São Paulo, Domingo, 23 de Janeiro de 2000


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Pesquisa mostra onde se fixam migrantes quando chegam a SP; Grajaú, na zona sul, recebe nordestino, e Jardins abriga sulista
Migrantes formam "guetos" em bairros

da Reportagem Local

Churrasco no Jardim Paulista. Acarajé no Grajaú. Tutu de feijão e pato no tucupi no Jardim Ângela. O almoço de domingo nos diferentes bairros de São Paulo refletem a diversidade cultural do Brasil e a concentração de migrantes de todos os Estados pelas regiões da capital, que na terça-feira completa 446 anos.
Estudo feito por um urbanista paulistano mostra que os migrantes que chegam a São Paulo procuram os bairros onde já vivem seus conterrâneos.
A Folha visitou vários desses "guetos regionais" na capital e verificou que feriados e finais de semana são as ocasiões que as comunidades de migrantes se reúnem para recordar as tradições da terra de origem.
"Os migrantes que chegam são acolhidos por parentes e amigos que estão em São Paulo há mais tempo. Muitas vezes, são esses migrantes mais antigos que convidam os conterrâneos para vir a São Paulo", constatou o urbanista Kazuo Nakano, do Instituto Polis. "Na pesquisa, encontrei ruas com até 70% dos moradores vindos de uma mesma cidade."
Exemplos de formação de colônias de outros Estados em São Paulo são fartos. Nordestinos que chegam a São Paulo preferem duas regiões da cidade: o extremo sul, em bairros como Jardim Ângela e Grajaú, e a Vila Brasilândia, na zona noroeste.
Já as pessoas oriundas da região Sul procuram bairros mais centrais, como o Jardim Paulista, preferido dos gaúchos, e Vila Mariana, onde está a maior concentração de paranaenses.
Para urbanistas, a divisão dos migrantes pela cidade reflete a desigualdade social brasileira. Quem chega de Estado mais pobre vai para bairros sem estrutura. Já os advindos de Estados com economia forte, ocupam os locais com melhor qualidade de vida.
"A correspondência entre o nível de renda e a instalação do migrante é clara: quanto mais pobre, mais longe do centro irá viver", afirma José Marcos Pinto da Cunha, professor do Núcleo de Estudos de População da Unicamp.
Pinto da Cunha destaca que, via de regra, nordestinos vêm a São Paulo em busca de trabalhos braçais e com menos qualificação, devido à falta de oportunidades da região. Por outro lado, migrantes de Estados mais estruturados só vêm a São Paulo se tiverem proposta de emprego melhor do que exercem no local de origem.
Por isso, há o predomínio absoluto de nordestinos entre a população que migrou para São Paulo. "A migração de classe média nunca foi significativa. São Paulo sempre foi visto como um lugar onde os mais pobres tentam "fazer a América'", teoriza o arquiteto Nabil Bonduki, professor da Universidade Federal de São Carlos.
A desigualdade social entre os migrantes pode ser comprovada pelas diferentes locais onde os migrantes se reúnem em dias de festa. No Jardim Paulista, 50 gaúchos costumam se reunir em uma churrascaria para matar a saudade da comida do Rio Grande.
Já nordestinos do Grajaú se encontram em simples bares, onde comem carne de sol ao som de forró. (OTÁVIO CABRAL)


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