São Paulo, quarta-feira, 23 de junho de 2010

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ANÁLISE

Inegável alívio trazido pelo Rodoanel é temporário

SERGIO EJZENBERG
ESPECIAL PARA A FOLHA

O fluxo de caminhões na Bandeirantes, depois da inauguração do trecho sul do Rodoanel, revelou queda abrupta e esperada, atingindo 40% na primeira semana.
Porém, uma parte desses caminhões voltou à avenida.
Preocupante ao primeiro olhar, o fenômeno deve ser atribuído à acomodação dos condutores às novas condições de tráfego. O Rodoanel atraiu grande parte dos caminhões antes congestionados na Bandeirantes, deixando essa via livre e, portanto, uma opção interessante.
Os motoristas de caminhão, a depender do destino, passaram a comparar vantagens e desvantagens da Bandeirantes e do Rodoanel (pedágio, rodízio, extensão adicional, fluidez, tempo de percurso, conforto). E alguns voltaram à Bandeirantes.
Os caminhões a mais resultam desse fenômeno de acomodação -e não do crescimento do fluxo.
Não há risco de congestionamento iminente da Bandeirantes -algo que deverá ser mais lento, devido ao aumento da atividade econômica e do crescimento da frota.
O próprio Rodoanel, com seu inegável alívio, estará saturado em pouco mais de um ano, segundo projeção do economista Ciro Biderman, professor da FGV.
Haverá também, em um futuro próximo, um agravamento da mobilidade na cidade e na Grande SP. Isso porque o Rodoanel estimula exploração imobiliária no entorno, ampliando a mancha urbana e aumentando o deslocamento ao centro expandido, onde a maioria da população trabalha.
Apenas o trecho sul custou o equivalente a 20 km de metrô, podendo-se assim estimar que o Rodoanel custe o equivalente a 80 km de metrô, bem mais do que os 65 km de que a cidade dispõe.
Juntando esses quilômetros não construídos de metrô com quilômetros gastos em túneis, viadutos e alargamento de vias nos últimos 30 anos (e que não resolveram a mobilidade), podemos estimar que deixamos de construir 200 km de metrô.
Isso sem considerar o orçamento do "trem bala" São Paulo-Rio (equivalente a 170 km de metrô) e veículos leves sobre trilhos/pneus planejados (para que leves, se a demanda é pesada?).
A mobilidade humana em SP, com o volume carregado de impostos, deveria ser melhor. Não falta dinheiro. Falta foco no problema: metrô no centro expandido, integrado a trens de subúrbio e corredores de ônibus.


SERGIO EJZENBERG é engenheiro e mestre em transportes pela Poli-USP


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