São Paulo, domingo, 23 de abril de 2000


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SAÚDE
Déficit de atenção também atinge adultos

ALCINO BARBOSA JR.
especial para a Folha

Desligado, desorganizado, irrequieto, estabanado e inconsequente. Quem não conhece alguém assim? Essas características, porém, muitas vezes motivo de risos ou críticas, podem ser sintomas de um transtorno -o distúrbio de déficit de atenção.
Até pouco tempo, a medicina acreditava que esse distúrbio era um problema exclusivo da infância. Hoje, porém, sabe-se que metade das crianças com DDA, como o mal é conhecido, vão manter os sintomas na vida adulta.
Os sinais da doença são dificuldade muito grande de concentração, acompanhada ou não de hiperatividade (não conseguir parar de se movimentar) e/ou impulsividade (agir sem pensar).
Eles não devem ser confundidos com ansiedade, depressão, hipertireoidismo (aumento dos hormônios da tireóide) ou estresse (veja quadro ao lado).
O distúrbio obrigatoriamente começa na infância, e os sintomas devem persistir por mais do que seis meses para que um diagnóstico seguro possa ser concluído.
Segundo Mauro Muszkat, professor de neuropediatria da Unifesp, o transtorno de déficit de atenção "tem uma base genética, mas a forma de transmissão ainda não foi determinada".
A causa do distúrbio é um desequilíbrio das substâncias (neurotransmissores) que fazem a comunicação no cérebro.
A vida profissional, afetiva e familiar dos portadores do DDA pode ser muito afetada. Quando a pessoa não consegue mais se adaptar ao convívio social, é hora de procurar ajuda médica.
No Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de SP foi criado um grupo de pesquisa e tratamento do DDA em adultos, o Prodath (Projeto Déficit de Atenção e Hiperatividade no Adulto).
"Muitas pessoas ainda acham que a distração exagerada e a inquietação são apenas características da pessoa, o seu "jeitão". Por isso, poucos procuram tratamento na vida adulta", diz Mário Louzã Neto, coordenador do Prodath.

Tratamento
O agendamento de consultas no Prodath é feito por telefone. Médicos fazem uma triagem dos pacientes às segundas, das 8h às 10h.
O acompanhamento médico de pacientes com DDA inclui medicações e psicoterapia (tratamento psicológico).
Os remédios agem estimulando as regiões do cérebro responsáveis pela atenção, que costumam estar com baixa atividade no DDA. Os efeitos colaterais são insônia e perda de peso.
No Brasil, as medicações mais utilizadas são a Ritalina (metilfenidato, um tipo de anfetamina) e os antidepressivos.
No segundo semestre deste ano, um coquetel de duas anfetaminas -o Adderall- deve ser lançado no mercado brasileiro, após bons resultados clínicos nos EUA.
"Entre 70% e 80% dos pacientes se beneficiam com o uso desses remédios, que chamamos de psicoestimulantes", diz Paulo Mattos, professor de psiquiatria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Mattos coordena o Geda (Grupo de Estudos do Déficit de Atenção), que está testando duas novas medicações para tratar o DDA. A partir do segundo semestre, o grupo também atenderá adultos com o problema. O agendamento de consultas é feito por telefone.
Mas nem todos os sintomas do distúrbio conseguem ser combatidos com os tratamentos atuais. "Essas medicações melhoram a capacidade de concentração do paciente, mas não agem sobre o desempenho no planejamento das ações", afirma Mauro Muszkat, da Unifesp.

Apoio
A ABDA (Associação Brasileira do Déficit de Atenção) é uma entidade sem fins lucrativos, que surgiu no Rio de Janeiro com o objetivo de divulgar informações sobre o distúrbio no país.
Fazem parte da entidade portadores do DDA, parentes, amigos, médicos, psicólogos, fonoaudiólogos e pedagogos.
Segundo o psiquiatra da UFRJ Paulo Mattos, vice-presidente da associação, a ABDA promove eventos específicos para a comunidade médica e palestras mensais abertas ao público.


Telefones: Prodath 0/xx/11/3069-6971 ou 3063-2163 (segundas, das 8h às 10h), Geda 0/xx/21/295-3449, ramal 246 (segunda a sexta, das 8h às 16h); Na Internet: Associação Brasileira do Déficit de Atenção (www.dda.med.br), Diabinhos (http://neurociencias.nu/pesquisa/add.htm), Hiperatividade (http://talk.to/hiperatividade)


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