São Paulo, terça-feira, 22 de dezembro de 2009

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Estudante é atacado com taco de beisebol em livraria

Henrique Pereira, 21, folheava livro quando foi golpeado; ele teve traumatismo craniano

Detido, homem disse não saber o motivo da agressão; segundo sua mãe, ele tem histórico de problemas psiquiátricos e internações

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

O estudante Henrique Carvalho Pereira, 21, estava agachado em um corredor de estantes na loja de artes da Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na avenida Paulista.
Tinha a atenção focada em um livro, que folheava já havia alguns minutos. Nem percebeu a aproximação, por trás, de Alessandre Fernando Aleixo, 38, que calmamente retirou da mochila azul e preta um taco de beisebol também de cor azul, em que estava escrito "home run" -nome que se dá à rebatida do beisebol que faz a fama dos maiores jogadores do esporte. Eram 14h10 de ontem. Foi um só golpe na cabeça do estudante. Traumatismo craniano. Estado gravíssimo.
O circuito interno da loja registrou toda a cena. Vítima e agressor não chegaram nem sequer a conversar. Aparentemente, segundo a polícia, não se conheciam. Aleixo atacou Pereira como poderia ter atacado qualquer pessoa. No balcão de atendimento, ficou a mancha de sangue -a loja, que continuou funcionando, apenas colocou um tapume para bloquear olhares curiosos.
Com o estudante jogado no chão, Aleixo saiu andando. O taco de beisebol, em que também estava escrito à mão "50% helicóptero" e "1ª Ré Visão Arigatô", ele guardou na mochila. E tirou dela um facão de 50 centímetros (só de lâmina).
Eram 14h15 quando topou com policiais. O PM pediu que ele largasse o facão. Aleixo largou, mas fez menção de buscar o taco na mochila. O PM o proibiu e mandou que ele se ajoelhasse. Foi atendido.
Levou-se o rapaz atacado para o Hospital das Clínicas, onde passou por cirurgia. A Folha apurou que o estado dele era gravíssimo.
Essa não foi a primeira vez que Aleixo atacou na livraria. Funcionários do local já o conheciam. No início do ano passado, ele espatifou uma vitrine no mesmo setor de Artes. Na época, Pedro Herz, proprietário da Cultura, comentou: "Ele não falava coisa com coisa. Acho que era alguém doente, completamente confuso. Nos Estados Unidos, eles saem metralhando. Aqui, felizmente, ninguém se machucou".
A mãe de Aleixo conversou com a reportagem da Folha às 17h, quando foi informada do ocorrido. Chorando muito, ela disse que o filho tem um histórico de problemas psiquiátricos e internações.
"Ele fala sozinho, fica fora de si, tem obsessão pelo [corredor de F-1] Ayrton Senna. Vive à base de medicamentos", afirmou. Segundo a mãe do agressor, o filho estudou engenharia elétrica no Mackenzie: "Fez até o terceiro ano, mas não concluiu. Acabou se formando em educação física".
Ontem, ao ser preso, Aleixo vestia bermudas e camiseta de salva-vidas. Um investigador que testemunhou a conversa dele com o delegado disse sobre o homem: "Ele é 13. É 13 vezes 13". Na gíria, "13" designa "doidão", "biruta". Perguntou-se a Aleixo o porquê do ataque. "Não sei", ele disse, e completou: "Leio muito Platão e a Bíblia Sagrada".
A mãe de Aleixo, que vive na capital paulista, não sabia que ele estava por perto. Há um mês e meio, ele foi morar em Itapetininga (170 km de São Paulo) com a avó e os parentes por parte de pai, já morto. Na mochila, os policiais encontraram uma passagem de ônibus de volta para o interior.
Aleixo, que já havia trabalhado no Hotel Rennaissance e no Sesc Pinheiros, agora fazia bico no restaurante de um primo, em Itapetininga. Ontem, ele foi indiciado sob acusação de tentativa de homicídio. A mãe dele quer ir visitar o estudante, para pedir desculpa.


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