São Paulo, segunda-feira, 23 de agosto de 2010

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ANÁLISE

O Rio das Olimpíadas e da Copa espera as respostas

MICHEL MISSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Foi a segunda vez em seis anos que os moradores de classe média alta de São Conrado sofreram com um tiroteio cerrado que levou pânico ao bairro.
O primeiro conflito, em 2004, envolveu uma guerra entre as facções do tráfico que controlavam as favelas da Rocinha, a maior do Rio, e sua vizinha, a do Vidigal.
O segundo, na manhã do último sábado, decorreu do suposto encontro casual de policiais com carros de traficantes da Rocinha que voltavam de uma festa no Vidigal.
Nas duas vezes, o conflito saiu de seu território usual para derramar-se perigosamente, "fora de lugar", nas imediações de prédios e condomínios que abrigam parte da população de melhor renda da cidade. O que na primeira vez foi inusual, um descontrole dos personagens, desta vez não parece ter sido tão casual assim.
Festas e bailes são comuns nas favelas e conjuntos habitacionais de baixa renda, incluindo o tráfego de pessoal em veículos coordenados e com "seguranças" armados, para se defender de seus inimigos de outras facções ou de policiais.
Raramente uma patrulha policial enfrenta esses "bondes", seja por desequilíbrio na relação de forças, seja por um acordo tácito em que os próprios traficantes evitam, instrumentalmente, o confronto. Muitas vezes, eles sabem que "é burrice" levar o conflito para o asfalto. Por que, então, desta vez acabou sendo diferente?
Se tivermos uma investigação policial séria sobre o que aconteceu, teremos respostas a algumas perguntas que insistem em permanecer. Foi a primeira vez que patrulhas da PM viram um "bonde" naquele trecho? Os traficantes desta vez estavam interessados no confronto, por alguma razão? Há algum fato novo, nesse caso, relacionado à instalação das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) em favelas da zona sul do Rio?
Os policiais foram atacados primeiro ou, pelo contrário, decidiram, mesmo sem tempo de pedir reforços, enfrentar heroicamente os traficantes que estavam em número superior?
A avaliação das causas e efeitos deste confronto "fora de lugar" pode reservar surpresas. O Rio das Olimpíadas e da Copa do Mundo espera as respostas.


MICHEL MISSE é professor de Sociologia e coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da Universidade Federal do Rio de Janeiro.


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