São Paulo, Domingo, 23 de Janeiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Desemprego e fuga de indústrias põem fim a período migratório e criam déficit de 95 mil pessoas
Migrantes passam a ser "exportados" na década de 90

da Reportagem Local

Grande oásis para os migrantes entre as décadas de 50 e 80, a cidade de São Paulo passou a exportar população de forma mais acentuada a partir do final da década de 90. A falta de empregos, a crise econômica, a saída de indústrias para o interior e outros Estados e o alto preço da terra na cidade são as principais explicações para o êxodo paulistano.
Pelos dados da Fundação Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), entre 1980 e 1991, São Paulo teve um déficit migratório de 68.724 pessoas. No último período analisado, entre 1991 e 1996, a diferença foi ainda maior: 95.677 pessoas.
Nesse período, chegaram à capital 448.003 pessoas. Por outro lado, deixaram a cidade 543.680 moradores. O fenômeno é o principal responsável pela baixa taxa de crescimento de SP, que atingiu 0,40% ao ano na última década.
O êxodo é dividido em três correntes: dentro da região metropolitana, para o interior e rumo aos Estados de origem. A explicação é do demógrafo José Carlos Pinto da Cunha, do Núcleo de Estudos de População da Unicamp.
A principal corrente é a intra-metropolitana. Devido ao preço elevado dos terrenos na cidade, moradores de São Paulo estão se transferindo para outros municípios da região metropolitana. A exceção é o ABCD, que sofre processo semelhante ao da capital.
A migração intra-metropolitana é verificada tanto nas classes mais baixas quanto na elite paulistana. Pinto da Cunha explica que a população de menor renda procura cidades-dormitório como Barueri, Franco da Rocha e Guarulhos, que se tornou o segundo maior município do Estado graças a essa migração.
Já paulistanos de classe média e alta procuram condomínios fechados, como Granja Viana e Alphaville, onde podem viver em casas mais espaçosas e com maior sensação de segurança
O demógrafo avalia que 800 mil pessoas mudaram de cidade dentro da Grande São Paulo na década de 90. "Há uma movimentação intensa em busca de moradia melhor e mais barata, mas sem abandonar o emprego e as raízes", afirma Pinto da Cunha.
A segunda onda migratória tem como destino o interior do Estado. O eixo principal, explica Pinto da Cunha, são as rodovias Anhanguera e Washington Luís, que levam os migrantes rumo às regiões de Campinas, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto.
A avaliação do núcleo da Unicamp é que 600 mil pessoas deixaram a capital rumo ao interior na década de 90. Como não há tantas oportunidades de emprego, a migração em massa acaba gerando uma deterioração na qualidade de vida desses municípios (sub-moradias e crescimento da criminalidade).
Por último, há o movimento de retorno dos migrantes para suas regiões de origem. Além das dificuldades de viver em São Paulo, os crescentes investimentos em turismo, serviço e indústria na região Nordeste vêm atraindo moradores de volta. Segundo Pinto da Cunha, pelo menos 400 mil pessoas voltaram à sua região de origem na última década.
Os três movimentos, aliados à redução da taxa de fecundidade, devem fazer com que São Paulo passe a ter a população reduzida a cada ano."A tendência é que São Paulo tenha um crescimento vegetativo negativo", afirmou o urbanista Nabil Bonduki.
(OTÁVIO CABRAL)


Texto Anterior: Imigrantes legais representam 5% da população
Próximo Texto: Melhor presente seria político honesto
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.