São Paulo, quarta-feira, 23 de junho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GILBERTO DIMENSTEIN

Escambo digital


"É como se vivêssemos numa pequena cidade de interior, mas com todos os recursos digitais"


Imagine um bairro em que as pessoas possam interagir exibindo, numa rede social, os artigos que estão lendo na internet. Diariamente, cada usuário armazenaria em seu perfil uma coleção de textos. Depois, as pessoas poderiam marcar um encontro para debater os artigos ou trocar livros em algum lugar acessível a pé: um café, uma praça, um parque ou um cinema. "É como se vivêssemos numa pequena cidade de interior, mas com todos os recursos digitais", reflete o designer gráfico Helder Araújo.
Essa mistura do mundo digital com o presencial se harmoniza perfeitamente com o prazer de Helder em inventar na internet. Foi ele o responsável por trazer para o Brasil o TED (Technology, Entertainment, Design), uma experiência nascida na Califórnia (EUA) que reúne, em escala planetária, inovadores que querem divulgar suas invenções.
No início, a ideia da fundação (uma organização sem fins lucrativos) era promover conferências nas áreas de tecnologia e design, mas logo o trabalho do grupo ganhou grande popularidade e o leque de temas abordados pelos palestrantes passou a abranger praticamente todas as áreas da ciência e da cultura.
Neste ano, Helder ganhou repercussão mundial graças à plataforma que ajudou a desenvolver que permite aos cidadãos usar a rede para votar nos projetos lançados no Congresso. "Sou dos que acreditam no poder da educação informal."

 

Helder teve uma vivência escolar um tanto incomum em Divinópolis, cidade do interior de Minas Gerais, onde nasceu. Não apenas sua mãe mas também suas três irmãs eram professoras. Uma delas foi sua professora na escola e queria mostrar para a classe que tinha isenção. "Ela me tratava com mais dureza."
Fez faculdade em Belo Horizonte e, depois, mudou-se para a Itália, onde estudou design gráfico. Não demorou muito a se encantar com a tecnologia da informação. Quando se mudou para São Paulo, ajudou a criar a plataforma denominada Votenaweb. "Eu vi como minha geração estava distante da política e decidi inventar alguma coisa que tornasse possível acompanhar e até interferir nas votações."
Por ser um mecanismo simples e barato, o programa recebeu o apoio da ONU, que decidiu disseminá-lo, atraindo o interesse de mais países.

 

Neste momento, Helder está desenvolvendo um site de busca (Busk) voltado a encontrar artigos. Cada um poderá deixar as consultas armazenadas em seu perfil para que sejam compartilhadas pela rede de amigos.
Veio, então, o projeto de criar um aplicativo para agregar tribos não apenas por áreas de interesse mas também por região geográfica. Os encontros virtuais iriam para o mundo real, mas manteriam um toque provinciano. Daí a ideia de criar apenas uma categoria por bairro para que se facilitasse o encontro presencial. Em dois meses, o programa estará em fase de testes na região de Pinheiros, onde, na semana passada, ele instalou seu escritório.

 

É um pouco como se Divinópolis viesse para São Paulo -e com um jeito de escola sem muros e sala de aula.

gdimen@uol.com.br


Texto Anterior: Análise: Inegável alívio trazido pelo Rodoanel é temporário
Próximo Texto: A cidade é sua
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.