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Roubo de remédios supera falsificações
Estudo alerta que esse é o principal problema no setor; SP registrou um aumento de 20% nos casos roubo em um ano
Remédio roubado pode oferecer risco ao paciente por causa das condições de armazenamento, que podem tornar droga ineficaz
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O roubo de carga de remédios é hoje o principal ator do
mercado ilegal de medicamentos no país, superando as falsificações. A revelação consta em
um relatório recém-concluído
pela FGV (Fundação Getúlio
Vargas) preparado a pedido do
Max Planck Institute, um órgão do governo alemão que estuda o tema em vários países.
Em 2007, o Estado de São
Paulo registrou 531 cargas roubadas de medicamentos -número 20% superior ao registrado em 2006- e um prejuízo de
R$ 18,5 milhões, segundo o Sindicato de Empresas de Transporte de Cargas (Setcesp).
No primeiro trimestre deste
ano, foram roubadas 130 cargas
de produtos farmacêuticos no
território paulista -é o quarto
tipo de carga mais visada. No
país, não há informações confiáveis a respeito. A Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária) só registra os casos informados pelas empresas
farmacêuticas. Em 2007, por
exemplo, foram 133 registros.
Os roubos atingem todos os
tipos de remédios: desde o antigo analgésico Cibalena A (Novartis), cuja embalagem com
quatro comprimidos custa em
torno de R$ 1,00, até drogas recém-aprovadas no Brasil, como
o Acomplia (rimonabanto), fabricado pela Sanofi-Aventis,
comercializada a um preço médio de R$ 200.
Um dos problemas do remédio roubado é o risco que ele representa à saúde do consumidor. Ao entrar no mercado informal, ele perde a segurança
quanto às condições de armazenamento, segundo Dirceu
Raposo de Mello, diretor-presidente da Anvisa. "Ele pode tanto causar dano pela mudança
da sua estrutura molecular como se tornar ineficaz. Um antibiótico, por exemplo, não vai
combater a infecção", diz.
O assessor de segurança do
Setcesp, Paulo Roberto de Souza, explica que as cargas de medicamentos obedecem a determinações específicas. "Há remédios que devem ser mantidos entre 15 C e 30 C. Esse
pessoal deixa a carga no sol, em
qualquer lugar."
Segundo o relatório da FGV,
que contou com entrevistas
com delegados e promotores,
há ao menos 50 grupos especializados em roubo de carga de
medicamentos agindo no país.
Em geral, diz o texto, eles têm
informações que saem de dentro das próprias companhias
farmacêuticas sobre a data da
saída, o conteúdo e o destino
das cargas de remédios.
A maioria dos roubos ocorre
durante o trajeto da carga, nas
rodovias ou no perímetro urbano das grandes cidades. Em São
Paulo, por exemplo, metade do
roubo de cargas ocorrido em
2007 foi dentro da cidade.
Isso está levando as empresas a investirem cada vez mais
na segurança de seus produtos,
que inclui até escolta com helicópteros. O valor do seguro, por
exemplo, chega a 15% do custo
da mercadoria. Ainda assim, algumas empresas têm se recusado a segurar esse tipo de carga
em razão do alto valor agregado
e do risco que ela representa.
"O roubo de carga de medicamentos é um problema endêmico no Brasil. Há um alto nível de informalidade, a mercadoria roubada é facilmente
reintroduzida no mercado. É
mais fácil roubar a carga do que
ter um laboratório para falsificar um medicamento", afirma
Marta Machado, professora de
direito criminal da FGV e coordenadora do estudo.
Segundo Machado, embora o
estudo comparativo com outros países não esteja concluído, essa característica -de haver mais incidência de roubo-
parece ser bem peculiar ao Brasil. Nos EUA e Europa, a principal preocupação tem sido as
drogas falsificadas.
Dirceu Mello, da Anvisa, afirma que na última década os casos de falsificações foram reduzidos -de 178 registros em
1998 contra sete em 2007.
O relatório da FGV aponta
que as estatísticas de fraudes
no Brasil não refletem a realidade. Por falta de peritos e de
laboratórios especializados em
identificar drogas falsificadas,
os policiais preferem, muitas
vezes, enquadrar o falsificador
em um crime que não requer
provas técnicas -como o de comercializar remédios não-autorizados pela Anvisa.
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