São Paulo, domingo, 23 de agosto de 2009

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Num só trilho

Projetos preveem 100 km de linha de monotrilhos na cidade

EVANDRO SPINELLI
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O paulistano deve se acostumar nos próximos anos com um transporte coletivo típico de parques de diversão --um tipo de trem chamado de monotrilho, que usa pneus e trafega em vias elevadas (como pequenos viadutos exclusivos).
Prefeitura de São Paulo e governo do Estado passaram a projetar linhas de monotrilho parecidas com as da Disney (EUA) e a priorizá-las como alternativa mais barata do que metrô, de menor impacto nas vias do que corredores de ônibus -e, principalmente, de implantação rápida, por "economizar" em desapropriações.
O uso dessa tecnologia no transporte de massa é controverso entre os técnicos -há mais de 50 monotrilhos espalhados no mundo, mas ele nunca teve amplo espaço nas principais metrópoles desenvolvidas.
Estudos diversos das gestões José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (DEM) consideram a possibilidade de implantar mais de 100 km desse transporte nos próximos cinco anos.
É mais que a rede de metrô atual, que tem 61 km -e pode se equiparar a ela mesmo depois da expansão prevista até 2014.
Os primeiros monotrilhos a serem implantados, se os prazos forem cumpridos, serão a primeira fase da extensão do Expresso Tiradentes (ex-Fura-Fila) da Vila Prudente a Oratório e a ligação da estação São Judas do metrô ao aeroporto de Congonhas, no final de 2010.
Os projetos no Brasil têm sido impulsionados por empresas japonesas (como a Hitachi), que dominam esse sistema no mundo -mais de metade das redes existentes ou planejadas são da Ásia, como no Japão e China.
Duas linhas no país já chegaram a ser implantadas, mas não acabaram bem-sucedidas.
Em Poços de Caldas (MG), a linha de monotrilho nunca funcionou adequadamente e está desativada desde 2003, quando parte das torres desmoronou. O Barra Shopping (RJ) usou a tecnologia no transporte interno, mas também a desativou.

Fura-Fila
O discurso sobre a melhoria do transporte coletivo em São Paulo priorizou nos últimos anos a implantação de metrô e de corredores de ônibus -além da revitalização dos trens.
A principal inovação a esses modos foi introduzida por Celso Pitta (1997-2000) com a proposta do Fura-Fila -que acabou fracassada por custos elevados e paralisação das obras.
A ideia original do Fura-Fila era a de um ônibus guiado de forma mecânica entre canaletas e em pistas elevadas. O monotrilho é diferente tanto por ser outro tipo de veículo como por ter uma estrutura bem mais estreita -os trens são encaixados num trilho central (de concreto ou metálico).
Técnicos avaliam que os principais atrativos políticos para os monotrilhos são:
1) A possibilidade de implantação rápida, sem desapropriar muitos imóveis ou de construir grandes pontes e viadutos;
2) O fato de ser mais barato que metrô e mais atraente que corredor de ônibus -podendo ser mais rápido e confortável;
3) Tende a ser pouco prejudicial aos carros, por não interferir muito nas vias existentes.

Obstáculos
As gestões Serra e Kassab têm em andamento projetos de obras viárias (como túneis e novas avenidas) voltadas ao transporte individual na cidade e que superam R$ 4 bilhões.
Estima-se que um corredor de ônibus moderno custe US$ 20 milhões por km, contra até US$ 50 milhões do monotrilho e US$ 100 milhões do metrô.
Mas especialistas fazem ressalvas e citam alguns obstáculos que impediram a difusão do monotrilho no resto do mundo.
O engenheiro e consultor Peter Alouche cita como "complicômetros" as dificuldades para mudança do veículo entre as vias (diferentemente do que ocorre com os trilhos na superfície) e para retirar os passageiros em situações de emergência. "Há soluções técnicas, mas não são tão simples", afirma.
"O transporte sobre trilhos tradicional envolve uma tecnologia que já se conhece no Brasil há muito tempo. O monotrilho é difundido mais como transporte de lazer. Na linha do metrô até Congonhas, tudo bem. Mas, na zona leste, a demanda é muito grande", diz.
"Não adianta só querer aquilo que for mais rápido de fazer e mais barato. Para alta demanda, metrô e trem são mais adequados", defende José Geraldo Baião, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô, citando também os impactos urbanísticos do monotrilho (devido à presença das estruturas elevadas).
"As cidades precisam de sistemas complementares, para cada tipo de demanda. Em alguns casos, pode ser até um ônibus a melhor opção", afirma Rezier Possidente, gerente da Siemens (grupo que participou de monotrilhos na Alemanha).


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