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ANÁLISE
O Rio das Olimpíadas e da Copa espera as respostas
MICHEL MISSE
ESPECIAL PARA A FOLHA
Foi a segunda vez em seis
anos que os moradores de
classe média alta de São
Conrado sofreram com um tiroteio cerrado que levou pânico ao bairro.
O primeiro conflito, em
2004, envolveu uma guerra
entre as facções do tráfico
que controlavam as favelas
da Rocinha, a maior do Rio, e
sua vizinha, a do Vidigal.
O segundo, na manhã do
último sábado, decorreu do
suposto encontro casual de
policiais com carros de traficantes da Rocinha que voltavam de uma festa no Vidigal.
Nas duas vezes, o conflito
saiu de seu território usual
para derramar-se perigosamente, "fora de lugar", nas
imediações de prédios e condomínios que abrigam parte
da população de melhor renda da cidade. O que na primeira vez foi inusual, um
descontrole dos personagens, desta vez não parece
ter sido tão casual assim.
Festas e bailes são comuns
nas favelas e conjuntos habitacionais de baixa renda, incluindo o tráfego de pessoal
em veículos coordenados e
com "seguranças" armados,
para se defender de seus inimigos de outras facções ou
de policiais.
Raramente uma patrulha
policial enfrenta esses "bondes", seja por desequilíbrio
na relação de forças, seja por
um acordo tácito em que os
próprios traficantes evitam,
instrumentalmente, o confronto. Muitas vezes, eles sabem que "é burrice" levar o
conflito para o asfalto. Por
que, então, desta vez acabou
sendo diferente?
Se tivermos uma investigação policial séria sobre o
que aconteceu, teremos respostas a algumas perguntas
que insistem em permanecer. Foi a primeira vez que
patrulhas da PM viram um
"bonde" naquele trecho? Os
traficantes desta vez estavam
interessados no confronto,
por alguma razão? Há algum
fato novo, nesse caso, relacionado à instalação das
UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) em favelas da zona sul do Rio?
Os policiais foram atacados primeiro ou, pelo contrário, decidiram, mesmo sem
tempo de pedir reforços, enfrentar heroicamente os traficantes que estavam em número superior?
A avaliação das causas e
efeitos deste confronto "fora
de lugar" pode reservar surpresas. O Rio das Olimpíadas
e da Copa do Mundo espera
as respostas.
MICHEL MISSE é professor de Sociologia e
coordenador do Núcleo de Estudos da
Cidadania, Conflito e Violência Urbana da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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