileiros chefiados por mulheres, as negras chefiam os mais pobres. Entre os analfabetos de 15 anos ou mais, 8,3% são brancos, 21% são negros e 19,6% são pardos.
36% dos autodeclarados brancos preferem o "sim", índice que cresce para 44% entre os negros e chega a 48% entre os pardos.
O contraste fica ainda mais dramático na confrontação das intenções de votos das mulheres brancas e de não-brancas: brancas dão maioria para o "não". Só 40% escolheram o "sim".
Nas "não-brancas" (negras e pardas), observa-se um empate técnico entre "sim" e "não". São 10 pontos percentuais a mais para o "sim". (LC)


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