São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002

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VIOLÊNCIA

Corretor de imóveis sequestrado em Cotia relatou que ficou sem água e comida nos três primeiros dias de cativeiro

"Dizia não ter dinheiro, e eles batiam mais"

Almeida Rocha/Folha Imagem
Policial escolta Rodrigo Gonçalves, Rejane de Oliveira e Evani Andrade da Silva (a partir da esq.), acusados de participar de sequestro


DA REPORTAGEM LOCAL

"Apanhava todo dia. Ficavam perguntando pelo meu dinheiro. Dizia que não tinha e eles batiam mais." O relato do corretor de imóveis Rubens da Silva Nunes, 54, ganha mais dramaticidade com a visão dos seus hematomas no rosto, cabeça, braços e punhos.
Além dos ferimentos provocados pelas algemas e pelas cordas, os frequentes socos e coronhadas levados em nove dias de tortura no cativeiro também provocaram lesões nas pernas e nas costas.
Nunes relembra que permaneceu vendado, amarrado e algemado quase todo o tempo, que tomou só um banho e que os sequestradores não permitiam que ele fosse ao banheiro.
Segundo o corretor, os sequestradores o espancavam para que ele apontasse os bens da família. Os hematomas nas costas foram causados por um pedaço de madeira ao qual Nunes foi amarrado.
Para ele, os primeiros dias de cativeiro foram os piores. No primeiro cativeiro, ficou três dias sem alimento e água. No segundo esconderijo, para onde foi levado à noite em uma Kombi, lhe deram bananas e água, mas o mantiveram o tempo todo vendado.
Na sexta-feira passada foi levado para o que ele acredita ser um sobrado, onde foi mantido amarrado e algemado. Independentemente do local do cativeiro, Nunes era espancado todos os dias pelos sequestradores.
O corretor contou que falou três vezes com a família por telefone. Em todas as ocasiões, os sequestradores pediram R$ 500 mil, mas a polícia garante que o resgate pago foi inferior a R$ 50 mil. A Folha apurou que o resgate ficou em cerca de R$ 25 mil.
O corretor contou que, no dia do sequestro, no último dia 13, saiu de Alphaville e rumou para Cotia, onde tinha um encontro de negócios com uma mulher que identificou como Ana. Ele chegou ao local e teve de esperar por dez minutos. Assim que ela chegou, deu sinal de luz e colocou o carro na garagem. Nesse momento, ele foi abordado por seis homens.
A família do corretor entregou o dinheiro do resgate, sem avisar a polícia, às 19h30 de anteontem, em Osasco (Grande SP). As prisões ocorreram a partir das 22h.
A vítima foi solta ontem, na estrada do M'Boi Mirim, na região do Capão Redondo. Nunes estava descalço, de bermuda e com uma camiseta do Corinthians.
Um motorista que passava pelo local o levou a um Posto Comunitário da Polícia Militar localizado nas proximidades, onde Nunes conseguiu avisar a mulher.
Com muita fome, ele foi alimentado com café com leite e pão com manteiga e recebeu um par de botas de um policial.

Celular
A Secretaria Estadual da Administração Penitenciária disse que só vai se manifestar sobre o fato de um preso organizar um sequestro de dentro da cadeia quando for comunicada oficialmente do caso. Mas, segundo a secretaria, será aberta uma investigação assim que houver a notificação pela polícia.
A Penitenciária do Estado está entre 20 unidades prisionais que vão receber um bloqueador de sinal de telefone celular. Segundo a secretaria, o edital para a compra do equipamento -que custa de R$ 70 mil a R$ 120 mil- deve ser publicado em 15 dias.
O telefone celular foi a principal arma da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) para organizar seus integrantes e simpatizantes e realizar uma megarrebelião dos presídios do Estado em fevereiro de 2001.
Depois disso, a secretaria começou um plano piloto para testar o bloqueador de celular. A intenção é que sistema esteja implantado nos 20 presídios de maior periculosidade até o final do ano.

Colaborou o "Agora"


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