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ANÁLISE
Inegável alívio trazido pelo Rodoanel é temporário
SERGIO EJZENBERG
ESPECIAL PARA A FOLHA
O fluxo de caminhões na
Bandeirantes, depois da
inauguração do trecho sul do
Rodoanel, revelou queda
abrupta e esperada, atingindo 40% na primeira semana.
Porém, uma parte desses caminhões voltou à avenida.
Preocupante ao primeiro
olhar, o fenômeno deve ser
atribuído à acomodação dos
condutores às novas condições de tráfego. O Rodoanel
atraiu grande parte dos caminhões antes congestionados
na Bandeirantes, deixando
essa via livre e, portanto,
uma opção interessante.
Os motoristas de caminhão, a depender do destino,
passaram a comparar vantagens e desvantagens da Bandeirantes e do Rodoanel (pedágio, rodízio, extensão adicional, fluidez, tempo de percurso, conforto). E alguns
voltaram à Bandeirantes.
Os caminhões a mais resultam desse fenômeno de acomodação -e não do crescimento do fluxo.
Não há risco de congestionamento iminente da Bandeirantes -algo que deverá
ser mais lento, devido ao aumento da atividade econômica e do crescimento da frota.
O próprio Rodoanel, com
seu inegável alívio, estará saturado em pouco mais de um
ano, segundo projeção do
economista Ciro Biderman,
professor da FGV.
Haverá também, em um
futuro próximo, um agravamento da mobilidade na cidade e na Grande SP.
Isso porque o Rodoanel estimula exploração imobiliária no entorno, ampliando a
mancha urbana e aumentando o deslocamento ao centro
expandido, onde a maioria
da população trabalha.
Apenas o trecho sul custou
o equivalente a 20 km de metrô, podendo-se assim estimar que o Rodoanel custe o
equivalente a 80 km de metrô, bem mais do que os 65
km de que a cidade dispõe.
Juntando esses quilômetros não construídos de metrô com quilômetros gastos
em túneis, viadutos e alargamento de vias nos últimos 30
anos (e que não resolveram a
mobilidade), podemos estimar que deixamos de construir 200 km de metrô.
Isso sem considerar o orçamento do "trem bala" São
Paulo-Rio (equivalente a 170
km de metrô) e veículos leves
sobre trilhos/pneus planejados (para que leves, se a demanda é pesada?).
A mobilidade humana em
SP, com o volume carregado
de impostos, deveria ser melhor. Não falta dinheiro. Falta foco no problema: metrô
no centro expandido, integrado a trens de subúrbio e
corredores de ônibus.
SERGIO EJZENBERG é engenheiro e mestre
em transportes pela Poli-USP
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