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JUVENTUDE ENCARCERADA
Organização analisará relatório sobre supostas irregularidades; fundação discorda do texto
Febem desobedece OEA, dizem entidades
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Relatório de entidades brasileiras de direitos humanos enviado à
Corte Interamericana da OEA
(Organização dos Estados Americanos) aponta supostas irregularidades no complexo da Febem
no Tatuapé, zona leste de São
Paulo. Entre elas, denúncias de
abuso sexual de internos pelos
próprios colegas, problemas de
atendimento médico, descontrole, agressão de internos e falta de
atividades profissionalizantes.
O documento, enviado anteontem, pode complicar a situação do
Brasil na Corte, instância jurídica
mais alta no sistema interamericano de defesa dos direitos humanos. A instituição tem poder de
determinar medidas e impor sanções econômicas e políticas ao
país que não seguir suas decisões
-além da repercussão internacional negativa. Até hoje, nenhuma sanção foi aplicada ao Brasil.
A Febem, administrada pelo governo de Geraldo Alckmin
(PSDB), afirma que conseguiu diminuir os conflitos no Tatuapé e
promete desativar o complexo até
o final do ano. O governo já tinha prometido fechar o local em 2005.
Em novembro, uma acusação
de maus-tratos e espancamento
de internos de complexo do Tatuapé foi encaminhada à Corte da
OEA. No mês seguinte, o órgão
determinou que o governo adotasse medidas para proteger a integridade física dos adolescentes.
Com o relatório, as entidades
querem mostrar que essas medidas não foram cumpridas. Em
quatro visitas ao complexo, entre
dezembro de 2005 e janeiro deste
ano, os integrantes das entidades
conversaram com internos, funcionários, tiraram fotos e tiveram
acesso a prontuários médicos.
"A Febem não cumpriu as medidas. As irregularidades continuam", diz Beatriz Affonso, do
Cejil (Centro pela Justiça e pelo
Direito Internacional). As entidades dizem que prontuários informavam que os internos foram encaminhados a prontos-socorros
com suspeita de violência sexual.
A situação de um adolescente,
que teria perdido a visão de um
olho com um tiro de espingarda
com bala de borracha, também
foi incluída no texto. Agentes do
GIR (Grupo de Intervenção Rápida) da Febem teriam dito que o tiro foi dado para o alto, mas depois
ricocheteou e atingiu o interno.
Segundo outros jovens, um agente atirou na direção do garoto a
uma distância de três metros.
Segundo as entidades, o caso de
um interno mordido por um cão
-que ainda não se sabe se era da
Polícia Militar ou do GIR- mostra deficiência no atendimento.
No prontuário, o médico da Febem indicou a vacina anti-rábica.
Mas ela não foi aplicada. Em outro caso, um interno quebrou os
tornozelos ao cair do telhado em
um motim, em 25 de dezembro
de 2005. Internos falam que foram obrigados a saltar por agentes da Febem. Segundo as entidades, o garoto foi levado ao hospital mais de 24 horas após a queda.
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