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Desemprego e fuga de indústrias põem fim a período migratório e criam déficit de 95 mil pessoas
Migrantes passam a ser "exportados" na década de 90
da Reportagem Local
Grande oásis para os migrantes
entre as décadas de 50 e 80, a cidade de São Paulo passou a exportar
população de forma mais acentuada a partir do final da década
de 90. A falta de empregos, a crise
econômica, a saída de indústrias
para o interior e outros Estados e
o alto preço da terra na cidade são
as principais explicações para o
êxodo paulistano.
Pelos dados da Fundação Seade
(Fundação Sistema Estadual de
Análise de Dados), entre 1980 e
1991, São Paulo teve um déficit
migratório de 68.724 pessoas. No
último período analisado, entre
1991 e 1996, a diferença foi ainda
maior: 95.677 pessoas.
Nesse período, chegaram à capital 448.003 pessoas. Por outro
lado, deixaram a cidade 543.680
moradores. O fenômeno é o principal responsável pela baixa taxa
de crescimento de SP, que atingiu
0,40% ao ano na última década.
O êxodo é dividido em três correntes: dentro da região metropolitana, para o interior e rumo aos
Estados de origem. A explicação é
do demógrafo José Carlos Pinto
da Cunha, do Núcleo de Estudos
de População da Unicamp.
A principal corrente é a intra-metropolitana. Devido ao preço
elevado dos terrenos na cidade,
moradores de São Paulo estão se
transferindo para outros municípios da região metropolitana. A
exceção é o ABCD, que sofre processo semelhante ao da capital.
A migração intra-metropolitana é verificada tanto nas classes
mais baixas quanto na elite paulistana. Pinto da Cunha explica
que a população de menor renda
procura cidades-dormitório como Barueri, Franco da Rocha e
Guarulhos, que se tornou o segundo maior município do Estado graças a essa migração.
Já paulistanos de classe média e
alta procuram condomínios fechados, como Granja Viana e Alphaville, onde podem viver em
casas mais espaçosas e com maior
sensação de segurança
O demógrafo avalia que 800 mil
pessoas mudaram de cidade dentro da Grande São Paulo na década de 90. "Há uma movimentação
intensa em busca de moradia melhor e mais barata, mas sem abandonar o emprego e as raízes", afirma Pinto da Cunha.
A segunda onda migratória tem
como destino o interior do Estado. O eixo principal, explica Pinto
da Cunha, são as rodovias
Anhanguera e Washington Luís,
que levam os migrantes rumo às
regiões de Campinas, Ribeirão
Preto e São José do Rio Preto.
A avaliação do núcleo da Unicamp é que 600 mil pessoas deixaram a capital rumo ao interior
na década de 90. Como não há
tantas oportunidades de emprego, a migração em massa acaba
gerando uma deterioração na
qualidade de vida desses municípios (sub-moradias e crescimento da criminalidade).
Por último, há o movimento de
retorno dos migrantes para suas
regiões de origem. Além das dificuldades de viver em São Paulo,
os crescentes investimentos em
turismo, serviço e indústria na região Nordeste vêm atraindo moradores de volta. Segundo Pinto
da Cunha, pelo menos 400 mil
pessoas voltaram à sua região de
origem na última década.
Os três movimentos, aliados à
redução da taxa de fecundidade,
devem fazer com que São Paulo
passe a ter a população reduzida a
cada ano."A tendência é que São
Paulo tenha um crescimento vegetativo negativo", afirmou o urbanista Nabil Bonduki.
(OTÁVIO CABRAL)
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