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Num só trilho
Projetos preveem 100 km de linha de monotrilhos na cidade
EVANDRO SPINELLI
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O paulistano deve se acostumar nos próximos anos com um
transporte coletivo típico de
parques de diversão --um tipo
de trem chamado de monotrilho, que usa pneus e trafega em
vias elevadas (como pequenos
viadutos exclusivos).
Prefeitura de São Paulo e governo do Estado passaram a
projetar linhas de monotrilho
parecidas com as da Disney
(EUA) e a priorizá-las como alternativa mais barata do que
metrô, de menor impacto nas
vias do que corredores de ônibus
-e, principalmente, de implantação rápida, por "economizar"
em desapropriações.
O uso dessa tecnologia no
transporte de massa é controverso entre os técnicos -há
mais de 50 monotrilhos espalhados no mundo, mas ele nunca teve amplo espaço nas principais metrópoles desenvolvidas.
Estudos diversos das gestões
José Serra (PSDB) e Gilberto
Kassab (DEM) consideram a
possibilidade de implantar
mais de 100 km desse transporte nos próximos cinco anos.
É mais que a rede de metrô
atual, que tem 61 km -e pode
se equiparar a ela mesmo depois da expansão prevista até
2014.
Os primeiros monotrilhos a
serem implantados, se os prazos forem cumpridos, serão a
primeira fase da extensão do
Expresso Tiradentes (ex-Fura-Fila) da Vila Prudente a
Oratório e a ligação da estação
São Judas do metrô ao aeroporto de Congonhas, no final
de 2010.
Os projetos no Brasil têm
sido impulsionados por empresas japonesas (como a Hitachi), que dominam esse sistema no mundo -mais de
metade das redes existentes
ou planejadas são da Ásia,
como no Japão e China.
Duas linhas no país já chegaram a ser implantadas, mas
não acabaram bem-sucedidas.
Em Poços de Caldas (MG), a
linha de monotrilho nunca funcionou adequadamente e está
desativada desde 2003, quando
parte das torres desmoronou. O
Barra Shopping (RJ) usou a tecnologia no transporte interno,
mas também a desativou.
Fura-Fila
O discurso sobre a melhoria
do transporte coletivo em São
Paulo priorizou nos últimos
anos a implantação de metrô e
de corredores de ônibus -além
da revitalização dos trens.
A principal inovação a esses
modos foi introduzida por Celso Pitta (1997-2000) com a proposta do Fura-Fila -que acabou fracassada por custos elevados e paralisação das obras.
A ideia original do Fura-Fila
era a de um ônibus guiado de
forma mecânica entre canaletas e em pistas elevadas. O monotrilho é diferente tanto por
ser outro tipo de veículo como
por ter uma estrutura bem
mais estreita -os trens são encaixados num trilho central (de
concreto ou metálico).
Técnicos avaliam que os
principais atrativos políticos
para os monotrilhos são:
1) A possibilidade de implantação rápida, sem desapropriar
muitos imóveis ou de construir
grandes pontes e viadutos;
2) O fato de ser mais barato
que metrô e mais atraente que
corredor de ônibus -podendo
ser mais rápido e confortável;
3) Tende a ser pouco prejudicial aos carros, por não interferir muito nas vias existentes.
Obstáculos
As gestões Serra e Kassab
têm em andamento projetos de
obras viárias (como túneis e
novas avenidas) voltadas ao
transporte individual na cidade
e que superam R$ 4 bilhões.
Estima-se que um corredor
de ônibus moderno custe US$
20 milhões por km, contra até
US$ 50 milhões do monotrilho
e US$ 100 milhões do metrô.
Mas especialistas fazem ressalvas e citam alguns obstáculos que impediram a difusão do
monotrilho no resto do mundo.
O engenheiro e consultor Peter Alouche cita como "complicômetros" as dificuldades para
mudança do veículo entre as
vias (diferentemente do que
ocorre com os trilhos na superfície) e para retirar os passageiros em situações de emergência. "Há soluções técnicas, mas
não são tão simples", afirma.
"O transporte sobre trilhos
tradicional envolve uma tecnologia que já se conhece no Brasil há muito tempo. O monotrilho é difundido mais como
transporte de lazer. Na linha do
metrô até Congonhas, tudo
bem. Mas, na zona leste, a demanda é muito grande", diz.
"Não adianta só querer aquilo que for mais rápido de fazer e
mais barato. Para alta demanda, metrô e trem são mais adequados", defende José Geraldo
Baião, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô, citando também
os impactos urbanísticos do
monotrilho (devido à presença
das estruturas elevadas).
"As cidades precisam de sistemas complementares, para
cada tipo de demanda. Em alguns casos, pode ser até um
ônibus a melhor opção", afirma
Rezier Possidente, gerente da
Siemens (grupo que participou
de monotrilhos na Alemanha).
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