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Pesquisa mostra onde se fixam migrantes quando chegam a SP; Grajaú, na zona sul, recebe nordestino, e Jardins abriga sulista
Migrantes formam "guetos" em bairros
da Reportagem Local
Churrasco no Jardim Paulista.
Acarajé no Grajaú. Tutu de feijão
e pato no tucupi no Jardim Ângela. O almoço de domingo nos diferentes bairros de São Paulo refletem a diversidade cultural do
Brasil e a concentração de migrantes de todos os Estados pelas
regiões da capital, que na terça-feira completa 446 anos.
Estudo feito por um urbanista
paulistano mostra que os migrantes que chegam a São Paulo procuram os bairros onde já vivem
seus conterrâneos.
A Folha visitou vários desses
"guetos regionais" na capital e verificou que feriados e finais de semana são as ocasiões que as comunidades de migrantes se reúnem para recordar as tradições da
terra de origem.
"Os migrantes que chegam são
acolhidos por parentes e amigos
que estão em São Paulo há mais
tempo. Muitas vezes, são esses
migrantes mais antigos que convidam os conterrâneos para vir a
São Paulo", constatou o urbanista
Kazuo Nakano, do Instituto Polis.
"Na pesquisa, encontrei ruas com
até 70% dos moradores vindos de
uma mesma cidade."
Exemplos de formação de colônias de outros Estados em São
Paulo são fartos. Nordestinos que
chegam a São Paulo preferem
duas regiões da cidade: o extremo
sul, em bairros como Jardim Ângela e Grajaú, e a Vila Brasilândia,
na zona noroeste.
Já as pessoas oriundas da região
Sul procuram bairros mais centrais, como o Jardim Paulista, preferido dos gaúchos, e Vila Mariana, onde está a maior concentração de paranaenses.
Para urbanistas, a divisão dos
migrantes pela cidade reflete a desigualdade social brasileira.
Quem chega de Estado mais pobre vai para bairros sem estrutura. Já os advindos de Estados com
economia forte, ocupam os locais
com melhor qualidade de vida.
"A correspondência entre o nível de renda e a instalação do migrante é clara: quanto mais pobre,
mais longe do centro irá viver",
afirma José Marcos Pinto da Cunha, professor do Núcleo de Estudos de População da Unicamp.
Pinto da Cunha destaca que, via
de regra, nordestinos vêm a São
Paulo em busca de trabalhos braçais e com menos qualificação,
devido à falta de oportunidades
da região. Por outro lado, migrantes de Estados mais estruturados
só vêm a São Paulo se tiverem
proposta de emprego melhor do
que exercem no local de origem.
Por isso, há o predomínio absoluto de nordestinos entre a população que migrou para São Paulo.
"A migração de classe média nunca foi significativa. São Paulo
sempre foi visto como um lugar
onde os mais pobres tentam "fazer
a América'", teoriza o arquiteto
Nabil Bonduki, professor da Universidade Federal de São Carlos.
A desigualdade social entre os
migrantes pode ser comprovada
pelas diferentes locais onde os migrantes se reúnem em dias de festa. No Jardim Paulista, 50 gaúchos
costumam se reunir em uma
churrascaria para matar a saudade da comida do Rio Grande.
Já nordestinos do Grajaú se encontram em simples bares, onde
comem carne de sol ao som de
forró.
(OTÁVIO CABRAL)
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