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REI DOS ANIMAIS
Sem estrutura para manter 55 felinos abandonados, órgão federal apela para ONGs e iniciativa privada
Ibama busca abrigo para leões sem teto
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de oito anos a serviço de
um circo, Gaya foi abandonada
por seus donos. O resultado da
"vida de artista": ela não parava
em pé por causa de uma forte inanição, tinha a gengiva gangrenada
por tentar comer sem os dentes
(que foram arrancados como medida de segurança), e uma de suas
patas estava bastante infeccionada, em consequência da extirpação negligente das garras.
Recolhida pelo Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis), ela engrossou, por um tempo, a lista dos 55 leões sem teto,
cujo destino é incerto.
Assim como Gaya, os animais
foram deixados para trás por circos, tomados de seus donos por
causa de maus-tratos ou rejeitados por ex-criadores, mas não podem ir para os parques e reservas
nacionais porque são considerados exóticos -não fazem parte
da fauna brasileira.
Como não tem responsabilidade legal sobre os leões nem recursos para mantê-los, o Ibama tenta
encontrar abrigos para eles.
"Cada leão come 5 kg de carne
por dia. Por estarem com a saúde
debilitada, precisam de vacinas e
exames caros, como o que identifica a Aids felina. Alguns estão tão
doentes, que têm de ser submetidos à eutanásia. E para isso, é preciso verba", diz Ana Maria Freire
Antunes, chefe do Centro Nacional de Pesquisa para Conservação
de Predadores Naturais.
O problema pode ficar ainda
mais sério. Tramitam atualmente
no Congresso Nacional 17 projetos de lei que proíbem a exibição
de animais em circos, o que pode
significar, segundo cálculos de
Ana Maria, pelo menos mais 120
leões e 70 tigres abandonados.
A saída adotada pelo Ibama até
agora tem sido recorrer a ONGs
-que quase nunca têm recursos
para manter os bichos-, a zoológicos -que, quando já não estão
superlotados, têm dificuldade em
aceitar animais tão degradados fisicamente- e às próprias unidades do órgão espalhadas pelo país.
Gaya teve sorte. Foi encaminhada para o Rancho dos Gnomos,
uma área de 35 mil m2 na cidade
de Cotia (Grande SP), que tem licença do Ibama e quer se tornar o
primeiro santuário ecológico brasileiro. Lá a ex-leoa de circo se
juntou aos outros quase 300 animais e a uma família de mais quatro leões e um tigre. Ela já anda
normalmente, teve a gengiva suturada e a pata curada.
"Nós receberíamos todos os
leões, mas manter o rancho está se
tornando inviável. Temos, em
planta, um projeto com toda a estrutura necessária para delimitar
áreas para cada animal, mas não
conseguimos tirar do papel. Poderíamos comprar uma área vizinha de 121 mil metros quadrados,
mas precisamos de apoio oficial",
afirma Silvia Pompeu, 40, dona
do rancho que recebe bichos sem
teto e maltratados pelo convívio
com pessoas há 12 anos.
Além da comida fornecida pelo
Carrefour e pelo grupo Pão de
Açúcar, o local se mantém exclusivamente de doações e da tolerância dos credores. "Nossa conta
em pet shop ultrapassa R$ 10 mil,
e o total de dívidas está em cerca
de R$ 60 mil", diz Silvia.
"O problema dos animais abandonados, que trazem riscos à saúde pública e à segurança das pessoas, é de todos nós, não dá para
deixar tudo nas costas do Ibama,
mas também não dá para o terceiro setor fazer tudo", resume a jornalista e enfermeira veterinária.
O Ibama tenta agora preparar
uma minuta de projeto de lei que
regulamente a figura dos santuários ecológicos, de forma que eles
possam ser licenciados e ter como
buscar financiamento. A idéia é
apresentar o projeto à Câmara
dos Deputados no início de 2003.
"Com recursos, receberíamos
até tiranossauros rex!", diz Silvia.
Para conhecer melhor, ajudar o Rancho
dos Gnomos ou agendar visitas, acesse o
site www.ranchodosgnomos.org.br
ou ligue 0/xx/11/4616-2703.
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